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Zurich vê ramo Vida a ganhar impulso com medidas para a habitação jovem

A quebra na procura por crédito à habitação, num período de juros e inflação elevados, teve impacto no ramo Vida da Zurich, acompanhando a tendência observada no restante sector. Os responsáveis global e em Portugal da seguradora acreditam que o negócio vai continuar a crescer, à boleia, por cá, das medidas do Governo para ajudar os mais jovens a comprarem casa.

A subida das taxas de juro travou a procura por crédito à habitação ao reduzir a capacidade das famílias suportarem as prestações. Um contexto que teve impacto no ramo Vida da Zurich, mas também do resto do sector segurador que disponibiliza a proteção obrigatória a quem tem financiamento para a compra de casa. Em entrevista ao Jornal Económico, Thanos Moulovasilis, responsável global do ramo Vida do grupo Zurich, e Ana Paulo, responsável pelo mesmo segmento da seguradora em Portugal, garantem que o objetivo é fazer crescer esta área de negócio que esperam que seja impulsionada por cá pelas medidas do Governo para ajudar os mais jovens a comprar casa.

Como evoluiu o ramo Vida da Zurich no último ano a nível global?

Thanos Moulovasilis (TM) – O desempenho tem sido muito bom. Temos conseguido fazer crescer o ramo Vida, aumentámos o número de clientes e estamos mais próximos deles. Estamos num bom nível tanto em termos de resultados e o rácio de solvência é um dos mais elevados na indústria. Isto deixa-nos muito confiantes em relação ao futuro. Gostávamos de fazer crescer o ramo Vida ainda mais. Há muitas oportunidades, tanto ao nível da proteção como da poupança. Temos bases muito sólidas e vamos alavancar isto.

De que forma pretendem fazer crescer o ramo Vida da Zurich?

TM – Temos coisas a acontecer em diferentes países em diferentes segmentos de negócio. Gostávamos de nos focar – e isto é consistente com a nossa estratégia – na proteção e em produtos de poupança e investimento. Isto é o que nos tem diferenciado dos nossos concorrentes nos últimos 10 anos. Em termos de distribuição, temos uma rede muito diversificada e operamos em vários países em todo o mundo. Esta diversificação ajuda também à resiliência. 

Como é que Portugal contribuiu para este resultado?

Ana Paulo (AP) – Tivemos um desempenho muito bom no ano passado. Temos bons resultados. Claro que o mercado português é muito sensível ao cenário económico e no ano passado tivemos uma taxa de inflação muito elevada que impactou a capacidade de poupança dos clientes. Aconteceu na Zurich e noutras seguradoras no mercado. Mas alcançámos os nossos objetivos de nos focarmos na proteção e na poupança e temos um melhor desempenho em comparação com o mercado e contribuímos para o resultado do grupo. 

Quais as principais tendências e oportunidades para o ramo Vida a nível global?

TM – Há duas tendências significativas que temos observado nos últimos meses. A primeira é o grande problema que temos em vários países europeus com os sistemas da Segurança Social. Isto está relacionado com poupança e pensões, mas também com proteção. É verdade – e isto também está ligado com as dinâmicas demográficas – que todos podemos depender muito menos no futuro do Estado em comparação com gerações anteriores. Pelo menos na Europa as pessoas para terem pensões tiveram de depender da poupança da próxima geração. Já não é o caso. Não esperamos que esta situação mude. Pelo contrário. Esperamos que este gap aumente nos próximos anos.

Em Portugal temos esse problema…

TM – Exatamente. Penso que as pessoas começaram a perceber que precisam de depender mais e mais das suas poupanças. É uma grande responsabilidade e uma grande oportunidade para a indústria do ramo Vida e para a Zurich. Temos de fazer um esforço para educar os nossos distribuidores e o público sobre o aumento deste gap e sermos capazes de oferecer soluções aos nossos clientes. 

O contexto de taxas de juro elevadas reduziu a capacidade das famílias de pagar por um seguro?

TM – É verdade que quando temos dificuldades [financeiras] no dia-a-dia, podemos ter mais dificuldade em pagar por proteção. Ao mesmo tempo, penso que para um nível razoável de coberturas, o preço também pode ser razoável e ter em conta as condições das famílias e o que as pessoas realmente precisam. O montante a pagar mensalmente não afeta, na maioria dos casos, o orçamento das famílias.

AP – O cliente pode poupar 25 euros por mês. É um jantar.

Como é que produtos como o PPR podem ser mais atrativos? Com incentivos fiscais?

AP – Claro que incentivos fiscais são sempre muito positivos para promover a poupança. Quando os PPR começaram há 30 anos, os incentivos fiscais foram a chave para o seu sucesso. É importante para o cliente ter este incentivo. Os clientes portugueses têm um perfil de risco muito conservador e é importante mostrar-lhe as diferentes oportunidades para poupar. Do outro lado, sabemos que a situação da nossa Segurança Social é semelhante à de outros países. Se calhar num futuro próximo, daqui a 20 ou 30 anos, a reforma será menor do que é agora. Não é suficiente passar esta mensagem. Temos de incentivar os clientes a poupar e os incentivos fiscais são uma das formas de o fazer. 

O ramo Vida pode crescer em Portugal através de novas parcerias?

AP – Sim. Temos vários exemplos em Portugal. Temos a bancasseguros – uma das formas mais relevantes de distribuição do negócio Vida no país -, mas também agências e mediadores focados neste segmento. Temos margem para ambos os canais de distribuição. 

A quebra na procura por crédito à habitação afetou o negócio da Zurich? 

AP – Temos algum impacto no ramo Vida. A subida das taxas de juro teve um impacto significativo porque diminuiu a venda de casas. Mas o ramo Vida é resiliente e continuamos a ter negócio e a crescer no mercado. O crescimento deste segmento não é tão significativo como noutros anos, mas continuamos a ter um bom desempenho. 

Esta tendência deve manter-se este ano?

AP – Penso que não. Quando os impostos começarem a diminuir, claro que será mais fácil para os clientes comprarem casas. Acredito que o negócio vai voltar a crescer. 

Quando menciona impostos está a referir-se às medidas do Governo para apoiar os mais jovens a comprarem casa?

AP – Sim. Os clientes mais jovens têm esta oportunidade porque têm agora um enquadramento fiscal específico. E à medida que o BCE começa a cortar as taxas será mais fácil para as famílias pagarem as hipotecas e isso vai aumentar o interesse em mudar de casa ou fazer algum investimento no mercado imobiliário. Isso vai ajudar o ramo Vida.

Considera que são medidas positivas?

AP – Sim. 

Como é que vê a outra medida anunciada pelo Governo que permite que os clientes com crédito à habitação escolham outra seguradora que não aquela com quem os bancos têm uma parceria sem serem penalizados?

AP – Esta medida é muito importante. Temos uma lei que dá liberdade aos clientes de escolherem as seguradoras do ramo Vida. Os clientes pedem um crédito ao banco, porque é o seu negócio, mas do lado da seguradora devem ter liberdade de escolher qual é o melhor fornecedor.