Capitais próprios positivos apenas por via de criatividade contabilística – “que a UEFA não reconhece” – despesas de quem vive acima das suas possibilidades e uma gestão geral dos ativos mais importantes do clube que é não apenas ineficiente, como retrata uma deriva que é necessário estancar o mais depressa possível. José Pedro Pereira da Costa, Chief Financial Officer (CFO) da candidatura ‘’insurgente’ de André Villas-Boas às eleições do Futebol Clube do Porto – que terão lugar a 27 de abril próximo – é muito crítico da forma como a SAD do clube é gerida – e que, afirma no podcast “JE Entrevista”, perde em toda a linha para a concorrência mais direta: o Benfica e o Sporting.
Tanto no que tem a ver com a gestão dos passes dos jogadores – que não são devidamente observados como ativos que não podem ser desvalorizados “e muito menos chegar a zeros” – como a mais trivial venda de bilhetes e de merchandising, tudo, na ótica de Pereira da Costa, pode ser melhorado. Mais: tem de ser melhorado, sob pena de atirar o clube para as margens da irrelevância enquanto instituição.
“As situações económica e financeira são preocupantes”, afirma. “Existe um problema económico porque o clube não tem conseguido gerar receitas que cubram sustentavelmente os custos”. Isolando os défices operacionais como fator que ‘corrói’ a saúde financeira do clube, a proposta da lista de que faz parte é precisamente a de mudar radicalmente tudo o que vier a encontrar do lado negativo do balanço.
Como seria de esperar, a ‘campanha eleitoral’ tem deixado as questões económicas como subalternas ao debate mais específico das ‘paixões’ que rodeiam o clube – o que tem transformado as últimas semanas num arremessar de acusações entre as duas candidaturas – há mais duas, mas parece que vão ‘morrer’ incógnitas.
Para André Villas-Boas, a causa da sua candidatura, como disse na apresentação da proposta, tem fundamentalmente a ver com o ‘envelhecimento’ que décadas de presidência centradas na mesma pessoa, Jorge Nuno Pinto da Costa, motivaram. O ‘sangue novo’ que Villas-Boas, antigo treinador, quer que seja usado para uma transfusão profunda tem feito caminho na cidade – como é fácil detetar nos cafés, nas paragens do metro ou nos bancos dos jardins.
Nascido numa família conservadora, André Villas-Boas cresceu entre relatórios de contas: o pai, Filipe Villas-Boas, é acionista de uma empresa metalomecânica e presença assídua na área do associativismo empresarial (AFIA e AIMMAP). As questões económicas e financeiras não lhe são, por isso, estranhas – ao contrário do que poderia imaginar-se pela sua qualidade de ex-treinador.
Mesmo assim, a escolha de José Pedro Pereira da Costa para CFO é a assunção de que as finanças do clube são o esteio que tem de ser consolidado. Pereira da Costa foi administrador executivo da NOS nos últimos dez anos, com a responsabilidade da área financeira; antes, tinha sido CFO da PT, entre 2003 e 2007, e depois da ZON, empresa que viria a dar origem à NOS.
Desde logo, o economista queixa-se de que há uma grande opacidade da parte da candidatura adversária. Não tanto no que está escrito no balanço, mas precisamente porque o que está escrito demonstra a que qualquer coisa não está bem. E corre o risco de continuar assim: Pereira da Costa diz que as propostas de crescimento do clube em termos financeiros apresentadas pela candidatura de Pinto da Costa inscrevem-se todas do mesmo padrão: a absoluta falta de informação. É a isso que se assiste, disse, quando os ‘oponentes’ falam da nova empresa a criar com um parceiro estrangeiro (o Porto Comercial II) ou d plano de construção de um novo complexo de academia do FCPorto (um centro de estágio e de aprendizagem) “que ninguém parece saber ao certo quanto vai custar”.
No meio da contenda mediática, ficou a saber-se que o seu homólogo na candidatura de Pinto da Costa – o ex-ministro e ex-presidente da autarquia do Porto Fernando Gomes – não transitará para o novo elenco. Castigo por algum mau serviço? Não interessa, na ótica de Pereira Costa. Que acaba com um aviso à navegação: o projeto – de recuperação de receitas, diminuição de custos – é para manter numa lógica estritamente nacional (“se não for assim quer dizer que fracassámos”) e para implementar a seis anos.