O risco de as máquinas ganharem vida própria e a criatura fugir ao controlo do criador, como na história de Frankenstein, é frequentemente evocado quando se fala do vertiginoso progresso da IA. A possibilidade de desenvolver máquinas sencientes – ou seja, com sensações iguais às humanas – já não é mera ficção científica. Há tecnólogos que admitem que os modelos de IA estão muito perto de adquirir consciência e um engenheiro da Google, Blake Lemoine, acredita mesmo que o chatbot LaMDA, desenvolvido pela empresa, já é uma máquina pensante e consciente.
Por enquanto, os modelos de IA dependem do reconhecimento de padrões, sem a interferência de emoções, como os humanos. Ora, como provou o neurocientista António Damásio, as emoções desempenham um papel crucial no raciocínio e na tomada de decisões. Não sendo sencientes, as máquinas de IA têm essa desvantagem na execução de funções que simulam a inteligência humana. Mas até quando? Robôs com consciência, como vemos nos filmes Sci-Fi, podem estar próximos, com a IA a suplantar a inteligência humana.
Tudo isto não passa, por ora, de especulação. Mas é cada vez mais forte a pressão para que as empresas tecnológicas desenvolvam os seus modelos de IA com maior transparência, para permitir o escrutínio público, e com maior prudência, para que não sejam dados passos indesejados e irreversíveis. Há um consenso generalizado em torno das virtudes e potencialidades da IA, sem que isso signifique uma menor perceção das suas ameaças. Muitas delas são já realidade, como a violação de dados, o desrespeito pela privacidade, a cibercriminalidade, a discriminação algorítmica ou a manipulação e desinformação.
Não obstante todas as questões securitárias, ético-morais, sociais e outras que a IA levanta hoje e poderá levantar mais adiante, o desenvolvimento desta tecnologia é imparável. Podemos e devemos exigir mais consciência, transparência e cautela, mas travar o progresso da IA afigura-se tão infrutífero como tentar segurar o vento com as mãos. Parece-me mais sensato e pragmático minimizar os riscos da IA, sem deixar de impulsionar a sua expansão enquanto ferramenta para um futuro com mais prosperidade e bem-estar.
A Europa não pode desligar o HAL
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Este é um dos mais celebrados diálogos da história do cinema e tem a particularidade de retratar o conflito entre uma máquina com inteligência própria, HAL 9000, e um ser humano, o astronauta Dave Bowman. Trata-se de uma cena emblemática do filme “2001: Odisseia no espaço”, realizado por Stanley Kubrick em 1968, a partir de um argumento que o cineasta redigiu com o cientista e escritor Arthur C. Clarke, autor do romance homónimo. Para lá dos seus imperecíveis méritos cinematográficos, a obra de Kubrick ganhou atualidade e presciência com o advento da Inteligência Artificial (IA).