A União Europeia adiou este fim de semana contramedidas às tarifas norte-americanas de 21 mil milhões de euros e diz-se disposta a regressar à mesa das negociações – mas acenou com a possibilidade de agregar uma segunda lista retaliatória que pode abranger até 72 mil milhões. Fica assim claro, pelo menos em tese, que a União está a endurecer a sua posição – concertada desde logo entre Paris e Berlim e com a desconfiança de Roma – enquanto espera que os norte-americanos voltem a sentar-se à mesa das negociações e revejam em baixa as tarifas de 30% que foram anunciadas este sábado.
O comissário responsável pelo comércio da União Europeia, Maros Sefcovic, reuniu com o Conselho dos Negócios Estrangeiros para discutir a resposta à administração de Donald Trump. No final, disse que “a UE não se afasta sem esforço genuíno", dando conta de que voltará de imediato ao contacto com os parceiros norte-americanos. "A minha impressão é a de que é algo pelo qual vale a pena trabalhar, caso contrário não teríamos passado três meses a discutir um acordo de princípio com mais de 300 linhas tarifárias", afirmou.
O propósito de Sefcovic surge depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ter indicado que as contramedidas retaliatórias em preparação pela União Europeia ficam adiadas pelas próximas semanas, na expectativa de um desenlace negocial até 1 de agosto. A nova lista de contramedidas, no valor de 72 mil milhões, "não esgota a nossa caixa de ferramentas e todos os instrumentos permanecem na mesa", segundo Maros Sefcovic – que desta forma indica que o bloco continua a preferir a via do diálogo a qualquer ‘escaramuça’ comercial que acabe por extremar os dois parceiros.
De qualquer modo, Trump já disse que qualquer medida retaliatória vinda de qualquer parte do mundo – supõe-se que União Europeia incluída – merecerá da sua administração o acrescento de uma nova tarifa em cima daquela que está decidida para manter o ‘gap’ entre importações e exportações.
Na União Europeia, não há, apesar de todas as declarações, uma visão alinhada do problema. As duas maiores economias, França e Alemanha, parecem estar fartas de andar ‘a reboque’ dos humores de Donald Trump e de participarem em sucessivas reuniões que se desmentem umas às outras. Mas há países que preferem contemporizar. A Dinamarca, que assegura a presidência rotativa da União, diz que os Estados-membros mantêm o apoio às posições da Comissão. Lars Loke Rasmussen, ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros, transmitiu a ideia de "um forte sentimento de unidade" na conferência de imprensa após a reunião dos 27 ministros da pasta.
Entretanto, Bruxelas diz estar à procura de novos entendimentos comerciais com o resto do mundo, sobretudo na Ásia e Pacífico. Depois de um princípio de entendimento com a Indonésia, que Ursula von der Leyen deu a conhecer este domingo, podem seguir-se acordos com a Tailândia, Filipinas ou Malásia e mesmo com a Índia até ao final do ano. Há ainda negociações em curso com os Emirados Árabes Unidos e a intenção de lançar "tão brevemente quanto possível", disse Sefcovic, com os países da Parceria Transpacífico (CCTTP, que reúne Canadá, Austrália, Brunei, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietname).
Evidentemente, como sucedeu no caso dos BRICS, o mais provável é que, por cada acordo que a União Europeia assine com países terceiros, Washington acrescente novas tarifas aos países envolvidos. Uma possibilidade real que indica que é o grupo dos Estados-membros de linha dura que têm razão.