A subida dos níveis de dívida, combinada com um crescimento perto de nulo e com forte probabilidade de não melhorar no futuro próximo, leva o Banco Central Europeu (BCE) a alertar os Estados-membros do euro para o risco de uma nova crise da dívida soberana, sobretudo no atual contexto de aperto monetário após quase uma década de política ultra-acomodatícia.
O banco central publicou esta quarta-feira o ‘Financial Stability Review’, onde aponta para os elevados rácios de dívida de alguns Estados-membros, lembrando o impacto que a subida dos juros tem tido nas suas contas públicas. Casos como o grego (163,6% de dívida em função do PIB), o italiano (137%) e o francês (112,2%) são apresentados como preocupantes, sendo que a preocupação se redobra se considerarmos que as projeções antecipam uma subida destes rácios nos próximos anos.
“As vulnerabilidades soberanas estão a aprofundar-se. Apesar das reduções recentes nos rácios de dívida, os desafios orçamentais permanecem em vários países da zona euro, exacerbados por questões estruturais como um baixo crescimento potencial ou incerteza política acrescida”, lê-se no documento.
Apesar das preocupações geradas pelos países mais endividados, os ‘frugais’ do Norte também apresentam debilidades que se podem materializar em crises mais agudas. Por um lado, até economias como a alemã, onde há uma norma constitucional sobre aumentos de dívida pública, estão acima dos 60% definidos pela Comissão Europeia como limite para o indicador; por outro lado, o crescimento tem desapontado, com o motor industrial europeu a preparar-se para o segundo ano consecutivo de recessão.
Esta dinâmica de crescimento anémico no Norte e Centro do continente é agravada pela recente reeleição de Donald Trump para a Casa Branca, depois de prometer tarifas de 20% em todos os bens produzidos fora dos EUA, incluindo a UE. A confirmar-se, estas barreiras ao comércio internacional irão causar ainda mais estragos na economia europeia, pressionando também a vertente das contas públicas e o financiamento nos mercados.
“Enquanto os mercados financeiros têm sido resistentes até agora, não há espaço para complacência. As vulnerabilidades inerentes tornam os mercados de ações e crédito propensos a uma volatilidade acrescida”, escrevem o banco central.
Isto significa também que o setor privado não está imune a estas fragilidades, que se traduziriam numa subida dos custos de financiamento e numa pressão acrescida nos orçamentos das empresas e famílias. Depois de um capítulo de elevada inflação e a subida mais rápida dos juros na história da moeda única, os governos quererão evitar a materialização destes riscos.
Ainda assim, e apesar da elevada interligação entre os bancos de diferentes Estados-membros do bloco euro, os rácios de capital e as almofadas financeiras do sistema bancário são bastante mais reconfortantes hoje em dia do que há dez anos, aquando da crise financeira e soberana, o que confere uma maior segurança para atravessar estas dificuldades, ressalva o BCE.