As energias renováveis nos Estados Unidos da América (EUA) vão travar a fundo com Donald Trump. Esta é a previsão da Agência Internacional de Energia (IEA) que cortou em 45% a sua previsão de crescimento de energia verde no país até 2030. Este é o primeiro sinal de forte abrandamento económico no setor das renováveis nos EUA provocado pela ação de Trump 2.0.
A eólica é a tecnologia mais impactada, com a previsão para nova capacidade em terra e no mar a ser cortada em quase 60% (57 gigas). Já a energia solar fotovoltaica sofreu um corte de quase 40%.
O corte na estimativa deve-se ao fim antecipado de créditos fiscais de apoio ao investimento e produção, mas também a novas restrições relativas à "entidades estrangeiras preocupantes" (FEOC), e às ordens da Casa Branca para suspender tanto projetos offshore como o licenciamento de centrais eólicas e solares em terras federais.
O arrefecimento também se verifica a nível global, mas com uma percentagem bem mais baixa: menos 5% de nova capacidade renovável devido a mudanças políticas, regulatórias e de mercado. No total, são menos 248 gigas que a agência sediada em Paris prevê que venham a ser construídos até ao final da década.
A grande travagem é na solar fotovoltaica com um corte na estimativa de mais de 70%, com a energia eólica offshore a recuar quase 30% face à previsão anterior.
Uma das empresas portuguesas que investe fortemente no mercado norte-americano é a EDP Renováveis (EDPR). A América do Norte pesou 55% no seu EBITDA em 2024, mais de 850 milhões de euros, sendo o seu maior mercado.
Em 2024 e em 2025, a EDP anunciou cortes no seu investimento até 2026. Dos 17 mil milhões previstos, cortou para 14 mil milhões (-18%). O grupo EDP apresenta em novembro o seu novo plano estratégico para os próximos anos, restando saber como é que vai ficar o investimento nos EUA perante a travagem nos EUA e a nível global nas energias renováveis.
Ainda recentemente, o presidente-executivo a EDP defendeu que a empresa vai continuar a apostar nos EUA apesar de a Casa Branca querer cancelar um projeto eólico offshore da companhia.
“Continuamos a defender que os Estados Unidos são um mercado de grande crescimento, com imenso potencial”, disse Miguel Stilwell d'Andrade a 16 de setembro.
“É importante separar aquilo que é o investimento no onshore, na eólica em terra, do solar, das baterias, que continua a ter grandes perspetivas de crescimento”, afirmou.
Renováveis na UE com corte acima de 20%
Olhando para a União Europeia, a IEA cortou a sua previsão em 24% devido aos baixos preços de eletricidade e menos incentivos que tornaram os "projetos residenciais menos atrativos economicamente".
A pressionar, estão também os desafios na cadeia de abastecimento e custos mais elevados que deixaram desertos vários leilões eólicos marítimos, com o cancelamento de vários projetos.
Já na China, a IEA cortou em 5% a sua previsão até 2030, com menos 130 gigas previstos, o segundo maior corte após os EUA. A penalizar a China estão mexidas nas políticas regionais de apoio às renováveis, que tornam menos atrativos os projetos para os investidores, que estavam a ter direito a contratos até 20 anos, que eram pagos ao nível dos projetos regionais para o carvão.
Apesar dos cortes, a capacidade renovável vai aumentar em 4,6 gigas até 2030, segundo a IEA, com o setor a entregar o dobro da potência face ao quinquénio anterior.
O crescimento na solar fotovoltaica e distribuída mais do que dobra, pesando quase 80% na nova eletricidade renováveis, à boleia de "custos mais baixos, licenciamentos relativamente eficientes e uma maior aceitação social conduzem a uma aceleração na adoção de solar fotovoltaico", segundo a entidade liderada pelo egípcio Fatih Birol.
No eólico onshore, a capacidade vai subir 45% face aos cinco anos anteriores para mais de 730 gigas, ultrapassados vários constrangimentos como tempo demorado de ligação à rede, licenciamento demorado, gargalos na cadeia de abastecimento. São esperados crescimento em todo o mundo.
No eólico offshore, a capacidade deverá atingir 140 gigas até 2030, também o dobro face ao quinquénio anterior, com a adição anual a subir de mais de 9 gigas em 2024 para 37 gigas em 2030. A China pesa 50% neste crescimento. No resto do mundo, mudanças políticas, desafios na cadeia de abastecimento e pressões macroeconómicas provocaram aumento de custos, com leilões desertos e projetos cancelados. No entanto, a IEA cortou a sua previsão em 27%.
Na hídrica, o crescimento deverá ser ligeiramente superior face a 2019-24 com mais de 150 gigas online até ao final da década, com a capacidade anual a superar 16 gigas em 2030. A China lidera este crescimento na hídrica com bombagem, mas Espanha e Áustria também estão a avançar. Outras regiões também vão crescer como Índia ou África.