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Zona euro arrisca perda de 1 p.p. no crescimento com tarifas impostas por Trump, alerta Goldman Sachs

Apesar de não deverem chegar aos 10% prometidos e se concentrarem no sector automóvel (além da retaliação europeia na mesma moeda), as barreiras prometidas por Trump à entrada de bens devem causar efeitos negativos na zona euro, que também verá uma pressão para subir gastos militares.

O regresso de Donald Trump à Casa Branca adensa as preocupações na Europa quanto à evolução económica de médio-prazo, dada a garantia do antigo presidente de que avançará com tarifas sobre os produtos oriundos da UE e as ameaças de abandono da proteção militar garantida ao Velho Continente, caso os parceiros da NATO não aumentem os gastos neste sector. Independentemente da magnitude das barreiras impostas aos produtos europeus, a incerteza gerada por esta legislação será o principal motor das distorções no crescimento, que pode sofrer com uma perda até um ponto percentual, aponta a Goldman Sachs.

Trump está de regresso à presidência e com ele devem chegar novas tarifas aduaneiras, incluindo em importações vindas da Europa, numa onda renovada de protecionismo que expande algumas das medidas tomadas no anterior mandato. Não chegando ao extremo dos 200% sugeridos sobre alguns produtos chineses (nomeadamente carros elétricos), o candidato republicano deve impor barreiras à entrada de bens europeus, chegando a falar em 10%.

Para os analistas da Goldman Sachs, a taxa não deve chegar a estes valores, que consideram “um risco claro”, mas o maior impacto na economia europeia não deverá resultar das tarifas em si, e sim da incerteza criada por esta agressividade acrescida.

Num cenário em que os EUA impõem tarifas de 10% às importações vindas da UE e o bloco europeu responde na mesma moeda, o banco de investimento estima um impacto de 1% no PIB da zona euro, com a Alemanha a sofrer mais (1,1%) dada a importância do sector automóvel na economia germânica.

Em linha contrária, Espanha registaria uma perda menos intensa, com apenas 0,6%.

“Mais importante, notamos que muita da perda de crescimento resultaria da elevada incerteza em termos do comércio internacional (em vez das próprias tarifas), consistente com a experiência de 2018 e 2019”, lê-se na nota.

Ainda assim, o banco projeta que as barreiras se limitem ao sector automóvel, não chegando ao valor ameaçado por Trump – tal como na China, mas numa magnitude diferente.

Recorde-se que, na corrida à Casa Branca, Trump prometeu taxar os bens importados da China em 60% (sugerindo taxas até 200% para sectores específicos, como os automóveis elétricos), impondo ainda uma tarifa geral de 10% em todas as importações para os EUA. Tal levaria a novo aumento dos preços, alertam vários economistas.

Na Europa, a inflação deve ficar mais contida, dado que a subida dos preços deve levar a uma contração da procura que não agravará significativamente a tendência dos preços, estima o departamento de análise económica da Goldman.

Este cenário dista ligeiramente do projetado para a economia norte-americana, onde vários fatores arriscam agravar novamente a pressão nos preços. Um dos principais é o plano de deportação de imigrantes ilegais de Trump, dada a falta de mão-de-obra no país e as taxas de desemprego historicamente baixas há vários trimestres, sublinhando a rigidez do mercado laboral e a dificuldade em recrutar.

Há, no entanto, outra via a preocupar os decisores políticos europeus – embora geradora de crescimento, ainda que limitado. Trump vem ameaçando os parceiros militares da NATO já desde o seu primeiro mandato, procurando forçar subidas dos gastos públicos em defesa até ao objetivo de 2% do PIB inscrito nos tratados da Aliança e que raríssimos países cumprem.

Como tal, a análise da Goldman Sachs projeta um aumento equivalente a 0,5% do PIB em gastos militares e em defesa nacional na zona euro, uma tendência que irá gerar crescimento, mas limitado “por multiplicadores modestos do sector na Europa, pressão ascendente no longo-prazo criada por défices e um efeito negativo na confiança dado pela subida do risco geopolítico”.