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Wordcoin tem cerca de 300 pessoas a recolher íris em Portugal

Aveiro, Braga, Lisboa e Porto são os distritos onde se encontram estes “operadores do Orb”, quem trabalha com as bolas cinzentas que dão criptomoedas e alegam que provam que alguém é mesmo humano, num contexto de Inteligência Artificial e falsos ‘bots’.

Já há cerca de 300 pessoas a trabalhar em Portugal para a fundação internacional Wordcoin, que “digitaliza” a íris para provar que alguém é mesmo humano a troco de criptomoedas. Além destes profissionais que estão no terreno, distribuídos por centros comerciais e estações de transportes públicos, esta organização com sede nas ilhas Caimão tem ainda equipas de montagens de infraestruturas e apoio ao cliente.

“São empresas third-party, que trabalham com a Tools for Humanity e a fundação, e que providenciam este serviço. Nós também queríamos garantir que, quando entramos no mercado, trabalhamos com um ecossistema e ajudamo-lo a crescer com os nossos parceiros e a criar empregos no país”, diz Ricardo Macieira, diretor para a Europa da Tools for Humanity (empresa responsável pelo lançamento da Worldcoin), ao Jornal Económico (JE) e Sapo Tek.

Atualmente, os Orb (nome das “bolas” tecnológicas cinzentas que fazem o scan aos olhos) encontram-se em 17 locais no país: em Matosinhos, Maia, Braga, Lisboa, Montijo, Loures, Seixal, Setúbal, Vila Nova de Gaia, Porto, Aveiro, Rio Tinto e Almada. Portugal é um dos dez países onde a Woldcoin opera – além da Alemanha, Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos, Japão, México, Coreia do Sul e Singapura – e foi mesmo o primeiro na Europa.

O plano é expandir para mais três ou quatro países ainda este ano, embora a Tools for Humanity se recuse a revelar qual é a lista de geografias, porque “as coisas podem mudar e depois estão a dar uma informação errada”.

A Worldcoin está disponível em Portugal desde meados de 2022 e, desde então, pouco mudou além do seguinte: a procura. O propósito – ou “missão” – desta organização sem fins lucrativos mantém-se o mesmo (criar um World ID, um passaporte que confirma a humanidade de alguém na Internet sem necessidade do cartão de cidadão ou pagamento de mensalidades), o modus operandi também (pessoas em sítios públicos a fazer o scan a olhos de pessoas) e o hardware também (Orb que faz a recolha desses dados e os apaga automaticamente que é criado o tal ID).

3% da população portuguesa aderiu

Se nas últimas semanas o tema fez correr tinta, é porque mais de 300 mil pessoas, o equivalente a 3% da população nacional, foram a um dos 17 stands para “verificar” sua identidade e receber criptomoedas. E como nas conversas de café por vezes ouvimos expressões como «dão-te dinheiro, mas recolhem-te a retina», é esta “narrativa errada” que a fundação quer combater.

“Nós somos um projeto baseado na blockchain, mas com pessoas treinadas para falar com outros humanos reais sobre esta tecnologia. As pessoas que se juntam sabem qual é o intuito do projeto ao qual se estão a juntar. Há também toda a parte de formação que os nossos operadores fazem e temos auditorias misteriosas para garantir que a informação que passam é correta”, referiu Ricardo Macieira, numa videoconferência com o JE e a imprensa tecnológica especializada.

Quem são estes profissionais com as bolas cinzentas nos shoppings e estações de transportes? Segundo a Worldcoin, pequenos empresários ou empreendedores que trabalham a título individual ou com equipas. “Também podem operar a partir de empresas privadas participantes, respondendo a indivíduos que procuram ativamente esses locais [áreas de alto tráfego] para verificar a sua identidade mundial com o Orb”, lê-se na ficha de candidatura.

“Sabemos o quão sensível são os dados biométricos, portanto, criámos o Orb – a máquina que devem ter visto nas nossas operações ou nas fotografias – para tentar clarificar que a pessoa que está ali à frente é um humano. Não é um cão, um gato, um cartaz ou uma fotografia. Depois, recolhe imagens da íris e, a partir daí, gera um código (código da íris) numérico único”, sintetiza o responsável pela operação em Portugal.

“Por defeito, as imagens geradas são apagadas do sistema. Não temos interesse em reter os dados biométricos. Basta provar a humanidade com o código da íris, que vai para o nosso servidor encriptado, que verifica se o código é novo ou a pessoa já tinha registado antes. Se não existia, pode avançar e ter acesso ao seu World ID, um passaporte digital”, reitera.

A presença da Worldcoin em Portugal está sob averiguação da CNPD – Comissão Nacional de Proteção de Dados. Apesar das preocupações, Ricardo Macieira, que também esteve por detrás do lançamento da Revolut em Portugal, garante: “O nível de crescimento deste projeto, e o impacto que vai ter a nível mundial, acho que é muito maior do que outros projetos onde trabalhei”.

Em relação às criptomoedas, para quem está familiarizado com o sistema, serão emitidos dez milhões de tokens, 80% é para distribuir para quem regista a íris – o que está a acontecer agora – e 20% servem para financiar o projeto, além do investimento inicial dos fundos norte-americanos que apoiaram esta ideia de Sam Altman, CEO da OpenAI. Questionado sobre a sustentabilidade financeira da fundação no futuro, Ricardo Macieira respondeu: “Tem de ser viável, há sempre pessoas que têm que trabalhar mesmo sendo um projeto descentralizado [na blockchain e open-source], mas ainda não temos um modelo definido”.