Skip to main content

Vanessa Barragão: o mundo descobriu-a primeiro e agora é a vez de Portugal

Vanessa Barragão, a jovem artista têxtil algarvia já expôs em Bogotá, Nova Iorque, Taipé, Xangai, e até no aeroporto londrino de Heathrow. Por cá, o seu nome e criações começam a entrar no radar de galerias e apreciadores de design contemporâneo com preocupações ambientais.

 

Há quem sonhe viver junto ao mar e há quem faça dele uma fonte de inspiração. A artista têxtil portuguesa Vanessa Barragão tem especial fascínio por essa imensidão líquida e uma forte preocupação com o ambiente e a sua conservação. Daí que desde cedo tenha decidido incorporar nas suas criações materiais green, como resíduos e restos de stock que algumas fábricas portuguesas já não precisam.

Vanessa Barragão licenciou-se em design de moda e decidiu que o caminho a trilhar seria design têxtil. Mas, e neste caso que bom que houve um “mas”, durante o curso percebeu que não era exatamente o desenho de roupas que a arrebatava, mas sim o que se “esconde” atrás do design de moda. Foi assim que, seguindo para mestrado, quis aprofundar ainda mais os conhecimentos em termos do têxtil e dos materiais.

Depois de Lisboa, rumou ao Norte do país, onde aprendeu a fazer um pouco de tudo, desde desenhar tapetes a fazê-los e acabá-los, e ainda sobrou tempo para aprender a arte de vender as suas criações. E assim se lançou num espaço próprio. Primeiro no Porto – onde o volume de encomendas cresceu de tal maneira que Vanessa percebeu não ter capacidade de resposta – e mais recentemente em Albufeira, junto ao mar.

O regresso não se faz apenas de anseio de horizonte e inspiração. O êxito do seu trabalho passaria a ser também o êxito da sua parceria com as avós, desafio lançado pela neta-aluna, ou não tivesse Vanessa Barragão despertado para as manualidades pelas mãos das avós.

A sua primeira exposição foi em Sidney, na Austrália, seguida de convites para outras exposições coletivas e feiras um pouco por todo o mundo. Ao que tudo indica, e tal como tem acontecido com muitos outros artistas portugueses, foi primeiro reconhecida no estrangeiro – tornou-se, aliás, um fenómeno no Japão – antes de Portugal a descobrir.

Os EUA têm sido o cliente mais fiel até agora. Mas não só. As suas criações únicas têm tido procura por parte de clientes dispersos pelo globo, da Austrália à China, Brasil, Nova Zelândia, México e os já referidos EUA e Japão. E se as suas peças já integram a decoração de casas particulares, também a hotelaria já tem Vanessa Barragão no seu radar.

Isso e galerias de arte, cujo interesse segue em crescendo. Uma delas foi a Galería Casa Cuadrada, sediada entre Zurique e Bogotá. Mais recentemente, a galeria This Is Not A White Cube, que opera em Lisboa e Angola, também se mostrou interessada no seu trabalho. A que se veio somar a chinesa, a CoBrA Gallery, de Xangai, que confere uma ainda maior visibilidade à artista portuguesa.

O desperdício pode ter uma nova vida

Por cá, Anne-Laure Pilet, mentora da Galeria Analora, apresenta atualmente uma colaboração com Vanessa Barragão, uma criação de grandes dimensões composta por três tapeçarias, que tanto funcionam como um todo, como individualmente, e cinco tapeçarias de pequenas dimensões.

As peças de grandes dimensões estiveram em exposição na feira de Arte e Design Lisbon by Design, em maio, e foram feitas sobre uma estrutura volumétrica em metal soldado pela própria artista, usando também várias técnicas têxteis com lã como a Esmirna, o crochê e a feltragem. A artista experimentou, pela primeira vez, produzir peças com formato tridimensional, a que se juntam cinco tapeçarias de pequena dimensão, na sequência do processo colaborativo entre Vanessa Barragão e Anne-Laure Pilet.

Podem ser vistas na Galeria Analora, situada na Rua de São Bento, em Lisboa, e constituem um excelente exemplo da sua preocupação com a temática da ecologia, da sustentabilidade, que considera como o verdadeiro pilar do seu trabalho. E que não abdica da inspiração que o mar lhe dá, dos seus tesouros nas profundezas, como os corais, à ondulação que leva as ondas a acariciar a areia. A mensagem, além da vertente estética, pretende ser um alerta contra os malefícios que o ser humano provoca a esta fonte de vida.