A SAP tem quase uma dezena de centros de experiência no mundo, onde os clientes podem ver ‘in loco’ como é que a vossa tecnologia altera o modo de fazerem negócios. Quantas visitas receberam a estes espaços, montras de inovação?
Tivemos 600 visitas de clientes no ano passado aqui em Walldorf. Começámos em Nova Iorque a construir centros de experiência e este ano, desde fevereiro até agora, tivemos cerca de 250 interações com as empresas. Do ponto de vista de números, todos os grandes centros de experiência, os sete [Nova Iorque, Walldorf, Berlim, Munique, Singapura, Paris e Bangalore], temos aproximadamente o mesmo tipo de visitantes todos os anos ou todas as semanas. É claro que também é preciso dizer que em Walldorf, por vezes, não é possível porque temos dois-três clientes por dia. Os clientes também querem ficar algum tempo, fazer workshop, reservar o tempo necessário para discussões. Está-se realmente a aprofundar a sua cadeia de valor, os processos técnicos. Não devem chegar, ver tudo a correr e sair novamente. Precisam de sentir a experiência, até porque se querem gerir uma cadeia de abastecimento de forma mais sustentável há que pensar também nas compras (procurement), produção...
Como disse numa entrevista: “Às vezes os benefícios das soluções SAP não são óbvios para os clientes”. É por esse motivo que eles precisam de as ver com os próprios olhos, em ambiente real?
Sim. Um bom exemplo disso, e também um dos motivos pelos quais construímos este centro de experiência, é que o cliente nunca pede pelo termo inovação quando chega e pensa na inovação. Dizem “precisamos ir ali ou acolá”. Esta é uma base para a inovação, portanto é muito importante ter o sistema a funcionar bem, mantê-lo sempre atualizado com as tecnologias mais recentes, disponibilizá-lo e permitir que se estenda até mesmo aos dados de ponta provenientes da tecnologia de visão computacional. Nem sempre precisamos de lhes dize que este ou aquele recursos e funções são os mais recentes, porque não é algo que se atualize e se veja como ter um novo iPhone. É algo não tangível.
Normalmente, que tipo de empresas gosta mais de experienciar a tecnologia nestas lojas ou fábricas que funcionam quase como showrooms?
Quando olhamos a nossa base de clientes, principalmente de base instalada, nota-se que ficam muito interessados nesta nova experiência, porque veem que falamos sobre a cadeia de valor, oportunidades de negócios, e no final decidem: “Vou comprar ou talvez não”. No fundo, estamos a oferecer um mapa de como usar a transformação com SAP. Não é um show de vendas. É pormo-nos no lugar do cliente.
Veremos um em Lisboa?
Infelizmente, a nossa comunidade não é tão grande. Temos mais escritórios de vendas em Lisboa e acho que um pequeno de experiência. Parte do conceito aqui é pôr tudo no digital, termos técnicas e tecnologia para também criar uma experiência caso o cliente não possa visitar o centro fisicamente. Ou seja, podemos ter um gémeo digital da loja em Lisboa ou fazer transmissão por ecrãs. No entanto, acho que a experiência física de estar, por exemplo, no nosso supermercado a tirar algo da prateleira, é uma experiência realmente diferente. Contudo, o que pretendemos fazer - e talvez aí envolva Lisboa - é um centro de experiência mais flexível, em que possamos embalar contentores que encaminhamos para todo o mundo.
Em que sentido?
Não posso contar muito, mas na altura da crise da Covid-19, em 2020, chegámos a falar com a BioNTech sobre contentorizar a sua produção para fabricar vacinas também localmente, em África ou onde quer que seja. Há muitos processos de back-end da SAP que fazem isso acontecer, com as devidas regulações do país e quiçá alterações na configuração da API [Application Programming Interface ou Interface de Programação de Aplicações]. É algo complexo por causa da logística e dos controlos de qualidade. Vou-lhe dar um exemplo: hoje em dia, se produzir um lote de vacinas e os colocar no frigorífico é preciso ter uma certa temperatura e verificação de qualidade que se abra a porta do frigorífico e mantenha essa qualidade. Este é um processo de negócio que se configura num sistema ERP [Enterprise Resource Planning - Planeamento de Recursos Empresariais]. Pode-se configurar em várias regiões. É uma ferramenta poderosa que temos.
O que é que pensaram fazer, concretamente?
Pensámos: “Ok, e se colocássemos – qualquer coisa que se produz, talvez não uma vacina real - numa unidade de produção ali, num contentor dentro de um navio, e a enviamos para todo o lado?”. Pode-se utilizá-lo para colocar o centro de dados de ponta em cima deste contentor, também um recurso de energia autónomo, enviá-lo e mostrar aos clientes como a produção descentralizada poderá funcionar como algo muito tangível. Assim, se voltar a haver uma pandemia, um vírus ou qualquer outra coisa, pode-se descentralizar. Pode-se iniciar a produção diretamente ali no contentor, com base nas necessidades de cada um, testar, fazer investigação, recolher amostra de paciente, analisá-las e depois devolvê-las. Ou seja, fazer a entrega na última milha. Todos estes processos se podem explicar facilmente se tiveres algo à frente e veres como funciona com SAP. É possível ter uma unidade de produção descentralizada com tecnologia nova e contentores.
Quando?
Se conseguirmos, talvez no próximo ano. Pretendemos construir isto de uma forma flexível para que se houver uma situação qualquer, de saúde por exemplo, em Lisboa, possamos colocar tudo num navio e enviá-lo para Lisboa. Temos um centro de experiência pop-up em Lisboa e isto é algo no qual pretendemos agora investir. Temos de pensar como o fazer da melhor forma e fazer com que os clientes realmente percebam o que o software SAP está a fazer nestes processos. Dá-nos mais flexibilidade do que apenas trazer os clientes para os centros de experiência físicos.