Há 60 anos que João Alves e o seu pai percorriam mais de 65 quilómetros para vender bacalhau porta-a-porta nas ruas da baixa de Lisboa. O pequeno negócio deu origem em 1985 à Ribeiralves, que começou por ser uma empresa de distribuição do fiel amigo, mas que se transformou numa companhia de transformação de bacalhau.
Hoje em dia, conta com a maior fábrica mundial de processamento de bacalhau na Moita, distrito de Setúbal, com a companhia a produzir anualmente 30 mil toneladas de bacalhau, o equivalente a cerca de 10% do bacalhau pescado em todo o mundo. Das suas duas fábricas, a outra no Carvalhal, Torres Vedras, é exportado bacalhau para 20 países.
O grupo conta também com a Ribeiralves Imobiliária e o negócio dos vinhos (AdegaMãe, Torres Vedras) e tem um projeto para a margem sul do rio Tejo, na zona de Alcochete, distrito de Setúbal.
A empresa anunciou esta semana que procedeu à remodelação do seu Estudo de Impacte Ambiental (EIA) para o projeto Conjunto Turístico da Praia dos Moinhos em Alcochete, que se encontra em consulta pública até 28 de agosto. Em 2023, o projeto anterior mereceu um chumbo por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Agora, o novo desenho prevê um total de 936 camas (antes estavam previstas 990 camas), com dois edifícios de apartamentos turísticos e um hotel. A área tem mais de 16,5 mil m2, tendo sido reduzida a área total impermeabilizada face ao desenho anterior. O projeto representa um investimento de 100 milhões de euros e a criação de cerca de 150 postos de trabalho.
"Esperamos que fique resolvido até ao final do ano ao nível das entidades e o estudo de impacte ambiental e a avaliação", disse ao JE Bernardo Alves, presidente-executivo da Ribeiralves Imobiliária. "Depois disso, temos o processo de licenciamento, e depois a obra. Um ano para os projetos de preparação da obra e dois/três anos para a execução".
No melhor cenário possível, a previsão é que o projeto esteja "completamente executado em 2029".
O gestor aponta que a proximidade a Lisboa é "uma mais-valia" e que todas as novas infraestruturas previstas para a margem sul do Tejo "vão beneficiar o projeto", incluindo a terceira ponte e o novo aeroporto. "Nesse sentido, as coisas perspetivam-se bem", afirma.
A atividade imobiliária de promoção e construção da empresa está essencialmente centralizada na zona de Torres Vedras, sendo este o único projeto turístico que tem em mãos.
"Temos em carteira várias coisas, adquirimos terrenos na zona de Torres Vedras. Assim o mercado o permita, vamos desenvolver alguns projetos imobiliários. A nossa expetativa é construir entre 30 a 40 fogos todos os anos. É a nossa meta. Temos terrenos preparados para o efeito",
Entre os principais desafios, o promotor aponta que o sector "depende muito do factor macroeconómico", sendo a "situação macroeconómica mais difícil de prever".
Menos camas e apartamentos
"A proposta do Conjunto Turístico compreende dois empreendimentos, complementares, Apartamentos Turísticos (115 T3), correspondentes a 636 Camas e um Estabelecimento Hoteleiro com 150 Quartos Duplos, correspondentes a 300 Camas, perfazendo uma capacidade de 936 Camas", pode-se ler no EIA.
"Para enquadramento do mesmo consideraram-se também Espaços e Áreas Verdes de uso comum, nomeadamente um Circuito de Manutenção localizado junto do limite sul dos terrenos, o qual funcionará também como corredor destinado a veículos de Emergência, Áreas Verdes diversas destinadas a Equipamentos de Desporto e Lazer, incluindo uma Piscina localizada do lado poente do Conjunto. A proposta considera uma ocupação linear do terreno, desenvolvendo-se os diversos edifícios paralelamente à margem do Rio Tejo, estabelecendo uma relação frontal com o mesmo, bem como com a área das Salinas, que se estende para norte do conjunto, tirando deste modo partido das vistas sobre essas duas distintas realidades", acrescenta.
O novo projeto "reduz o número de apartamentos e de camas turísticas propostos e assegura o aumento do afastamento da implantação dos edifícios às Salinas. Atente-se que o projeto já havia sofrido reformulações anteriores precisamente no sentido de diminuição da ocupação proposta", segundo a empresa.
Neste local existem duas instalações industriais em estado de abandono que pertenciam à Sociedade Nacional de Armadores de Bacalhau (SNAB) e à Empresa Comercial Industrial de Pesca (PESCAL). A Riberalves Imobiliária comprou os antigos terrenos da SNAB em 1997, e da antiga Sociedade Europeia de Aquacultura (SEA) em 2006.
Em termos de medidas de compensação e de minimização dos impactes, a empresa prevê: a "intervenção nos cabos elétricos nas imediações das salinas, a construção de barreiras ao longo da estrada que contorna as salinas, a fim de diminuir a perturbação das aves que utilizam as salinas; e o condicionamento de movimentação de pessoas e viaturas na estrada ao longo das salinas. Propõe-se, ainda, a recuperação das salinas o Brito e das salinas do Vale de Frades, bem como um plano de monitorização no decurso da execução do projeto para avaliar a evolução das espécies de interesse conservacionista; e a recuperação da vegetação dunar e a erradicação das espécies invasoras".
O Projeto localiza-se a cerca de 1 km a oeste do centro urbano de Alcochete e da área de recreio e lazer da Praia dos Moinhos, ocupando uma faixa de terreno de forma sensivelmente retangular, situada entre o Estuário do Rio Tejo — Mar da Palha e a zona da praia dos Moinhos (a norte) e uma área de salinas (salinas da Fundação Jorge Gonçalves Júnior e salinas da Fundação das Salinas do Samouco a nascente, sul e poente), na freguesia e concelho de Alcochete, pertencente ao distrito de Setúbal (como se pode ver no mapa abaixo).
A alteração de projeto "apresentada do Conjunto Turístico da Praia dos Moinhos, com todos os estudos desenvolvidos, num trabalho de equipa multidisciplinar e posteriores medidas de compensação e minimização de impacto ambiental previstas, constitui uma solução de ocupação do solo equilibrada e adequada à proteção dos valores ambientais presentes; acresce que é uma solução claramente vantajosa em face da ocupação que é admissível desenvolver na área em questão (atividade de armazenagem); é, acreditamos, é um projeto de excelência, fortemente valorizador do ponto de vista ambiental, do território, da economia e da comunidade”, segundo o comunicado da empresa.
O promotor salienta que também conta com uma licença para desenvolver no local atividades de armazenagem de apoio à Ribeiralves, mas que o projeto turístico "propõe uma ocupação claramente defensora do Ambiente e da Avifauna, quando comparada com aquela que poderia ocorrer no território na ausência deste projeto (...) A atividade de armazenagem convoca maiores perturbações quer no que se refere à presença de pessoas, quer no que se refere ao ruído, quer no que se refere ao tráfego de viaturas ligeiras e pesadas".
Planta do projeto
Localização do projeto