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“A VdA é e pretende continuar a ser uma sociedade de advogados”

a Com a multidisciplinaridade a ser cada vez mais uma realidade, Paula Gomes Freire admite parcerias com consultoras e outros ‘players’ sempre que isso crie valor para os clientes, mas acredita que o futuro da VdA passa por manter-se fiel à sua identidade como sociedade de advogados. Quanto a 2024, a líder da VdA está moderadamente otimista, apesar da incerteza.

Começo por lhe pedir um balanço daquilo que foi 2023, em termos de negócios e da actividade da firma.
Para a firma foi um ano extraordinário. Correspondeu a um ano muito desafiante no plano nacional e internacional e vimos emergir mais um grande conflito às portas da Europa. Vimos o nosso Governo entrar num processo de descontinuidade e, portanto, com os desafios que isso tudo coloca. Isto aumenta muito a incerteza. Isso é, aliás, aquilo a que tivemos de nos habituar nos últimos tempos. De facto, fazer previsões ou olhar para a frente tem esse enorme desafio da incerteza. Essa é uma grande realidade dos últimos tempos, desde a pandemia, a guerra na Ucrânia, a guerra no Médio Oriente, a inflação, as taxas de juro. Parece uma roleta russa em que o novo normal é este contexto. E, portanto, neste contexto, o que é que temos que fazer? Foco absoluto na qualidade do nosso serviço e nos interesses dos clientes, entregar o melhor de nós próprios, mobilizar as equipas, apostar nas pessoas, fazê-las crescer. É isso que me move e que nos preocupa todos os dias. E a verdade é que, de facto, os resultados acabam por chegar. E 2023 foi um ano que se caracterizou por este enorme desafio, enorme incerteza, enorme exigência, enorme foco e entusiasmo.

 

Este “novo normal” muito marcado pela incerteza faz com que os investimentos tenham de ser ponderados com outra calma?
É verdade. Todos os anos saem uma série de reports, nomeadamente nos Estados Unidos, e fica muito patente que, de facto, nas áreas transacionais, nas grandes transacções, o que tem existido é um período de algum abrandamento.

 

Constata-se que isso é realmente assim e é natural que seja, precisamente num contexto com estas características. No caso específico de Portugal e dos países com esta dimensão, muitas das grandes transacções são muito fomentadas pelos fundos de private equity. E, num contexto de taxas de juro elevadas, é natural que haja aqui um abrandamento.

 

A era do dinheiro barato acabou.
Acho que acabou. Isso não quer dizer que não volte a acontecer, mas aqueles tempos de taxas de juro negativas, como chegámos a ter, nem sequer eram normais. E tinham um impacto negativo naquilo que é a atividade da própria banca. Mas é onde estamos de facto, com uma inflação que parece contida, não é? Os sinais são positivos, embora depois, por outro lado, lá vêm os desafios do Mar Vermelho e do Médio Oriente. Há, outra vez, pressão nas cadeias de distribuição e na forma como isso volta a criar aqui alguma preocupação. Mas, enfim, esta política de aumento de taxas de juro parece ter funcionado e parece que atingimos um ponto de alguma tranquilidade ou uma expectativa de que as taxas não continuem a subir desenfreadamente. Esse parece ser o cenário para este ano, mas é como dizíamos há pouco: acho que é sempre impossível prever.

 

E que expetativas tem para a área do M&A em 2023?
É natural que seja um ano de alguma continuidade daquilo que foi 2023. Temos sempre a expetativa de que possa ser melhor. Acho que esta ideia de que a inflação está mais contida e que há uma estabilização das taxas de juro traz aqui alguma maior confiança, maior previsibilidade. Mas os saltos não são de um dia para o outro e, portanto, é natural que seja um ano de alguma continuidade, sempre com oportunidades. Em Portugal também estamos num timing difícil, uma vez que temos eleições daqui a dois meses e depois vamos ter, provavelmente, mais um orçamento rectificativo.

 

Olhando para as áreas de prática do escritório, quais são aquelas que esperam ter maior atividade este ano?
De facto, as áreas transacionais, apesar deste tempo de maior incerteza e de alguma expetativa, não deixam de ser áreas sempre âncora. E onde muita coisa acontece. E o imobiliário, o mercado de capitais, bancário e financeiro são áreas onde há sempre actividade. Na banca temos o tema do Novobanco, onde poderá haver novidades. A energia é um sector que, até pelas questões da transição energética, tem sido particularmente ativo e tem dado lugar a muitas oportunidades. Temos a expetativa também de vir a ter aqui algumas transacções importantes em Portugal, no contexto de alguns temas que estavam já anunciados antes das eleições e, portanto, acho que as áreas transacionais são sempre áreas com muitas oportunidades. E isto não é contraditório com aquilo que dizia há pouco relativamente a estarmos num período de alguma ponderação.

 

Portugal continua a ser interessante para os fundos estrangeiros, apesar deste contexto?
Sem dúvida. Aliás, acho que Portugal, apesar da queda do Governo e apesar de estarmos em período eleitoral, tem conseguido manter-se atrativo, por um lado pela sua posição geográfica, que, neste contexto mais incerto no plano geopolítico acaba por ser uma vantagem. Estamos um bocadinho na periferia. Isso joga a nosso favor.

 

Uma espécie de oásis...
Mantendo alguma capacidade de gerar confiabilidade no exterior, ou seja, por parte dos investidores. Aliás, acho que a recente subida de rating de Portugal no final do ano passado é um sinal disso mesmo, apesar da queda do Governo. Portanto, há aqui um contexto especial para Portugal.



Até agora falamos das áreas que beneficiam com as fases mais positivas do ciclo económico. E as outras? Por exemplo, restruturação de empresas e insolvências.

Não deixa de ser extraordinário que, num contexto de uma pandemia, não tenha havido um boom nas áreas das reestruturações. Mais uma vez isso é um sinal de alguma capacidade de resiliência. Por um lado, houve muitas medidas de apoio.

 

Mas também temos muitas empresas ‘zombie’
Sim, isso é de facto uma realidade no nosso país. Mas as coisas lá se vão aguentar. A realidade é que não tem sido uma área com um pico de crescimento. Há, no entanto, áreas que importa destacar, no contexto de transição energética e de emergência climática. E todo o pacote regulatório emergente no contexto ESG abre espaço para as áreas de ambiente e para os temas de governance, com uma força que não tinham no passado.