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A arte do chá - Memórias de um padre do Oriente

A primeira cousa com que se agasalham os hóspedes de ordinário entre estas nações ditas é o chá, e se dá a beber não somente uma vez, mas muitas, quando se não dá solenemente, como costumam os japões.

A primeira cousa com que se agasalham os hóspedes de ordinário entre estas nações ditas é o chá, e se dá a beber não somente uma vez, mas muitas, quando se não dá solenemente, como costumam os japões. Com ele fazem seus cumprimentos e cortesias, agasalhando o hóspede, e enquanto praticam sai [o chá] amiúde, para espertar os espíritos e passarem o tempo com algum acompanhamento decente.”
A literatura e o cinema têm mostrado quão fascinantes eram alguns dos padres da Companhia de Jesus que procuravam trazer para a fé cristã os habitantes de terras distantes, estudando a cultura e a sociedade, costumes e língua, a fim de adaptar o seu trabalho missionário às normas e características de cada lugar. Alguns eram portugueses, como Luís Fróis ou João Rodrigues, que viria a ficar para a História como “o Intérprete” (“Tçuzu” em japonês).
Nascido em Sernancelhe, em 1560 ou 1561, com apenas 14 anos viajou até à Índia. Em 1577 chegou ao Japão, como membro da Companhia de Jesus, que ali tinha missões graças ao caminho que fora desbravado por Francisco Xavier, que ali desembarcara em 1549. Três anos depois inicia o noviciado e, no ano seguinte, o estudo de Humanidades, Filosofia e Teologia. Em Nagasáqui, dedicou-se ao ensino da gramática e do latim, vindo a concluir aí os estudos em Teologia. Deslocou-se a Macau para ser ordenado sacerdote e, de regresso ao Japão, o agora padre João Rodrigues tornou-se intérprete de Oda Nobunaga e do seu sucessor Toyotomi Hideyoshi (senhores feudais que tentaram unificar o Japão no período Segoku), recebendo assim o seu epíteto.
João Rodrigues tornou-se um hábil diplomata e político pois, graças ao profundo conhecimento da língua nipónica, era convocado com frequência como mediador entre europeus e japoneses. Em 1619, após o Édito de Expulsão dos religiosos por parte das autoridades japonesas, parte para Macau, onde inicia uma série de investigações com o propósito de conhecer as origens das comunidades cristãs ali estabelecidas desde o século XIII. É em Macau que morre, em 1633.
Além de intérprete, foi um dos autores e coordenador do primeiro dicionário de japonês-português, “Vocabulário da Lingoa de Japan”, editado em 1603, um documento com 32 mil entradas que ainda hoje é objecto de admiração pela sua qualidade e rigor; da gramática “Arte da Língua de Japam” (1608); da “Arte Breve da Língua de Japam” (1620) e autor de “A História da Igreja de Japam”.
“A Arte do Chá” chega finalmente aos leitores portugueses, pela mão da editora Livros de Bordo. 

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