Depois de visitar a Grécia no domingo passado – onde assinou um acordo de fornecimento de gás natural liquefeito norte-americano à Ucrânia – e de ter estacionado em Paris no dia seguinte para comprar 100 aviões de guerra Rafale, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky está em Espanha esta terça-feira, desta vez para assegurar uma parceria para novas aquisições através do programa PURL. O encontro com o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez (e também com o rei Filipe VI) ocorre cerca de um mês depois de Sánchez ter anunciado a inclusão da Espanha na Lista de Requisitos Prioritários da Ucrânia (PURL), um mecanismo da NATO para auxiliar a Ucrânia por via da aquisição conjunta de armamento aos Estados Unidos. Na altura da adesão, Pedro Sánchez explicou que o motivo dessa adesão ao programa era que, “hoje, os principais componentes de defesa aérea são fabricados nos Estados Unidos”, “esperamos que, no futuro, a autonomia estratégica” permita que sejam produzidos na Europa.
“Este encontro em Madrid será uma oportunidade para reafirmar o compromisso da Espanha com a Ucrânia em todas as áreas”, declarou o executivo em comunicado. “Estamos a preparar-nos para isto há muito tempo, e agora podemos dizer que a visita à Espanha será produtiva. Mais um país forte uniu-se aos nossos parceiros em iniciativas que realmente nos ajudam”, escreveu Zelensky nas redes sociais. “As prioridades mais importantes são os sistemas de defesa aérea e os mísseis”, especificou.
Vale a pena recordar que a Espanha foi dos pouco países da NATO, ou talvez mesmo o único, que olharam com reservas as decisões saídas da cimeira da organização em Haia, Países Baixos, que apontavam, segundo Sánchez, para uma crescente dependência da Europa face à indústria norte-americana da defesa. Na altura, Trump ameaçou a Espanha com novas tarifas sobre o comércio espanhol para os Estados Unidos, se Madrid mantivesse essas reservas. Assim, segundo a imprensa espanhola, é muito provável que Sánchez se comprometa com Zelensky a financiar a compra de armamento norte-americanos para Kiev, pagando parte do valor da fatura.
O presidente da Ucrânia chega a Madrid depois de reunir em Paris com o presidente de França, Emmanuel Macron, com quem assinou um acordo de cooperação para a aquisição de equipamento de defesa franceses pela Ucrânia até 2035, especificamente 100 caças Rafale F4 para a Força Aérea Ucraniana, sistemas de defesa aérea SAMP/T, radares para sistemas de defesa aérea, mísseis ar-ar e bombas aéreas.
Zelensky deverá visitar o Congresso em Madrid (onde será recebido pela presidente da Câmara dos Deputados, Francina Armengol, e pelo presidente do Senado, Pedro Rollán) e o Museu do Prado para ver Guernica, de Picasso – um quadro que versa o tema da destruição de parte de Espanha às mãos de uma potência estrangeira – ou duas: a Alemanha e a Itália. É a segunda visita oficial e a terceira visita no geral do presidente da Ucrânia à Espanha. A primeira ocorreu em outubro de 2023, quando e a segunda em maio de 2024, quando Zelensky e Sánchez assinaram o Acordo de Cooperação em Segurança entre a Espanha e a Ucrânia, pelo qual a Espanha se comprometeu a enviar a Kiev um pacote de ajuda militar no valor de 1,129 mil milhões de euros.
Esta segunda-feira, o acordo entre Zelensky e Macron foi considerado “histórico” pelo presidente ucraniano. A compra de até 100 aviões Rafale, drones, sistemas de defesa aérea e outros equipamentos construídos em França é parte dos esforços para fortalecer a segurança do país a longo prazo. Por sua vez, Macron elogiou o que chamou de “um novo passo em frente” na relação entre os dois países. Segundo disse, o acordo inclui os caças a jato de última geração, com armamento completo, bem como os programas de treino e produção correspondentes. A carta de intenções inclui também a aquisição de drones e interceptores de drones, bombas guiadas e os sistemas de defesa antiaérea SAMP/T de última geração, com as primeiras entregas previstas para os próximos três anos.
Segundo a imprensa francesa, o Rafale é o caça mais avançado de França, uma aeronave de guerra multifuncional de alta tecnologia com asa delta, conhecida por sua manobrabilidade e eficiência. Foi empregue em operações militares francesas no estrangeiro, incluindo no Oriente Médio e em África, e tem um custo estimado em mais de 85 milhões de euros por aeronave.
Citado pela agência Euronews, o chefe do Estado-Maior da Defesa francês, General da Força Aérea Fabien Mandon, declarou este mês a senadores franceses que os sistemas de mísseis antiaéreos SAMP/T, de fabricação europeia e fornecidos pela França à Ucrânia, mostram-se mais eficazes que as baterias Patriot, de fabrico norte-americano, contra mísseis russos de difícil deteção.
A fabricante de aviões Dassault Aviation, responsável pelos Rafale, já vendeu mais de 500 aeronaves, incluindo mais de 300 para exportação para países como Egito, Índia, Qatar, Grécia, Croácia, Emirados Árabes Unidos, Sérvia e Indonésia.
No final de outubro, Macron anunciou a entrega a Kiev de mísseis antiaéreos para o sistema SAMP-T, bem como de novos caças Mirage 2000, três dos quais já foram para a Ucrânia. Macron e Zelensky também visitaram o quartel-general da Força Multinacional Ucrânia – conhecida como ‘coalizão dos dispostos’, que a França e p Reino Unido lideram, com mais de 30 nações envolvidas e que tem por finalidade enviar armamento para a Ucrânia.
No meio deste périplo de compras de armamento, Zelensky aproveita para insistir na utilização dos ativos russos congelados na União Europeia para a criação de um empréstimo que pode andar próximo dos 140 mil milhões de euros – mas que tem encontrado fortes reservas por parte de alguns países do bloco. “Acredito que, no final, chegaremos a um acordo para levar este assunto por diante e poder utilizar os recursos russos no pacote de defesa europeu, na produção ucraniana e, principalmente, nos sistemas de defesa aérea dos Estados Unidos da América”, disse Zelensky.