As forças de paz russas não participarão nas hostilidades em Nagorno-Karabakh, nem de um lado nem do outro, disse o vice-presidente do Conselho da Federação, Konstantin Kosachev. "Aqueles que esperam que o contingente de manutenção da paz tome qualquer ação fora do seu mandato de manutenção da paz estarão errados. Nem a Rússia nem o contingente têm o direito de, ou vão participar nas hostilidades ao lado de ninguém, ou tentar resolver as questões da região mudando a balança a favor de alguma das partes", disse, citado pela agência TASS.
Konstantin Kosachev disse que a Rússia deve considerar a decisão arménia de reconhecer Nagorno-Karabakh como parte do Azerbaijão, que foi afirmada em cimeiras realizadas sob os auspícios da União Europeia em outubro de 2022 e maio de 2023.
"E se alguns na Arménia, ou na Rússia, ou em qualquer outro lugar pedirem, por exemplo, que as tropas russas estacionadas na cidade arménia de Gyumri intervenham, tendo em vista o suposto ataque à Arménia, isso não acontecerá”, afirmou Kosachev.
A Rússia, tida como apoiante da Arménia no conflito – enquanto Azerbaijão é apoiado pela Turquia – é considerada há décadas como o país que consegue manter a paz na região. A União Europeia – na fase pós-invasão da Ucrânia – tentou intervir na região, mas acabou por ter muito pouco sucesso.
Kosachev disse que a força de paz russa provou plenamente a sua eficiência, pois tem relações de trabalho com todas as partes do conflito e conseguiu evitar quaisquer ramificações perigosas para a população local. “Tentaremos trazer a situação de volta aos acordos da cimeira trilateral de 2020-2022, onde todos os passos para uma solução pacífica para o problema de Nagorno-Karabakh foram claramente definidos”.
Para o dirigente russo, “o afastamento destes acordos promove novos surtos de violência e, por conseguinte, é necessário um entendimento comum de que nenhum problema na região pode ser resolvido pela força, mas apenas através de negociações pacientes e com garantias firmes de segurança e respeito pelos direitos da população local”, disse.
O conflito entre o Azerbaijão e a Arménia por causa de Nagorno-Karabakh está em curso desde o final da década de 1980. Esta terça-feira, a situação agravou-se novamente quando o Azerbaijão anunciou o início de "medidas antiterroristas locais" e exigiu a retirada das tropas arménias da região. A Arménia replicou que não há forças armadas arménias em Nagorno-Karabakh e descreveu a ação do Azerbaijão como "um ato de agressão em larga escala".
Já esta quarta-feira o Ministério da Defesa do Azerbaijão conseguiu chegar a um acordo, com a ajuda da força de paz russa, para suspender a operação antiterrorista em Nagorno-Karabakh a partir de ontem.
Mas a situação no terreno permanece tensa, apesar de haver um acordo de cessar-fogo em vigor. Autoridades da capital regional, Stepanakert, e da capital do Azerbaijão, Baku, confirmaram que representantes seus se reunirão em Yevlakh, no Azerbaijão, esta quinta-feira, para negociar. O Azerbaijão, que exigiu a dissolução do governo local em Nagorno-Karabakh, disse que as negociações incluirão planos para a reintegração da região no Azerbaijão. Um conselheiro do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse, citado pela imprensa internacional, que está preparado “um plano para a reintegração da população arménia de Karabakh”.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu a Aliyev para proteger os direitos dos arménios na região e "garantir um cessar-fogo total e um tratamento seguro e digno por parte do Azerbaijão aos arménios de Karabakh".