Num contexto em que todas as vitórias diplomáticas são uma vitória interna para Kamala Harris, na sua corrido contra Donald Trump, a administração democrata da Casa Branca aumentou o grau de pressão sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e conseguiu aquilo que parece ser um pequeno avanço, no sentido de um acordo com o Hamas. Ao cabo de três horas de reunião, com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, Netanyahu divulgou uma declaração, apoiando a mais recente "proposta de ponte" dos Estados Unidos, apresentada a Israel e transmitida ao Hamas, no final das negociações que ocorreram em Doha na semana passada.
"O primeiro-ministro reiterou o compromisso de Israel com a atual proposta norte-americana sobre a libertação dos reféns, que leva em consideração as necessidades de segurança de Israel, nas quais insiste fortemente", disse o gabinete do primeiro-ministro, em comunicado divulgado em hebraico e inglês. Foi a primeira vez que Netanyahu se mostrou favorável ao documento – depois de, num primeiro momento, ter sido muito cauteloso. "Contém componentes que são aceitáveis para Israel". Refere a nota que comenta o acordo.
Mas, como o Hamas rejeitou a fórmula dos Estados Unidos ainda no domingo, acusando Netanyahu de "estabelecer novas condições e exigências", a aceitação final do acordo ainda está muito longe.
A proposta elaborada pelos Estados Unidos para permitir a finalização de um acordo, que ‘troque’ os reféns por um cessar-fogo, tentava encontrar uma solução para o facto de haver o envio contínuo de forças israelitas para a fronteira Gaza-Egipto e para o chamado Corredor Netzarim (que atravessa Gaza). A proposta norte-americana favorece a presença militar israelita na fronteira Gaza-Egipto (o chamado Corredor Philadelphia). De acordo com o jornal libanês “Al-Akhbar”, Israel terá concordado em reduzir gradualmente o número de soldados destacados no Corredor Philadelphia, enquanto, em troca, o Cairo concordou em não estabelecer um cronograma para a retirada completa das suas tropas estacionadas nas imediações.
Blinken insistiu em que é o momento para o acordo. "É hora de isto ser feito. Também é hora de garantir que ninguém tome medidas que possam atrapalhar este processo. Portanto, estamos a procurar garantir que não haja escalada, que não haja provocações, que não haja ações que de alguma forma possam afastar-nos de conseguir o acordo e nesse caso ver a escalada do conflito para outros lugares e com maior intensidade”. "É hora de todos aceitarem o ‘sim’ e deixar de procurar desculpas para dizer ‘não’", enfatizou.
Do outro lado, a convicção é que as negociações para o cessar-fogo e um acordo para a libertação dos reféns estão paralisadas, apesar de os Estados Unidos "pintarem um quadro cor-de-rosa", disse um representante do Hamas na Turquia, citado pelos jornais do país. De acordo com fontes diplomáticas turcas, o Hamas entrou em contato com a Turquia, no fim-de-semana, e informou que o processo de negociação com Israel está parado e que o otimismo manifestado pelos Estados Unidos não tem correspondência com a realidade.
De acordo com o Hamas, as condições apresentadas por Israel ficaram aquém do cenário apoiado pelo Conselho de Segurança da ONU, em 10 de junho, e das condições aprovadas pelo Hamas, em 2 de julho. O Hamas diz que Israel quer impor a presença no Corredor Philadélfia, controlar postos no Corredor Netzarim, monitorizar os moradores de Gaza que passam do sul para o norte e quer ainda o veto de 100 nomes de uma lista de cerca de 300 prisioneiros que o Hamas pretende ver libertados. De acordo com o Hamas, o objetivo final do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, é ganhar tempo para continuar as operações militares.
O secretário de Estado continua pelo Médio Oriente, para se encontrar com o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Depois disso, seguirá para o Egipto, onde terá encontros com as outras partes que fazem parte do restrito grupo de negociadores.
Entretanto, o diplomata britânico Mark Smith, que deixou o cargo que ocupava na embaixada de Dublin, diz que levantou preocupações sobre a venda de armas a Israel, junto do secretário das Relações Exteriores, e que o Estado hebraico está "flagrante e regularmente" a cometer crimes de guerra em Gaza. Smith renunciou recentemente à carreira diplomática, devido ao fracasso dos ministros em proibirem a venda de armas ao governo de Benjamin Netanyahu. Mark Smith era oficial de contraterrorismo na embaixada britânica em Dublin.