As ações das gigantes tecnológicas registaram quedas fortes na última semana. Vários fatores condicionaram o sentimento dos investidores e fizeram cair nas bolsas europeias e asiáticas, mas particularmente em Wall Street, as ações de cotadas que valorizaram de forma expressiva no último ano.
As perdas fizeram-se sentir na bolsa de Iorque estão ligadas aos ciclos do mercado, como também a decisões do governo norte-americano e até declarações de Donald Trump, candidato à presidência dos Estados Unidos de América. Ainda assim, os ventos negativos podem ser contrariados já esta semana, já que são vários os “pesos pesados” do sector que divulgam contas do segundo trimestre, em plena época de resultados.
“O primeiro fator”, explica ao Jornal Económico o consultor de investimentos Marco Silva, “é que o mercado está um pouco esticado em termos de valorizações, tendo em conta a falta de catalisadores que existe”, nomeadamente porque na última semana não houve reunião da Fed e os dados da inflação só serão conhecidos esta semana.
Uma situação que se refletiu em dias de “consolidação em baixa, com alguma correção”, assinala.
Assim sendo, as descidas estão associadas aos fluxos dos investimentos. De acordo com o próprio, regista-se “alguma rotação para as pequenas e médias empresas. Ou seja, o dinheiro tem estado a sair do S&P 500 e do Nasdaq para o Russel 2000, por exemplo”. Algo que é comum “quando estes dois estão um pouco mais esticados na valorização”, conduzindo à “rotação de capital para as pequenas e médias empresas. Isto tem acontecido assim nos últimos meses, para não dizer no último ano e meio”, sublinha.
Em simultâneo, o tema da Inteligência Artificial (IA) tem um grande peso, num contexto em que, “não obstante os resultados positivos, aquele período de euforia desmedida já passou”, reitera o próprio. “Desde que a Nvidia, há um ano e pouco, divulgou os seus resultados e o seu outlook, estivemos quase um ano em euforia em relação à IA”, recorda.
Neste âmbito, importa compreender que, na atualidade, “os crescimentos, apesar de serem bons, não são estratosféricos”, menciona o consultor de investimentos, por comparação há as contas apresentadas em trimestres anteriores, com crescimentos substancialmente mais acentuados.
“Não estamos a falar em crescimento de 200, 300% de receita, mas em crescimentos mais contidos, apesar de serem extremamente bons”, sublinha.
Ora, os dados em causa acabam por ter “alguma influência”, nomeadamente quando vemos a earnings season a acelerar, na medida em que a semana que agora se inicia está “bastante cheia” no que diz respeito a resultados das empresas tecnológicas”, com a divulgação dos resultados de gigantes como a Alphabet (dona da Google) e a IBM, a título de exemplo.
Mais tarde, a 30 de julho, é a vez da Microsoft divulgar o relatório financeiro e, logo no dia seguinte, a Meta (dona do Facebook). No início do mês seguinte, a 1 de agosto, é a vez da Apple e da Amazon.
É neste contexto, que se nota alguma tendência para o “vender antecipado” nos mercados, explica, aproveitando para dar um exemplo.
“A Netflix deu bons resultados mas o outlook não foi tão exuberante”, refere, apontando para os elevados níveis de exigência que se verificam. “Aos níveis que o mercado está, os investidores não querem apenas bom, querem espetacular”, garante.
Em simultâneo, há um contributo ligado à “incerteza em relação às eleições norte-americanas”, nomeadamente com a desistência de Joe Biden da corrida às presidenciais. Ora, “para completar este bolo, [surgiram] as declarações de Donald Trump em relação à Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSM) e a Taiwan”, menciona Marco Silva.
De recordar que o antigo presidente dos EUA, que é novamente candidato ao cargo, mostrou numa entrevista o seu desagrado por Taiwan ter, por esta altura, “quase 100%” do negócio dos chips. Ora, as palavras de Trump afetaram “a Nvidia e outras empresas ligadas à mesma, que são dependentes também da TSM”, visto que “não houve o apoio de retórica que tem sido recorrente quando se fala de Taiwan”
Acrescenta um quarto
ponto, ligado ao apagão da última sexta-feira, que afetou fortemente os sistemas Windows e que adicionou pessimismo a todo este contexto.
Ainda assim, toda esta situação pode inverter-se rapidamente e “não significa que [as ações] não subam” já esta semana, lembra o consultor de investimentos.