O sector industrial dos EUA dá sinais de fraqueza no terceiro trimestre, enfrentando uma procura em queda, que levou já à redução do emprego, pela primeira vez este ano, e à queda das novas encomendas. Ainda assim, a inflação no sector voltou a sentir-se, com as fábricas a reportarem nova aceleração nos custos intermédios, um cenário que volta a levantar dúvidas sobre a saúde da maior economia mundial.
O índice de gestores de compras (PMI), calculado pelo S&P Global, para a indústria norte-americana caiu, em agosto, para 47,9 pontos, uma revisão em baixa marginal em relação à estimativa rápida e a primeira leitura em terreno de contração (abaixo de 50 pontos) este ano. Na nota a comunicar o resultado, a agência financeira explicou que tal se deveu, sobretudo, a uma queda da procura, que tem levado a um abrandamento no ritmo de novas encomendas.
“Vendas mais lentas do que se esperava estão a levar os armazéns a acumular stock não vendido e a escassez de novas encomendas levou as fábricas a cortar a produção pela primeira vez desde janeiro”, aponta Chris Williamson, responsável pela unidade da S&P Global de análise económica. “Os produtores estão também a reduzir o emprego, pela primeira vez este ano, e a comprar menos inputs, dadas as preocupações com o excesso de capacidade”, acrescenta.
De facto, o emprego nessa área caiu pela primeira vez desde o início do sector, um sinal claro das preocupações que afetam as fábricas nos EUA. A juntar a isto, o ritmo de abertura de novas empresas caiu pelo segundo mês consecutivo.
Este indicador do mercado laboral é ainda mais relevante considerando que esta sexta-feira o Departamento do Trabalho norte-americano divulga os dados quanto à criação de emprego em agosto, ao passo que a Reserva Federal coloca cada vez mais o foco da política monetária do lado laboral.
Os resultados do inquérito feito pelo ISM, responsável pelo seu próprio PMI, secundam estas conclusões: a produção industrial está em queda, com o ritmo de novas encomendas a abrandar ainda mais em relação ao mês anterior, o que também tem levado à resolução dos entupimentos nas cadeias de fornecimento (o inquérito do S&P Global aponta mesmo para o ritmo mais acelerado de quedas desde abril e pelo 23º mês consecutivo).
Ainda assim, os preços não dão sinais de abrandamento; pelo contrário, os custos intermédios aceleraram, refletindo novas subidas nos fretes decorrentes da tensão geopolítica global, o que também deve empurrar os preços de venda. Do lado dos inputs, a aceleração foi a mais intensa nos últimos 16 meses, ao passo que as expectativas quanto aos preços de venda mostraram apenas a segunda subida mais expressiva do ano.
Estas notícias não serão do maior agrado dos decisores de política monetária, embora o mercado tenha já dado como adquirido um corte de juros na próxima reunião da Fed, um cenário praticamente confirmado pelo presidente Jerome Powell. A próxima reunião do banco central ocorre entre 17 e 18 de setembro, sendo que investidores e analistas antecipam uma descida de 25 pontos base.