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Tarifas: termina hoje a trégua comercial proposta por Donald Trump

Num quadro de grande expectativa, a União Europeia insiste nas tarifas ‘zero-por-zero’, mas Berlim quer aumentar a parada e exige tarifas recíprocas se Washington se mantiver irredutível. A data de 1 de agosto é o primeiro dia do resto da vida do comércio global.

Termina esta quarta-feira a espécie de moratória que o presidente Donald Trump concedeu ao resto do mundo antes de impor as suas tarifas ao comércio que segue para o interior das fronteiras dos Estados Unidos. O tema foi alvo de várias novidades oriundas do lado da Casa Branca desde que a moratória foi decretada, a 2 de abril passado – o que só serviu para avolumar ainda mais a enorme incerteza que rodeia a questão. Do ponto de vista da União Europeia, Trump “recomendou” (foi o termo usado) tarifas de 50%, o que deixou a indústria e os serviços do bloco em plena crise existencial. Desde então, foram mantidos vários encontros formais entre as duas partes, mas, segundo quase todos os agentes próximos, estes correram mal para as ‘cores’ europeias: os norte-americanos mantiveram-se irredutíveis no discurso segundo o qual a União é uma ‘construção’ erigida para se aproveitar da bondade dos Estados Unidos, e chegou a hora de o bloco pagar por isso. Isto mesmo foi relatado ao JE por várias fontes ao longo das últimas semanas, nomeadamente por responsáveis dos setores têxtil, de componentes automóveis e dos vinhos.

O ministro português das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, faz parte do grupo, aparentemente minoritário, dos que se mantêm otimistas: espera um acordo rápido que evite “destruição económica”. “É difícil [falar em percentagens para tais tarifas, pois] há muitas variáveis em jogo, há muitos bens a serem analisados. Não há assim um número, mas quanto mais baixo puder ser o valor das tarifas, melhor, porque elas não são um bom instrumento de política económica”, disse Joaquim Miranda Sarmento antes de uma reunião, esta semana, do Eurogrupo, em Bruxelas. O que há a evitar é a aplicação de tarifas punitivas de 20% a 50% sobre produtos europeus.

De qualquer modo, já esta semana, as negociações com a União pareciam estar num caminho mais favorável a um entendimento, pelo menos a julgar pelas palavras do presidente norte-americano, que classifica agora a postura europeia como "muito boa". "Eles trataram-nos muito mal até há bem pouco tempo, mas agora estão a tratar-nos muito bem - parece outro mundo", afirmou Trump. De qualquer modo, o presidente dos EUA realçou, nas redes sociais, que não há mais moratórias: "todas as verbas serão devidas e começarão a ser pagas a 1 de agosto de 2025 – sem extensões", mesmo que as negociações sejam mais difíceis.

O secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, confirmou: as tarifas, que tinham sido suspensas até 9 de julho, entrarão em vigor a 1 de agosto. Ao mesmo tempo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmava que as tarifas regressarão aos níveis de 2 de abril se os países ou blocos não tiverem acordos finalizados até 1 de agosto. Para aumentar a confusão, Trump disse que o governo dos EUA iria enviar cartas, "provavelmente a 12" países, com os quais não chegou a um acordo comercial, para notificá-los das tarifas que pretende impor, mas, dois dias depois, Scott Bessent falou de 100 países: "Quando enviarmos as 100 cartas, definiremos as suas tarifas, pelo que teremos 100 acordos assinados nos próximos dias". O secretário do Tesouro acrescentou que a estratégia era "aplicar a pressão máxima" para obter acordos. Vale a pena recordar que um tribunal federal decidiu em maio que Trump não tem autoridade para aplicar "de forma ilimitada" a lei histórica que está na base das "tarifas recíprocas", mas um tribunal de recurso permitiu-lhe, em junho, impô-las enquanto o caso está a ser decidido.

Menos dados a contemplações parecem estar os germânicos: o ministro das Finanças alemão disse esta terça-feira que os europeus querem um acordo com os Estados Unidos, mas não a qualquer preço. Lars Klingbeil falava aos deputados quando sublinhou a necessidade de a União Europeia estar pronta para retaliar caso não consiga um acordo positivo relacionado com as tarifas comerciais. "Queremos um acordo com os americanos, mas também digo de forma muito clara que este acordo tem de ser justo. Se não formos bem-sucedidos em alcançar um acordo justo com os EUA, então a União Europeia terá de tomar contramedidas para proteger a nossa economia". "Esta disputa comercial está a prejudicar-nos a todos, tem de acabar rapidamente. Os europeus ainda estão de mão aberta... Mas o acordo tem de ser justo. Não vamos aceitar qualquer coisa", defendeu Lars Klingbeil.

Mais recentemente, dois dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos ficaram finalmente a saber aquilo com que podem contar: o Japão e a Coreia do Sul foram ‘notificados’ com tarifas de 25%, valores idênticos aos anunciados a 2 de abril (24% e 25%, respetivamente). Trump enviou cartas na tarde de segunda-feira para uma dúzia de outros parceiros comerciais, da Malásia (25%) à África do Sul (30%) e à Sérvia (35%). No geral, as taxas das cartas acompanharam o que Trump havia prometido em abril, mas com algumas exceções: o Camboja viu sua taxa cair de 49% para 36%, o Laos passou de 48% para 40%, e Mianmar foi beneficiado com uma queda de 4 pontos percentuais para 40%.

Já depois disso, e na sequência da cimeira dos BRICS no passado fim de semana, Donald Trump garantiu que irá avançar com tarifas adicionais de 10% sobre países “antiamericanos” que ali estão acantonados, entre eles a China, Rússia, Índia, Brasil e África do Sul.

Entretanto, pouco se sabe sobre o caso particular de Espanha. Quando o chefe do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, recusou alocar 5% do PIB à defesa, Trump disse que “Espanha pagará de qualquer maneira”, nem que seja por via das tarifas especiais para o seu caso. Mas, desde então, não há notícia de que tenha havido encontros entre os dois países, apesar de Trump ter assegurado que iria seguir pessoalmente o assunto.

De qualquer forma, há indicação de que, caso os países decidam retaliar, os Estados Unidos vão acrescentar uma sobretaxa de 25% àquelas que estarão em vigor a 1 de agosto – não sendo claro se essa sobretaxa de ‘mau comportamento’ será ou não destinada a todos os incumpridores da vontade de Washington.

Entretanto, as bolsas asiáticas fecharam em ligeira alta, apesar de nova barreira imposta pelos EUA ao Japão e Coreia do Sul, enquanto as praças europeias negociaram perto do nulo. Em Nova Iorque, os principais índices abriram sem direção definida e com variações abaixo de 0,15%, isto depois de Trump ter dito que o prazo para a entrada em vigor das tarifas, 1 de agosto, era “firme, mas não a 100%”.