Com nova subida de 25 pontos base (p.b.) na reunião de julho virtualmente confirmada – até pelo próprio presidente da Fed – , a grande questão em torno do aperto monetário nos EUA prende-se agora com a taxa terminal: quando terminará a subida de juros e em que valor? Os mais otimistas apontam a cortes já este ano, um cenário que a autoridade monetária americana tem procurado afastar, mas há também quem vá pedindo o regresso a aumentos de 50 p.b., face a uma economia mais forte do que se esperava. Com um caminho tão incerto, o mercado ouvirá com atenção a conferência de imprensa após o anúncio da decisão.
A reunião de julho do Comité Federal de Mercado Aberto (FMOC, na sigla em inglês) da Reserva Federal arrancou esta terça-feira, mas o anúncio da decisão está marcado para quarta-feira. O resultado foi já pré-anunciado por Jerome Powell, presidente do organismo, que indicou com elevado grau de probabilidade que nova subida de 25 p.b. estava na calha.
Assim, não é de estranhar que o mercado esteja a atribuir 98,9% de possibilidades de se verificar este cenário, quase tomando-o como certo. No entanto, nas últimas 24 horas, uma subida de 50 p.b. entrou nas contas, ainda que com uma ponderação muito reduzida, de 1,1%.
Isto reflete a expectativa de boa parte do mercado que o ciclo de subidas ainda não terminou, apesar das surpresas positivas do lado da inflação, na ótica da Fed: o indicador nominal de preços recuou, em termos homólogos, para 3,1% em junho, dando continuidade ao processo desinflacionário que tem visto recuos consecutivos desde o pico de 9,1% em junho do ano passado.
Também as atas da última reunião mostraram que, apesar da ‘pausa’ (termo que Powell se recusa a utilizar) de junho, o FMOC antecipava mais 50 p.b. até à taxa terminal, além de alguns dos seus membros mais hawkish terem argumentado a favor de nova subida.
A generalidade dos analistas, porém, está inclinado para que esta seja o último passo na subida mais agressiva de juros nos últimos 40 anos. James McCann, economista chefe interino da abrdn, projeta isso mesmo “apesar do discurso rígido” de Powell; já Pramod Atluri, gestor de portfolios no Capital Group, aponta para as fragilidade que começam a surgir nos mercados financeiros para defender que o ciclo de subidas está a terminar.
Alguns dos sectores mais sensíveis à taxa de juro começam já a sentir os efeitos negativos do aperto monetário, sobretudo o imobiliário, continua, o que pode sinalizar “uma nova fase dolorosa para a Fed”, continua. Na mesma linha, a Generali Investments sublinha a divisão política no Congresso e o abrandamento no mercado laboral como fatores a contribuírem para uma recessão no final do ano, projetando mesmo cortes de juros logo no início de 2024.
Mais cautelosa, a Ebury fala em mais margem de manobra criada pela redução clara da inflação, o que significa que a Fed “pode tirar o pé do travão e esperar alguns meses por novos desenvolvimentos”.
Num tom mais hawkish, Franck Dixmier, diretor global de Investimentos em Obrigações na Allianz Global Investors, relembra que a inflação subjacente se mantém elevada, em 4,8%, pelo que a tarefa ainda não está concluída. Mais: “as expectativas das famílias para a inflação a um ano subiram ligeiramente para 3,4% em julho, a partir de 3,3% em junho, e as expectativas a três anos também subiram ligeiramente para 3,1% em julho, de 3% em junho”.
“Isto é um aviso à Fed de que deve manter-se vigilante. A Fed não pode correr o risco de ser surpreendida por um novo aumento da inflação subjacente, que poria em causa as expetativas para a inflação, que até agora têm permanecido bem ancoradas”, adverte.
“Assim sendo, não podemos excluir um novo ajustamento no outono”, resume o analista da AllianzGI.
Num ponto há concordância: para a reunião desta semana, o foco estará sem dúvida na comunicação de Jerome Powell e da Reserva Federal, sendo expectável mais uma conferência ‘de falcão’, com garantias de que a autoridade monetária tudo fará para controlar a pressão nos preços, almejando simultaneamente ao pleno emprego.