Portugal vai enfrentar a temporada de fogos deste verão com menos meios aéreos, nomeadamente aviões bombardeiros de água Canadair, de acordo com uma diretiva da Comissão Nacional de Proteção Civil. Uma fonte não identificada dos bombeiros, citada pela agência Lusa, diz que este corte nos meios deve-se a uma falta destes aparelhos no mercado. Ao Jornal Económico, o CEO do grupo Avincis, John Boag, desmente essa ideia, afirmando que a frota de Canadair CL215s da empresa está pronta a entrar em ação, a partir das bases de Lisboa e Lourinhã, se houver acordo com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANPC).
“Estamos prontos e a postos para apoiar o governo com a nossa frota de aviões Canadair. Completámos desde já o treino de pré-temporada [de fogos], a expensas da Avincis e essas tripulações estão em ‘standby’ para proteger o povo português”, declarou ao JE o gestor australiano.
A 13 de maio, a agência Lusa publicou uma notícia, com base na diretiva aprovada, que dá conta que “os operacionais envolvidos no combate aos incêndios rurais vão aumentar ligeiramente este ano, estando previstos para os meses considerados mais críticos 14.155 elementos”, mas ressalvando que “o dispositivo vai contar com menos dois meios aéreos”.
“A diretiva operacional nacional (DON), que estabelece o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), foi aprovada na Comissão Nacional de Proteção Civil, cuja reunião foi presidida pela secretária de Estado da Proteção Civil, Paulo Simões Ribeiro, e teve lugar na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), em Carnaxide”, adiantou a Lusa.
Segundo dados a que agência Lusa teve acesso, o dispositivo terrestre contará com 14.155 elementos e 3.173 viaturas durante o período de maior empenhamento de meios, entre 01 de julho e 30 de setembro, denominado ‘nível Delta’. Em 2023, o número de operacionais envolvidos no combate aos incêndios entre julho e setembro cifrou-se nos 13.891 operacionais, o que significa que este ano há mais 264 elementos para o combate aos fogos. O mesmo acontece com as viaturas disponíveis, que aumentam em 183, passando dos 2.990 veículos para os 3.173.
Mas a época considerada mais crítica em incêndios rurais vai contar este ano com 70 meios aéreos, menos dois do que em 2023.
Os meios aéreos que não vão estar este ano disponíveis no DECIR são precisamente dois aviões Canadair. Fonte dos bombeiros disse à Lusa “que não há no mercado aviões Canadair, daí as dificuldades para os alugar”.
Dias depois da aprovação da diretiva, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, disse que seria possível “tirar mais partido do PRR para ter mais meios de combate a incêndio e que era possível ter contratado mais meios aéreos”. Ou seja, salientou que o período de cerca de mês e meio em que o Governo está em funções foi insuficiente para chegar a acordos para ter mais meios, pelo que o momento é de “agir com os meios que há”.
John Boag salienta ao JE que tem estado em permanente contacto com a ANPC, “que está a par que nós temos os recursos e a capacidade de proteger as comunidades portuguesas nesta época de Verão”.
“Sim, estamos em contacto com a ANPC. Podemos disponibilizar a nossa frota de Canadair CL215s a partir das nossas bases de combate aos fogos de Lisboa [Salemas] e Lourinhã”, reitera o CEO da Avincis. Questionado sobre quanto poderia custar ao contribuinte português o aluguer desde já dessa frota, John Boag escusou-se a especificar um valor, preferindo afirmar que “não se pode pôr um preço no salvamento de vidas e na proteção de propriedade face aos fogos que devastam muitas partes da Europa todos os verões”.
A Avincis não é uma empresa novata neste mercado em toda a Europa e África, mas sobretudo em Portugal. O grupo – que decidiu mudar a sede e a base técnica e de manutenção para o heliporto de Salemas – já cede e voa os helicópteros da Emergência Médica INEM.
Questionado pelo JE sobre o investimento já feito em Portugal, John Boag diz que a ausência de acordo com o governo português sobre o combate aos fogos não põe em risco a estratégia da empresa no nosso país.
“Vamos continuar a operar a nossa base em Lisboa como o hub de treino e manutenção para todo o nosso grupo, independentemente da decisão do governo. A estrutura em Lisboa [o heliporto de Salemas] é a sede global do nosso grupo e não temos planos para mudar isso”, sentenciou John Boag.
Ao longo do último ano, diz o CEO da Avincis, o grupo “investiu no desenvolvimento da base num centro de excelência para manutenção e treino. Investimos na nossa força de trabalho ao criar 25 postos de trabalho corporativos e 10 novos postos de trabalho técnicos. Acreditamos que Portugal é a localização certa para nós, tanto geograficamente como em termos do talento disponível no mercado de trabalho local”, concluiu John Boag.
A Avincis realiza hoje, segunda-feira, precisamente na base de Salemas, uma demonstração da capacidade dos seus Canadair CL-215, uma espécie de prova em como estão capazes de operar já na época de incêndios deste verão.