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"Ainda é cedo para tirar conclusões de desaceleração do investimento em startups"

Pedro Sacramento, responsável de Programas e Operações da Startup Portugal, diz que algumas rondas de financiamento ainda podem não estar fechadas e, tradicionalmente, o segundo semestre traz montantes maiores. A menos de três meses da Web Summit, convida novas empresas a juntarem-se à iniciativa que as prepara para a conferência.

O responsável de Programas e Operações da Startup Portugal, Pedro Sacramento, diz ao Jornal Económico que os cerca de 150 milhões de euros investidos nas startups portuguesas este ano, menos de metade de 2022, não são um sinal de alerta, até porque o segundo semestre costuma trazer melhores notícias para o capital de risco. A menos de três meses da Web Summit, o principal porta-voz do programa que prepara os empreendedores para a cimeira tecnológica convida novas empresas a inscreverem-se. O prazo das inscrições para este "caminho" até ao Parque das Nações termina já no final do mês.

Estamos em pleno verão, mas os últimos meses foram várias vezes classificados como o “inverno das startups”. Há previsões para que a primavera volte ao ecossistema?
É verdade, não é segredo nenhum, que houve alguma contração em muitos mercados, mas já vemos muitas boas notícias, temos muitos bons exemplos de financiamento de startups, negócios a prosperar e startups novas a aparecer. Portanto, tudo nos leva a crer que, mais uma vez – até impulsionado por um evento como a Web Summit em Portugal - continuará o dinamismo. É a maior conferência de tecnologia do mundo no nosso país.

Quanto capital foi levantado por essas empresas no primeiro semestre?
A informação oficial que temos, referente ao investimento em startups portuguesas em 2023, é a que pode ser consultada no dashboard da área da Startup Portugal no Dealroom: aproximadamente 150 milhões de euros YTD [Year to Date]. Ainda é cedo para tirar conclusões face a uma desaceleração do investimento, uma vez que algumas rondas ainda podem não estar fechadas e refletidas na plataforma e, tradicionalmente, o segundo semestre traz-nos rondas de investimento maiores. A estes dados juntam-se as operações privadas, cujos números não são revelados, ou a que temos acesso no fecho do ano, pelo que a expectativa se mantém positiva.

Já terminaram o processo de seleção das startups que vão receber os vouchers do PRR? Quando é que haverá uma nova “call” para estes apoios?
Queria só fazer um preâmbulo em relação a essa pergunta. Na Startup Portugal, temos uma clara segregação de funções quanto a essa matéria, até por força da nossa diferente relação com as startups. É o nosso departamento de Investment & Subsidies [Investimento e Subsídios] quem trata desta área do PRR [Plano de Recuperação e Resiliências], nomeadamente dos vouchers verdes e digitais para startups e incubadoras. As avaliações já terminaram e as startups estão a ser contactadas agora e nos próximos tempos pelas entidades que compõem este grupo de acompanhamento dos vouchers do PRR. A esta fase de avaliações terminou, agora há alguma burocracia de contacto e entrega dos valores, de acordo com os pressupostos da medida, e espera-se que abra a breve trecho uma nova call porque existe mais dotação. Esse segundo aviso é expectável que seja lançado.

Faltam menos de três meses para mais uma edição da Web Summit em Lisboa. Já se estão a preparar além deste programa? O que se pode esperar ano?
Em 2021 criámos um prémio de desempenho, de 5 mil euros, para a startup que a equipa da Startup Portugal achou que procurou tirar o melhor partido do bootcamp prévio e do evento em si, explorando ao máximo os benefícios que lhe foram proporcionados. No ano passado acrescentámos o prémio de startup mais promissora, de 15 mil euros. Estes prémios, que se traduziram numa maior visibilidade para as startups na conferência, vão manter-se e juntamos este ano outro para a track especial de startups com a maior contribuição para a diversidade, inclusão e impacto social, também de 5 mil euros. Em 2022, também introduzimos uma dinâmica muito diferente na presença de Portugal, das entidades públicas portuguesas. A Startup Portugal e a Câmara de Lisboa, representando o país em conjunto, juntaram esforços e uniram os espaços físicos que habitualmente estavam separados, e criaram um stand único, que mais que dobrou o que existia.

Continuará nesses moldes?
Vamos repetir a fórmula com melhoramentos. O espaço criou um conjunto de oportunidades adicionais, porque são dois hosts que, habitualmente, os visitantes do evento querem conhecer e saber quais as oportunidades enquanto startup, talento e investidor. Faz sentido que estejamos juntos, porque podemos dar uma visão do ecossistema municipal e nacional de startups. A união permitiu ter um dia de exposição das startups adicional àquele que têm por conta do programa Alpha da Web Summit. Este ano não só vamos alargar o número de startups que podem se exibir dentro do nosso stand como vamos dar mais palco às startups no palco que temos no stand de Lisboa e de Portugal. Será uma versão 2.0, otimizada.

Em breve arranca o programa Road 2 Web Summit (R2WS). Em que medida é mais do que um simples passe de entrada na conferência?
O modelo tem sido mais ou menos constante, mas temos procurado que o programa evolua, especialmente, qualitativamente. Nestes últimos anos, temos trazido inovações anuais que dão não só melhor preparação às startups como oportunidades. Não deixa de ter um acesso facilitado – fast lane - à Web Summit. Temos procurado duplicar as vagas que tínhamos no âmbito desta parceria e apoiar em 50% mais startups do que apoiar na totalidade a maioria das startups, porque assim apoiamos mais as que já estavam interessadas em ir ao evento. É melhor distribuirmos bem os nossos ovos, por quem lhes afere mais valor. Além do pack de presença a metade do preço que conseguimos dar, a Startup Portugal criou um bootcamp de preparação, que tem vindo a afinar. Tipicamente, é um workshop de dois dias, onde definem os objetivos que têm e partilhamos conteúdos na área de investimento, media e storytelling, em função do público, inovação colaborativa, etc.

Então, porque é que o número de candidaturas ainda é residual?
Não diria que é residual… Passámos as 100 candidaturas. Estamos mais ou menos em metade das candidaturas. Estou convencido de que chegaremos ao final do período de candidaturas com a mesma quantidade de candidatos. O que acontece também é que nós procuramos sempre dar lugar a novas startups, que nunca tenham feito o programa. Para um programa que já apoiou cerca 750 startups em fase early-stage também tem aqui um desafio adicional ao renovar-se todos os anos. O prazo de inscrições é o final deste mês.

Vão prorrogar o período de inscrições?
Esta já é uma fase de alargamento. Temos de criar metas para que as pessoas não deixem este processo para o fim, para termos, em conjunto com a equipa da Web Summit, capacidade e tempo de fazer uma de avaliação dos candidatos e o onboarding. As startups também precisam de tempo para se prepararem… É evidente que quanto mais cedo melhor, mas também já sabemos que quanto mais perto da data do deadline mais inscrições aparecem.