Definida a localização do novo aeroporto de Lisboa, com a escolha do Campo de Tiro de Alcochete como foi anunciado esta semana, o destino da TAP é outra questão que deve ser colocada em cima da mesa, de acordo com a opinião de Rui Quadros, especialista em gestão aeronáutica com experiência na Iberia, PGA e Grupo SATA e professor no ISEC, expressa em entrevista ao JE.
O novo aeroporto será no Campo de Tiro de Alcochete e será designado Aeroporto Luís de Camões, sendo que Portela é para fechar; avança a terceira travessia sobre o Tejo e o Governo vai pedir à Infraestruturas de Portugal a conclusão dos estudos sobre alta velocidade Lisboa-Madrid, tal como anunciou esta terça-feira o primeiro-ministro.
Sobre esta decisão, o especialista considera positivo que se tenha decidido pela localização mas adverte que há outra questão que já deveria estar em cima da mesa: "Menos mal, não discordo da situação geográfica e daquilo que se pretende fazer com esta escolha. É uma vitória do Governo mas o mais importante é perguntar o que vai acontecer à TAP".
No entender de Rui Quadros, "é impossível não deixar de pensar na TAP e como fica a companhia que vai ser responsável por agregar a maior parte dos movimentos no aeroporto". Para este especialista, existem várias reflexões que devem ser equacionadas: "Uma coisa é virem passageiros de Frankfurt para Lisboa e virem desfrutar do país e outra é virem os mesmos passageiros para depois irem para o Brasil. No primeiro caso, a TAP fomenta o turismo em Portugal, no segundo vai fomentar o turismo no Brasil. Vai fomentar o seu core business que é ser uma companhia de hub e se é para crescer, o que é representa a TAP nestas duas realidades?", questiona.
O especialista em gestão aeronáutica recorda a importância de perceber que "com Madrid aqui ao lado" e com os comboios de Alta Velocidade a fazer o trajeto entre as capitais dos dois países da Península Ibérica, "toda a Europa está a reduzir o número de voos em curta distância privilegiando a ferrovia e estamos a dizer que vamos aumentar o número de aviões só para dizer que o número de passageiros vai aumentar. Isso a mim não me convence porque não sei o que querem fazer com a TAP".
Com a Iberia a moldar a sua estrutura para transportar 90 milhões de passageiros por ano, como foi anunciado em janeiro deste ano, Rui Quadros perspectiva que Madrid fique "extremamente competitiva até ao nível do handling e questiona como vai a TAP posicionar-se nesse contexto: "Vamos ter uma TAP super subsegmentada e um turismo de nicho? Se é isso que querem têm que trabalhar para isso mas se nas capitais estão a reduzir o número de turistas, em Portugal vamos aumentar? Há aqui coisas que deviam ser explicadas".
Sobre o novo aeroporto de Lisboa, este especialista com experiência na Iberia, PGA e Grupo SATA questiona o que significa "definir um aeroporto de 90 a 100 milhões de passageiros até 2050" e se essa dimensão quer dizer "que iremos ter uma TAP brutal ou então vamos ter a Lufthansa com um mini hub em Lisboa", sugere
"Se é para ter a TAP na esfera do Estado, então a companhia tem que ser extremamente agressiva e não pode ter estes desequilíbrios como ficou demonstrado no primeiro trimestre. Estes tempos são fantásticos para as companhias ganharem dinheiro e não para entrarem em retrocesso", realça o professor no ISEC.
Relativamente às companhias low cost, Rui Quadros é taxativo: "Não vale a pena ter uma super estrutura". Este especialista quer ver o que vai acontecer ao Aeroporto Humberto Delgado: "Quando e se vão desmantelar. Se o aeroporto de Alcochete for caro, as companhias low cost não vão para lá ou então, à velha maneira portuguesa, subsidiamos e vai para lá tudo".