Toino Abel é o nome da marca que nasceu da vontade de Nuno Henriques. Ou melhor, a sua imaginação gerou um conceito, que reaviva uma técnica artesanal que se mantém inalterada desde a sua origem. Cestas que são malas, malas que são esculpidas em junco.
Tudo começou por um gesto de carinho: o irmão ofereceu à namorada uma cesta feita por ele. Muitas histórias cabiam naquela cesta e podiam viajar para onde quer que a sua dona as levasse. Do gesto brotou o conceito, na cidade de Berlim, onde Nuno Henriques viveu durante cinco anos, mas só ganhou forma quando se mudou para Portugal e se instalou na aldeia de Castanheira, Alcobaça, dando início à aventura de transformar a tecelagem do junco numa arte que, sem perder a ancestralidade das técnicas, a coloca em diálogo com o século XXI.
Formado em Artes, Nuno Henriques aposta na utilização de matéria-prima de excelência, de origem portuguesa. E, à boleia da aprendizagem que tem feito junto de artesãos locais, presta também homenagem a um tetravô, que fazia cestos, e ao avô, a quem tratavam por Toino Abel.
A ligação emocional à família faz parte do ADN da marca que criou e continua a nutrir, com carinho e criatividade. No fundo, a sua ambição é dar continuidade a uma arte tradicional, assumir uma responsabilidade ecológica, inovar através do diálogo entre o design tradicional e a contemporaneidade. Eis os compromissos da Toino Abel, que, da aldeia para o mundo, já levou a grandes desfiles de moda internacionais a sua mala-alcofa, símbolo de um glamour 100% manual, 100% artesanal.
O tradicional pode ser contemporâneo?
A arte de trabalhar os recursos oferecidos pela natureza e transformá-los em objetos é uma das mais extraordinárias heranças dos povos que habitam o planeta.
No caso do junco – material escolhido por Nuno Henriques para as suas criações – trata-se de uma fibra vegetal que, em Portugal, é habitualmente apanhada à mão nos meses estivais, com o auxílio de uma faca. Depois é lavado, as pontas aparadas, e fica a secar à sombra. Só quando começa a ficar amarelado é que se estende ao sol. Posteriormente, é batido e espalmado para ficar macio. O junco, já seco, é então trabalhado num tear até se tornar uma esteira que depois é cosida à mão, adornada com uma asa de vime, um fecho e uma alça de couro, e, finalmente, uma medalha cerâmica com uma flor de junco gravada, criando a icónica cesta.
A inovação é um objetivo constante na Toino Abel, através da investigação de novos processos de preparação da matéria-prima, de diferentes formas de tecer o junco, de exploração de técnicas de coloração e fixação da cor. Cumprir a tradição e manter a empresa no caminho da sustentabilidade – preservando o processo manual e não utilizando pesticidas no tratamento do junco – é ponto de honra desta marca, que aposta no couro curtido com substâncias vegetais e em algodão ecológico certificado.
A preservação do ambiente anda de mãos dadas com a preservação das técnicas ancestrais, numa abordagem moderna ao artesanato e cestaria. Não menos importante é recuperar no interior despovoado do país uma atividade que contribui para a manutenção de uma identidade cultural. E, embora considerem as "cópias" um elogio, optaram por registar os padrões desenhados de raiz, por designers e artistas, em 28 países. E se a preocupação com o ambiente já foi referida, não menos importante é garantir condições de trabalho justas e dignas a todos os que colaboram neste reavivar da arte ancestral da cestaria. Não é coisa pouca!