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Redes de franchising “geraram 17 mil milhões de euros em 2022”

São ‘apenas’ 7,23% do PIB. O valor agregado dos negócios no ano passado representa um crescimento de quase 40% em relação a 2019 – o exercício comparável, refere Cristina Matos, diretora geral da Associação Portuguesa de Franchising.

O sistema de franchising é há décadas uma forma de investimento num negócio diluindo riscos e contando com apoio de capital. O número de marcas que estão no sistema e o número de ‘aderentes’ não para de crescer. Em entrevista ao JE, Cristina Matos, diretora-geral da Associação Portuguesa de Franchising, explica porquê. A fala das marcas que já fazem o movimento contrário: a partir de Portugal, lançam franchisings além-fronteiras.

 Qual é o volume de negócios do sistema de franchising em Portugal?

Em 2022 os valores foram superiores a 17 mil milhões de euros, representando 7,23% do PIB português, e destacando a importância crescente do franchising na economia do país.

Que variação se verifica em relação ao ano anterior?

Nós só temos o comparativo com 2019. Em 2019, o volume de negócios no sector de franchising registou um valor superior a 12 mil milhões de euros, enquanto em 2022, esse número disparou para valores superiores a 17 mil milhões de euros. Este aumento representou um aumento de 39,7%, indicando uma recuperação robusta e um crescimento sustentado do sector.

Houve entrada de novas marcas este ano? E saídas?

Os indicadores demonstram um sector resiliente e em expansão, contribuindo de forma significativa para a economia do país. Passámos de 601 marcas para 739.

Qual é o número de empresas que fazem parte do sistema? Há variação significativa em relação ao ano passado. E a dez anos?

Terminámos o ano de 2019 com cerca de 15 mil empresas de diversas atividades a operar no sector do franchising e em 2022 esse número passou para os 23.500 registando um aumento de 56,67%.

Que tipo de marcas são as mais procuradas pelos franchisados?

As marcas mais procuradas são aquelas que tem maior reconhecimento no mercado nacional e internacional e por isso, maior número de franquiados. Tais como: Minipreço (com 489 franquiados); Re/Max (396); Maxfinance (360); Meu Super (300); Multiopticas (210); McDonald’s (194); 5ÀSec (179); Century 21 Portugal (170); e Melom Obras (142).

Quais os atuais requisitos para um interessado entrar no sistema?

Os requisitos para entrar no sistema de franchising podem variar significativamente dependendo da marca ou da empresa. No entanto, geralmente, existem alguns requisitos comuns a grande maioria das marcas. São eles: investimento inicial; muitas franquias requerem que os franquiados tenham um determinado montante de capital inicial disponível para investimento não só no arranque do negócio, como no decorrer do seu primeiro ano de atividade. Esse capital pode ser usado para pagar os direitos de entrada, adquirir equipamentos, fazer obras, pagar o aluguel de um local por um período mínimo de seis meses, entre outros custos que têm implicação direta nos KPI’s do negócio.

É requerido também experiência e habilidades: algumas franquias podem exigir que os franquiados tenham experiência relevante no sector ou habilidades específicas que sejam necessárias para operar a franquia que irão adquirir. A localização: dependendo do tipo de franquia, a localização pode ser um fator crítico. Os franquiados podem precisar encontrar um local adequado que atenda aos critérios da marca. Compromisso: entrar numa franquia geralmente requer um compromisso a longo prazo. Os franquiados devem estar dispostos a seguir os padrões e as diretrizes estabelecidas pela marca durante todo o período de vigência do contrato de franchising, que habitualmente são de cinco anos. Finalmente formação e apoio: os franquiados devem estar dispostos a participar e a exigir a participação das suas equipas nas formações fornecidas pela franquia e aproveitar todo o apoio oferecido para operar o negócio de acordo com os padrões da marca.

Que marcas nacionais fazem o movimento contrário – abrir o sistema em países estrangeiros?

Realmente há marcas que já têm maturidade e uma cobertura nacional bastante consolidada, permitindo fazer a sua expansão para o mercado internacional. Temos alguns exemplos mais recentes: Grupo Concept com as marcas Bodyconcept e Depilconcept tem unidades na Polónia, República Checa, Hungria, Croácia, Brasil entre outros países, mas com maior incidência no mercado europeu; Vivafit e Personal 20: ambas as marcas no mercado do fitness também têm dado cartas na expansão internacional com maior incidência no mercado asiático. As marcas assinaram no primeiro semestre de 2023 o contrato de master com a India. Melon: na área das obras, começou a sua expansão para Itália e ultimamente a focar no mercado espanhol.

Que perspetivas tem para o ano em curso – numa altura em que os níveis de consumo estão a ser negativamente impactados pelo aumento a inflação e dos juros?

Devido ao aumento da inflação e das taxas de juros, acreditamos que existam desafios a serem enfrentados em muitos sectores de atividade, e o franchising não estará totalmente imune a isso. O aumento da inflação tende a afetar o poder de compra dos consumidores, o que pode impactar as vendas e o desempenho das empresas. Além disso, taxas de juros mais elevadas têm um efeito negativo nos custos de financiamento para potenciais franqueados.

A Associação ainda não teve acesso a esses dados, mas podemos presumir que as empresas com redes muito pequenas e muito jovens, bem como aquelas que já estavam a passar por dificuldades e/ou têm recursos limitados, provavelmente estarão a enfrentar momentos mais difíceis. Por outro lado, redes consolidadas, mesmo que com franquias mais jovens, têm mais capacidade para resistir às oscilações dos mercados. É importante notar que, mesmo neste cenário adverso, nem todos os sectores passam por dificuldades, e alguns podem encontrar oportunidades de crescimento.