O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, entende que o próximo Governo deverá ter uma perspetiva diferente de coesão territorial e de “valorização de um desenvolvimento multipolar” de Portugal. E diz porquê: nos sucessivos governos, em particular o último de António Costa (PS), houve atraso nas decisões de investimento que limitaram o potencial de Braga, entre outras regiões. Em entrevista o Jornal Económico, à margem da inauguração do centro tecnológico de Coimbra da Accenture, onde compareceu como convidado para falar sobre o “caso de sucesso” do complexo inaugurado na cidade em 2017, o autarca falou da importância da “chegada” da multinacional ao concelho, bem como sobre o papel da InvestBraga – Agência para a Dinamização Económica de Braga enquanto “braço económico” do município para o desenvolvimento do município.
O que é que o centro tecnológico avançado da Accenture representou para Braga? Como analisa o antes e o depois?
Trouxe várias coisas. Eu diria que a primeira, e mais importante, foram 700 novos postos de trabalho. E essa é uma das grandes prioridades que nós temos assumido no município, diria em todo o concelho, em interligação com várias outras instituições. É tornar Braga uma cidade atrativa para a fixação de empresas que gerem postos de trabalho com capacidade, com oportunidades profissionais bem remuneradas e com perspetivas de progressão na carreira para os nossos jovens e para a população que nós queremos atrair. A juntar a isso, há uma dimensão mais imaterial, que é o facto de o centro da Accenture ter demonstrado, que depois foi acompanhado por outras empresas, como é o caso da Fujitsu, da Webhelp, Marks e várias outras, que demonstrar que Braga é um local onde empresas de vanguarda, muito inovadoras e que têm a necessidade de recrutar recursos humanos muito qualificados se podem instalar e desenvolver com sucesso os seus projetos.
Como é que Braga consegue ter vantagem competitiva?
A primeira fonte de competitividade são os próprios recursos humanos, são as pessoas, aquelas que são formadas na Universidade do Minho, que alimentam boa parte deste pipeline, mas não só na Universidade do Minho, também na própria Universidade Católica e no Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA). Mas, a juntar a isso, Braga tem sido uma cidade que, pela sua qualidade de vida, tem conseguido atrair e reter muito talento nacional e internacional. Muitas pessoas de outros pontos do país, de Lisboa, do Porto, de outras regiões têm-se fixado em Braga nos anos mais recentes. Nós temos, também, atraído muitos cidadãos migrantes de outras geografias, obviamente com destaque para o Brasil, que representa já hoje cerca de 8% da nossa população. E onde essa qualidade de vida e esse dinamismo económico tem sido um fator-chave. E estamos a falar de imigração qualificada, de pessoas com recursos em termos técnicos, em termos académicos, que obviamente são uma mais-valia para este processo. E por isso é que Braga foi, na última década, de acordo com os Censos de 2021, a cidade que mais cresceu em população no nosso país.
A InvestBraga foi criada há precisamente dez anos. O que foi conseguido até agora e qual a visão para os próximos anos?
Eu diria que a InvestBraga foi um pilar fundamental do trabalho que nós desenvolvemos, da estratégia de médio-longo prazo que foi assumida desde o início. Isso é muito importante do ponto de vista das políticas públicas, não estarmos a trabalhar apenas no imediato, mas termos objetivos ambiciosos numa lógica mais abrangente em termos de horizonte temporal. Uma das primeiras missões que a InvestBraga fez foi desenvolver um plano de estratégia de desenvolvimento económico a 12 anos até 2026. Depois, o trabalho de interlocução que tem tido com os agentes locais, criando uma concertação e um alinhamento muito forte do ponto de vista das estratégias e das ações que nós desenvolvemos, quer os centros de investigação, como é o caso do Instituto de Nanotecnologia (INL), como é o caso da Universidade do Minho, das outras instituições de ensino superior, mas também o próprio tecido empresarial, que têm sido aliados fundamentais do trabalho que desenvolvemos. E diria que isso redundou no sucesso destes dez anos em vários indicadores. Todo o crescimento económico que Braga teve, tornar-se um dos concelhos mais exportadores do país, de gerar tantos postos de trabalho – cerca de 2000 postos de trabalho por ano -, de atrair muitas empresas nacionais e internacionais, de ajudar ao crescimento das empresas locais.
Para o futuro, eu diria que o objetivo é alicerçar esse mesmo crescimento, garantindo a sua diversificação. Braga tem outras áreas de competências que ainda não estão, se calhar cabalmente exploradas, como o caso das ciências da saúde, o caso da biotecnologia. E vamos continuar a investir também nessa ligação entre o conhecimento e as empresas para atrair ainda mais empresas no futuro.
Quais os principais entraves para os investidores no concelho?
Os desafios que temos têm a ver com a própria competitividade que se gera entre as próprias empresas. Braga, felizmente, tem tido essa capacidade, não só de ter um pipeline muito volumoso de novos licenciados que chegam às empresas todos os anos, mas também de atrair massa humana nacional e internacional que, no fundo, nos permite ajustar a oferta e a procura em termos de mercado de trabalho. Mas também sabemos que aquilo que poderia ser no passado um custo menor face a Lisboa e Porto, não só em termos do próprio do custo dos recursos humanos, mas também do custo da qualidade de vida que a cidade tem, obviamente subiu. Mas isso é fonte do crescimento da cidade. Como muitas vezes se diz, é um problema bom, que não tem obstaculizado essa atratividade e que acaba por também criar mais opções e oportunidades para quem lá vive.
O que é que espera do próximo Governo em termos de incentivo ao investimento?
Eu acho que, em primeiro lugar, é preciso ter uma visão integral do país. Os sucessivos governos, e este em particular, que foi um que teve uma visão demasiado distorcida em relação às duas áreas metropolitanas e que descurou muitas vezes o potencial de desenvolvimento que existe em outras regiões do país. Porque é preciso passar das palavras às ações. Não basta reconhecer o mérito e o potencial de outros territórios, é preciso investir e contribuir para o desenvolvimento cabal e o aproveitamento pleno desses recursos. E, no caso de Braga, que é aquele que obviamente melhor conheço, houve algum desperdiçar de oportunidades, houve algum retardar de investimentos que penalizou o nosso potencial de desenvolvimento. Portanto, eu diria que o próximo Governo deverá ter essa perspetiva de coesão territorial, de valorização de um desenvolvimento multipolar do nosso território e, obviamente, de apoiar o dinamismo económico social de territórios, como Braga e Coimbra, para promover um maior desenvolvimento integral do país