“São estudos muito caros, oito/10 milhões por área, se não tiverem exclusividade… não faz sentido, duas fases é bom. Depois de adjudicar as áreas, os promotores podem trabalhar, arrancam os trabalhos de engenharia, de meio ambiente, de ligação à rede, para ativar a cadeia de abastecimento, para se conseguir que a bola comece a rodar. Isso seria bom no próximo ano”, afirmou.
Sobre a cadeia de abastecimento em Portugal, José Partida Solano aponta que o país “tem a oportunidade para fazer estruturas flutuantes, ou estruturas de aço, é uma oportunidade que tem. Já os aerogeradores é impossível, vão vir da Dinamarca, da Alemanha, da China, o investimento é muito alto e o volume não é suficiente. Mas é possível fazer flutuadores, por exemplo, há várias partes da cadeia de valor em que Portugal pode apostar”.
Mas para isso é preciso arrancar cedo com a aposta. “O certo é se não começar agora, vai ser difícil que as empresas se estabeleçam aqui” com o risco de poderem “ir para outros países”.
Recorde-se que a petrolífera norueguesa Equinor também veio a público recentemente defender que o leilão tenha lugar depois das eleições e defende que até lá o país deve acelerar processos. E avisa que as grandes empresas têm outros países onde investir o seu dinheiro se Portugal decidir recuar.
"Pensamos que pouco vai acontecer antes das eleições, mas há muito que se pode fazer até lá, porque se não houver uma administração que possa tomar decisões com base legal é preciso esperar até depois das eleições. Há muito trabalho de casa por fazer antes de haver um leilão. Gostaríamos de clareza o mais depressa possível, afirmou, admitindo estar um “pouco preocupada” com o impacto da crise política na ambição offshore, disse Anne Marit Hansen, responsável da Equinor para o offshore, ao JE.
Questionada sobre se prefere que o leilão seja realizado em uma ou duas fases, disse que a empresa “vai avaliar as regras”, conforme o que for decidido: “depois” virá a “decisão”.
“Pensamos que é importante que Portugal tire vantagens das oportunidades que surjam por ser um pioneiro e isso significa que o país não pode atrasar-se muito”, afirmou a
Portugal sem indústria para fornecer leilão offshore
Portugal não tem capacidade industrial para fornecer os componentes necessários à grande empreitada da energia eólica offshore. Esta é a conclusão de um estudo do INEGI - Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial, do Porto.
Entre os componentes necessários (numa estimativa conservadora) para construir 10 gigas, encontram-se: 700 torres, 700 fundações flutuantes, 700 nacelles (carcaça do aerogerador), 2.100 aerogeradores, 5.000 km de cabo de amarração, 2.000 km de cabos de eletricidade. Em termos de materiais, vai ser necessárias: 3,5 milhões de toneladas de aço, 80 mil toneladas de cobre, mais de 2.500 toneladas de minerais terras-raras, segundo o estudo que foi apresentado durante a conferência da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) no final de novembro.
Os 10 gigawatts correspondem a quase 70% da capacidade instalada no Reino Unido ao longo de 18 anos (em tecnologia fixa no fundo do mar), e o equivalente à ambição da Dinamarca, país que já conta com 2,3 gigawatts instalados em eólicas offshore.
Só para construir dois gigawatts até 2030, as necessidades de Portugal correspondem a 100% da produção anual europeia em termos de cabos de eletricidade (dinâmicos) e de fundações flutuantes; a 20% de subestações offshore; a 5% da produção de carcaças, aerogeradores e cabos de eletricidade (cabos de exportação); a 1% das torres.
Analisando os portos nacionais, estes precisam de "intervenção significativa e consumidora de tempo para tornarem-se em portos de assemblagem, e não deverão estar prontos a tempo da instalação dos primeiros 2 gigawatts".