O índice Ifo de maio veio retirar algum do otimismo contido que voltava à zona euro, mantendo-se inalterado após três subidas consecutivas e registando nova deterioração na avaliação das condições atuais. Apesar de tal não interromper a trajetória de recuperação alemã, expõe muitos dos problemas estruturais que continuarão a afetar o motor industrial europeu após a tempestade conjuntural que vai atravessando.
O índice compilado pelo Instituo Ifo manteve-se inalterado nos 89,3 em maio, isto após três meses consecutivos de subidas, falhando assim a projeção de mercado que apontava para 90,4. Importante salientar que a leitura de abril sofreu uma revisão em baixa de 0,1 pontos, permitindo que o resultado de maio não revelasse uma queda.
As expectativas dos empresários até melhoraram, com o subíndice referente a esta dimensão a subir de 89,7 para 90,4, mas a avaliação da situação económica atual voltou a piorar, caindo de 88,9 para 88,3. Ambos os resultados ficam abaixo do ponto de inflexão, ou seja, 100 pontos.
“As empresas estão menos satisfeitas com a sua situação atual, mas as expectativas melhoraram”, resumiu o presidente do instituto, Clemens Fuest, destacando “a indústria, comércio e construção a recuperarem, embora os serviços tenham levado um ligeiro rombo”.
“A economia alemã está a sair da crise passo a passo”, completou. A maior economia europeia atravessou dois trimestres de contração, colocando-a formalmente em recessão técnica e fechando 2023 com crescimento negativo. Foi, como tal, o país com pior performance no ano passado entre os G7.
O banco neerlandês ING recorda que, “baseado em experiências passadas, três aumentos consecutivos costumam sinalizar um ponto de viragem para a economia”, um cenário que se vinha verificando nas mais recentes leituras. No entanto, a estagnação de maio “é uma boa lembrança de que as expectativas de crescimento, a seguir a este ponto de viragem, permanecem fracas”.
A expectativa é, portanto, que a economia germânica “continue a ganhar ímpeto” nos próximos meses. Os ganhos salariais sólidos “devem alimentar uma recuperação cuidadosa no consumo privado” e até o ciclo de inventários pode tornar-se novamente positivo, projeta o banco, mas tal não significa o fim das preocupações.
Por um lado, as fragilidades estruturais ficaram bastante expostas nos últimos dois anos e continuam sem estar resolvidas, salienta o banco; por outro, a tensão geopolítica global pode determinar novo disparo nos preços do crude a nível mundial, colocando novamente a indústria alemã sob pressão.
“Mais, o número de insolvências, falências e reestruturações empresariais aumentam o risco de um enfraquecimento do mercado laboral no próximo ano”, o que colocaria em causa a evolução positiva do consumo privado.