A Sonangol anunciou na sexta-feira o lançamento da sua primeira emissão de dívida na bolsa de Luanda, no valor de 75 mil milhões de kwanzas (cerca de 82 milhões de euros), no que constitui um passo crucial para a dinamização do mercado de capitais angolano, concretizando assim a intenção anunciada em dezembro, embora a desvalorização do kwanza tenha diminuído o valor previsto em dólares.
Fonte da petrolífera disse ao JE que em vista está igualmente a entrada em bolsa, através de uma oferta de ações, mas essa operação só deverá ter lugar a partir de 2026.
A colocação de dívida enquadra-se numa estratégia de diversificação das fontes de financiamento da companhia, que tem vários projetos relevantes em curso (ver abaixo), mas é importante também para a economia angolana, devido ao peso que a Sonangol tem na mesma. A petrolífera é vista quase como se fosse o fundo soberano de Angola e o facto de oferecer aos particulares e às empresas a oportunidade de investir em dívida com reduzido risco constitui uma importante alternativa para poupar e investir.
Recorde-se que as obrigações em causa terão o valor nominal de 10 mil kwanzas cada e maturidade de cinco anos, dando direito ao pagamento semestral de juros à taxa nominal anual bruta de 17,5%. Este cupão fica ligeiramente acima da taxa de juro fixada pelo Banco Nacional de Angola (BNA), que atualmente está nos 17%. E fica abaixo da inflação média anual esperada para 2023, que segundo o banco central deverá ficar entre 12% e 14%, embora a tendência dos últimos meses seja no sentido ascendente.
O investimento mínimo será de 100 mil kwanzas (109 euros, ao câmbio atual), que correspondem a dez obrigações, tornando possível o investimento pelo cidadão comum.
A oferta pública de subscrição vai decorrer entre as 8h00 do dia 28 de Agosto de 2023 e as 15h00 do dia 12 de Setembro de 2023. O Banco Fomento Angola, o Standard Bank e a Áurea – Sociedade Distribuidora de Valores Mobiliários serão os intermediários responsáveis pela colocação das obrigações.
Novos projetos à vista
A Sonangol anunciou em junho um lucro de 838 mil milhões de kwanzas (1,8 mil milhões de dólares) no exercício de 2022, uma quebra de 15% em relação ao ano anterior. A queda do resultado líquido deveu-se às “restrições à oferta causada pelas sanções impostas à Rússia pelos conflitos na Ucrânia”, bem como pelas “tensões geopolíticas e expectativas positivas sobre a procura sazonal” e pelos novos surtos de Covid-19 na China, adiantou.
Apesar de uma quebra dos lucros, a Sonangol destaca que atingiu o maior volume de negócios anual, desde a sua separação da função concessionária, aliados à recuperação dos mercados e ao preço médio do barril de petróleo comercializado por 102 dólares”.
O EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), de acordo com o comunicado da Sonangol, ficou perto de 2,5 mil milhões de kwanzas (5,3 mil milhões de dólares), um incremento acima de 50%. Este valor permitiu, segundo a empresa, “manter os capitais próprios positivos em 13,4 mil milhões de dólares, bem como a manutenção da capacidade financeira para continuidade das operações”.
No segmento da exploração e produção, a Sonangol revela o “incremento da atividade de exploração em 42 poços (quatro de exploração, 25 infil e 13 de desenvolvimento)”. A empresa perfurou ainda oito poços de avaliação e recuperou as plataformas fechadas em Campos Palaca e Pacassa, dando seguimento ao processo de alienação de interesses participativos em blocos petrolíferos visando fortalecer a sua presença enquanto operador”.
Na refinação e petroquímica, a petrolífera estatal angola destaca a conclusão e entrada em operação do Novo Complexo de Produção de Gasolina da Refinaria de Luanda. Este complexo permite “aumentar a capacidade de produção de gasolina em quatro vezes, contribuindo assim para um acumulado potencial de 450 mil TM por ano, com impactos significativos na redução das importações”.
“Relativamente à construção da Refinaria de Cabinda, registou-se, ao final do ano, um avanço físico global de 24%, com perspectiva de conclusão da primeira fase no IV trimestre de 2023. Para a Refinaria do Lobito, ressalta-se a definição da configuração da refinaria e a atualização do FEED, enquanto projectos estruturantes relevantes para a inversão do quadro nacional de importação de refinados”.
No sector do gás e da energias renováveis, a Sonangol continuou a construção da Central Fotovoltaica de Caraculo no Namibe, adjudicou a construção da Central Fotovoltaica de Quilemba na Huíla e concluiu a alteração da posição contratual da TotalEren para a TotalEnergies e respetiva alteração da estrutura acionista da Sociedade Quilemba Solar.