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Tesla: Cybercab leva a perda de 68 mil milhões num só dia

O Cybercab levou a Tesla a perder uma gigantesca quantidade monetária do seu valor de mercado num espaço de 24 horas. O mercado não ficou impressionado e pede dados concretos para colocar o veículo na estrada.

Elon Musk está a apresentar que as rosas também têm espinhos e não são só bonitas. Na passada quinta-feira à noite, 10 de outubro, a Tesla apresentou o seu aguardado táxi, ou Cybercab, na versão original e destemida da fabricante norte-americana, e perdeu bastante terreno em Wall Street.

Um evento cheio de surpresas: duas portas laterais em gaivota (abertura para cima), a bagageira também com abertura gaivota, sem pedais e sem volante. Se já se dizia que o Cybertruck ia trazer a mudança, Elon Musk surpreendeu ao robotizar por completo o novo veículo.

No entanto, este automóvel para transporte de passageiros só deverá começar a ser produzido em 2026, ou seja, daqui por mais de um ano, sendo que o seu valor não deverá chegar aos 30 mil dólares.

Mas, apesar do baixo preço e uma produção mais tardia, ainda que deva chegar em grande número ao mercado, o empresário sul-africano não explicou em que momento é que a Tesla vai aumentar a produção destes automóveis, quando vão chegar ao mercado, como é que a empresa planeia superar os obstáculos regulatórios ou mesmo implementar um plano de negócios para competir com o mercado existente: Alphabet e Waymo.

Após a apresentação, os especialistas da indústria deram um passo imediato para trás: estabelecer táxis autónomos (robotáxis) pode levar longos anos, especialmente devido à garantia de segurança e à confiabilidade dos consumidores. Os analistas ainda se mostram reticentes em confiar na tecnologia, nomeadamente quando esta é confrontada com cenários mistos que envolvem pedestres.

Mas Musk não vai na conversa. "O futuro autónomo está aqui. Com autonomia recuperamos tempo", disse Musk a quem assistia à apresentação. O multimilionário apontou ainda que os automóveis autónomos podem ser 10 vezes mais seguros em comparação à condução humana e conduzir entre cinco a 10 vezes mais tempo.

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Mas o mercado ficou bastante desiludido com a falha de expectativa em relação a tempos de lançamento, o que levou a que a expectativa descesse a pique. Entre as novidades está também a falta de porta para carregamento, uma vez que os planos ditam para que este seja por indução, sem necessidade de fichas.

Sem qualquer espelho retrovisor (uma vez que não há condutor), Elon Musk apontou que o Cybercab vai contar com Inteligência Artificial e câmaras espalhadas pelo carro, que serviram como 'olhos' para a tecnologia lidar com as situações que tem à sua frente. Para o dono da Tesla, esta abordagem mostra confiança no produto e na própria tecnologia, enquanto os especialistas indicam ainda ser desafiante do ponto de vista técnico e regulatório.

Mercado em pânico?

A verdade é que a visão inicial dos analistas não deu muitas esperanças ao sucesso do Cybercab. Mostra disso mesmo foi o desastre na bolsa de mercados.

As ações da Tesla apresentaram uma quebra de 8,78% ao longo da sessão, numa tendência que já se verificava no pre-market (pré-abertura de Wall Street). Os títulos encerraram nos 217,80 dólares.

E o que representa esta quebra para a empresa? Simplesmente que se desfez de 68 mil milhões de dólares (cerca de 62,1 mil milhões de euros) em capitalização bolsista, pouca coisa tendo em conta que a empresa já viu melhores dias. Mas gigantesco quando comparado com o valor de mercado da Ford (na ordem dos 43 mil milhões) e da General Motors (54 mil milhões).

 

Adam Jones do Morgan Stanley mostra-se "decepcionado com a substância e detalhes da apresentação" do Cybercab. Opinião é partilhada por Toni Sacconaghi da Bernstein, que diz que a apresentação foi "surpreendentemente ausente em detalhes", algo também evidenciado pelo analista Dan Levy do Barclays que indicou "não haver atualização sobre oportunidades a curto prazo".

E há ainda outro valor a ter em atenção. É que Musk foi diretamente atingir onde mais dói ao consumidor comum: na carteira. Elon Musk viu desaparecerem 12 mil milhões de dólares da sua fortuna, tendo em conta que é o maior acionista individual da empresa. Ainda assim, conseguiu permanecer como o homem mais rico do mundo, com uma fortuna de 240 mil milhões de dólares.

Cybercab pode não ser a causa

Uma análise mais detalha à performance dos títulos de uma das maiores empresas dos Estados Unidos da América - é a 10ª maior empresa pública por valor de mercado - mostra que a quebra não se cingiu apenas a sexta-feira.

A Tesla viu as suas ações fecharem nos 250,08 dólares na sexta-feira, 4 de outubro, e a segunda-feira seguinte (7 de outubro) já começou mal, com as ações nos 249 dólares.

Toda a semana correu mal para a Tesla, em termos de títulos negociados em Wall Street. Nessa mesma segunda, as ações encerraram nos 240,83 dólares, enquanto no dia seguinte subiu ligeiramente até 244,50 dólares. Ainda assim, avizinhou-se nova queda na sessão seguinte até aos 241,05 dólares e posteriormente até aos 238,77 dólares (quinta-feira).

Contas feitas, a Tesla iniciou a semana, a 7 de outubro, com uma capitalização bolsista de 769,37 mil milhões de dólares e veio a terminá-la com 695,79 mil milhões de dólares: queda de 73,58 mil milhões de dólares, ou 10,57%.