Marie-Caroline Laurent, Diretora Geral da CLIA - Associação Internacional de Cruzeiros para a Europa, vai marcar presença no parlamento português esta quinta-feira, com o intuito de abordar qual o papel da CLIA e o seu desenvolvimento no sector dos navios de cruzeiro.
A CLIA pretende alertar e fazer com que os Governos e os donos dos portos de cruzeiros acelerem a transição marítima para um futuro com combustíveis de baixo ou nulo teor de carbono, e para tal apela à inovação e aos investimentos em futuras tecnologias de motores.
Nos primeiros seis meses do ano o porto de cruzeiros de Lisboa, gerido pela APL, viu passar por ele um total de 174 286 cruzeiros, sendo que em agosto foram registados um total de 63.829 cruzeiros no porto, o que representa um aumento de 13% face aos números registados em agosto do ano passado.
Quais é que são os tópicos que vai abordar no Parlamento português? Vai apresentar algum plano concreto?
Na nossa viagem a Lisboa a grande novidade é o lançamento do nosso relatório em tecnologia ambiental. A nossa mensagem principal e a razão pela qual nos vamos reunir com o parlamento e, na sexta-feira, com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA), e com outros acionistas, é para mostrar o progresso na indústria dos cruzeiros em termos de investimento em tecnologias que vão de encontro ao nosso plano ambiental.
Nós temos a ambição de atingir as zero emissões de carbono na indústria até 2050 e também temos um plano que aborda todo o impacto ambiental e a sustentabilidade desta indústria, ou seja, desde as emissões de dióxido de carbono para o ar, às emissões atmosféricas de óxidos de nitrogénio, passando pela energia utilizada a bordo do cruzeiro.
Nós temos novidades à volta dos nossos dados sobre a tecnologia ambiental. Nós estamos a tentar reduzir as nossas emissões, e os nosso últimos dados mostram isso.
Os navios metaneiros, que transportam GNL, que apesar de ser um combustível fóssil, mas cujo motor também consegue queimar biogás e combustíveis sintéticos. Isto para nós é muito importante, não para o GNL em concreto, mas a tecnologia do motor, que sem nenhuma alteração consegue utilizar outro combustível. Podemos encomendar novos tipos de navios, que funcionem a metanol e a hidrogénio. E isto mostra mudanças na nossa indústria.
Nós temos 40 mil milhões de euros investidos na Europa para a construção naval, mas precisamos de combustível, como metanol verde ou hidrogénio, que são produzidos algures, e precisamos que garantir que o sector marítimo tem acesso a eles.
Qual é que é o plano para atingir essas metas?
Um navio de cruzeiro gera muito desperdício, desde desperdício líquido e sólido, então nós temos um plano para ter a certeza que não rejeitamos nenhuma água não tratada, portanto todos os nossos membros têm a obrigação de tratar todas as suas águas residuais, sendo este o progresso mais avançado de todo o sector marítimo. Mas mais ambicioso do que isso, é o desperdício sólido, portanto reduzir o desperdício, reciclar o melhor que conseguimos, nós temos alguns cruzeiros que estão a testar, por exemplo, o usar o desperdício para criar energia.
Para além do desperdício e das emissões do cruzeiro enquanto navega, depois há também o quando atracamos num porto, e nessa etapa também temos de garantir que continuamos a reduzir as nossas emissões, e como é que fazemos isso? Parte deste problema é resolvido com a conecção do cruzeiro com a eletricidade do porto. Portanto, o porto de Lisboa vai ter de se equipar de forma a ser possível fazer essa ligação. Esta é uma das mensagens que queremos deixar ao Parlamento, de que o Governo português garanta o seu apoio a equipar os portos com esta eletrificação.
A maioria dos navios de cruzeiro já tem a capacidade de se ligar ao porto, apenas lhe falta a 'ficha' no porto. É isso que queremos deixar claro às autoridades e Governo português, para que estes sejam capazes de acompanhar a evolução e as transformações que se sentem na indústria marítima com a sua transformação nos transportes e o que isto também pode significar para as cidades.
De quanto é que é o investimento nestes equipamento?
O que nós ouvimos dos outros portos é que a implementação em terra, variando de porto para porto por causa da eletricidade que utilizam, ronda os 30 milhões de euros em investimento, o que é um investimento massivo para os portos.
O investimento é feito por quem controla o porto, ou seja, tanto pode ser uma empresa privada, como o Governo do país. No entanto existem alguns fundos europeus disponíveis para ajudar nesta transição.
Considera que com a redução das emissões e com a mudança de combustíveis dos navios, vai ser possível atingir as emissões zero?
É isso que eu acho interessante neste sector, é que nós temos a solução, ou seja, não é como no sector da aviação onde têm apenas um tipo de combustível e têm de arranjar uma solução diferente, só que no fim do dia não têm muita física diferente para aplicar. Aqui nós temos várias soluções, uma combinação de soluções, com diferentes tecnologias, que já conseguem atingir as zero emissões nos navios de cruzeiro.
Por quanto das emissões de carbono é que o sector dos cruzeiros é responsável?
De acordo com os dados da Comissão Europeia, o sector marítimo é responsável por 3% das emissões globais. O sector marítimo representa todo o tipo de transporte marítimo.
No mundo existem apenas 350 navios de cruzeiro, em comparação com os 80 mil navios de carga, portanto os navios de cruzeiros representam apenas 1% ou menos do sector marítimo. Obviamente que a nível de emissões estamos um pouco acima dos restantes, porque é possível fazer mais coisas num cruzeiro do que num navio de carga, no entanto os cruzeiros representam 3% das emissões do sector marítimo, 3% do total das emissões.
Apesar de ser um valor baixo, é importante que nós consigamos atingir o nosso objetivo, uma vez que somos uma atividade de turismo.
Quanto é que o turismo dos cruzeiros representa?
Por norma as pessoas associam este tipo de turismo a um turismo massificado, no entanto o turismo dos cruzeiros representa cerca de 5% ou menos do turismo nas cidades. Em Lisboa o valor deve ser menor.
No entanto é importante para nós, que exista um diálogo entre a cidade e o departamento do turismo, porque se eles considerarem que há uma grande afluência por causa deste tipo de turismo, nós conseguimos arranjar uma solução. Isto já aconteceu em Barcelona, criamos vários grupos e dividimos, assim não vai tudo à Sagrada Família, por exemplo. E esta é também uma mensagem para Portugal, se existem problemas de muita afluência deste tipo de turismo, falem e chegaremos a uma solução.
Se representa um valor assim tão baixo, porque é que temos de investir neste sector?
Apesar de ser pequeno, o valor que traz para a economia da cidade é muito importante, comparativamente com o turismo de terra. A proporção de gastos é maior porque as pessoas só passam um dia naquela cidade, então, se querem, têm de comprar logo, enquanto que no turismo de terra, como passam mais dias nas cidades, conseguem pensar melhor nos seus gastos.
Um estudo do porto de Lisboa conclui que uma família de turistas num cruzeiro gasta, em média, 160 euros por visita às cidades, não parece muito, mas se multiplicarmos por 3000 já têm um impacto significativo.
Tem realizado visitas a mais países da União Europeia para falar sobre este assunto, qual tem sido o feedback que tem recebido?
Esta semana já discutimos este assunto em Hamburgo, Alemanha, em Londres, no Reino Unido, e agora em Portugal, e ao mesmo tempo em Barcelona e em Copenhaga. Por esta semana se celebrar o dia mundial do Mar e o dia mundial do Turismo, esta semana torna-se especial.
Na perspetiva dos Governos, o sector dos cruzeiros é muito respeitado na Europa, uma vez que nós somos a única indústria marítima a construir os navios na Europa. Se parássemos os navios cruzeiro poderíamos fechar todos os estaleiros da Europa, porque os cruzeiros são responsáveis por 80% dos pedidos na Europa.