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"Vamos avançar para uma presença mais forte no negócio hospitalar"

O country manager da Bayer Portugal, Marco Dietrich, afirma ao JE que o pipeline da farmacêutica alemã vai permitir entrar com mais força no negócio de venda de medicamentos a hospitais em Portugal. Esta área representa 30% de todas as vendas de medicamentos de prescrição. E fala da constante aposta na inovação, até porque a patente do seu best-seller, o rivaroxabana, não vai durar para sempre.

Quais são os principais desafios para a Bayer no mercado português? Agora e num futuro próximo?
Eu diria que o principal desafio – e falo mais como o country manager de uma Pharma do que na perspetiva geral do mercado da saúde como um todo – eu diria que o principal desafio é trazer, continuamente, inovações para o mercado. Por isso sentimo-nos muito orgulhosos de poder trazer duas inovações para o mercado em dezembro. Um deles é um produto para doentes cardíacos, para doentes com insuficiência cardíaca, com uma forma de ação completamente nova, uma verdadeira inovação. E o outro é um medicamento na área renal, para doentes com doença renal crónica, que geralmente têm perturbações com diabetes. Portanto, estão sempre a medir o açúcar no sangue. E pensam que se mantiverem o açúcar no sangue no nível certo, tudo está bem. Mas há uma doença silenciosa nos rins. Muitas vezes, o rim fica pior e pior e eles nem percebem. Então, na verdade, eles deveriam verificar regularmente sua albuminúria e depois ver como é a saúde de seus rins. Este medicamento pode ajudá-los a ficarem mais tempo sem precisar de hemodiálise, que é um fardo pesadíssimo. Então é isto que estamos a colocar no mercado atualmente. Ao mesmo tempo, também protege o coração. Então eu acho que isso são boas notícias e este é um bom desafio, trazer aos doentes este tipo de inovação, é exatamente isso o que queremos.

E no lado corporativo?
Claro que há outros desafios que enfrentamos. A Bayer é uma grande corporação, pelo que é preciso perceber a direção em que vamos. Há uma grande pressão para gerir os custos muito, muito bem. Isso é um desafio por si só, e um desafio difícil. O outro desafio que vejo é o de realmente transformar a organização. Mas é um desafio dos bons: transformar a empresa numa organização que mantenha as decisões mais próximas do cliente, para podermos agir mais rápido.

Apenas as decisões mais próximas do cliente ou também a produção?
Como não temos produção em Portugal, estou mesmo a falar de ter as decisões mais próximas dos clientes, ou fazer com que as pessoas que atuam junto do cliente também possam tomar a decisão. Isso também deve conduzir a um melhor serviço junto do cliente. Então essas são as três coisas nas quais estamos a trabalhar atualmente.

Qual é o seu produto mais vendido em Portugal?
O produto que mais vendemos em Portugal é um anticoagulante chamado Rivaroxabana. Esse é o nosso produto mais vendido aqui.

Há quantos anos?
Já está no mercado há cerca de dez anos.

Dez anos. E tem sido constantemente o medicamento que mais vendem?
Sim, na área de 'pharma' em Portugal é o mais vendido, sim. Quer dizer, começou baixo. Mas também porque, à época, era um medicamento de substituição do antagonista da vitamina K. Com o rivaroxabana o doente tem um remédio que pode tomar, não precisa de medir nada e tem um melhor perfil de sangramento. Foi a substituição de um produto antigo e tornou-se rapidamente o nosso best-seller. E continua a ser.

E quanto é que representa o Rivaroxabana no total das vossas vendas?
Sim... Essa é uma boa pergunta. É mais de 50%, realmente significativo.

Portanto é um medicamento pivot para a Bayer em Portugal. Se por alguma razão começar a não vender, vocês tem um problema, certo?
Sim, nesse caso temos um problema. Isso posso confirmar. O rivaroxabana continua muito bem, mas em determinada altura vai expirar a patente e a nossa tarefa é trazer mais inovação ao mercado. É o que fazemos: temos aqueles dois novos produtos que descrevi, mas teremos também um novo lançamento no próximo ano, na área da oftalmologia. Portanto, estamos constantemente a trazer novos produtos para o mercado. E isso vai ajudar.

Há algum 'mas'?
Ter muito sucesso na indústria farmacêutica tem sempre dois lados, porque normalmente você tem poucos produtos que se tornam tão grandes, que tenham um sucesso tão grande. E geralmente quando estas patentes expiram, você entra numa queda. Mas todas as empresa de farmacêutica passam por isso. Nós estamos a lançar novos: na insuficiência cardíaca, na cardiorrenal e também em oncologia. Por isso estamos confiantes que ao longo do tempo vai ser bom.

Como é que se dividem as vendas dos vossos medicamentos de prescrição médica?
Eu diria que, atualmente,  as vendas de medicamentos comparticipados representam 70% das nossas vendas de medicamentos de prescrição. Os outros 30% vendemos a hospitais.

Esse mix deixa-o confortável? É comum noutros mercados ou Portugal é especifico nessa matéria?
Temos uma forte presença do rivaroxabana (Xarelto) no mercado de ambulatório que nos melhora a média, mas no final sinto-me confortável porque não importa tanto se você vende aqui ou ali. O importante é trazermos inovação para os doentes. Acredito que iremos avançar cada vez mais – se olharmos para o pipeline – no final vamos avançar mais para o negócio hospitalar, embora os dois produtos que mencionei – para insuficiência cardíaca e cardiorrenal – sejam produtos de ambulatório. Mas se levarmos o pipeline um pouco mais longe, então avançaremos mais para esta presença hospitalar mais forte.

Como descreveria o ambiente de negócios para as farmacêuticas em Portugal?
Não é um ambiente atípico, honestamente, para a Europa. Encontramos este tipo de mercado de forma mais comum na Espanha, em Itália, mas eu diria que não é tão diferente em geral. Tem um sistema nacional de saúde e eu acho isso importante. E eu posso comparar: sou suíço – estive na Suíça, na Alemanha e agora aqui, em Portugal e posso comparar. Bem, o bom aqui é que você tem um bom sistema de saúde e todos têm acesso. Isso não é algo que encontre em todo o lado. Mas é bastante comum na Europa. Mas tem uma população envelhecida, o que leva uma maior necessidade de tratamentos. No final também é um problema para a sociedade, porque os custos com saúde aumentam cada vez mais, e o governo precisa de medidas de contenção de custos. Isso aumenta o nosso compromisso como empresa farmacêutica para, de alguma forma, contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde e, ao mesmo tempo, realmente trazer inovação, novos tratamentos para os pacientes.

E em termos regulatórios, temos lido sobre atrasos nas aprovações de novos medicamentos. A Bayer tem sido impactada por isso?
Com atrasos na inovação? Sim. Quer dizer, esse é um tópico que temos no mercado português. Também vemos, às vezes, noutros mercados. Mas podemos comparar, por exemplo, uma inovação que trazemos para o mercado.

Por exemplo, estes novos medicamentos de que falou para dezembro.
Em média, quanto tempo antes é que acha que um doente alemão consegue receber esses medicamentos? Em média.

Em metade do tempo? Ou até menos?
Sim, exatamente. Eles são muito mais rápidos. Em Portugal, chegam dois anos depois. Se pegar em 40 países europeus, Portugal está entre os últimos dez. Então, existem países num nível semelhante, mas a grande maioria dos países traz muito mais rapidamente as inovações aos seus doentes. É claro que esse é um tópico que pode e, na minha opinião, deveria mudar.

Mas o Marco deve ter algum tipo de explicação para isso. Quer dizer, não faltam bons técnicos no Infarmed...
Sim, acho que acertou em cheio. Nas interações que temos com o Infarmed – e novamente aqui posso comparar com a Suíça, com a Alemanha – vemos pessoas extremamente competentes, profissionais muito bons. Isso é o que eu vejo. Mas depois o que se vê no final é burocracia. Isso por um lado, mas por outro também se pode dizer que falta gente. Então esses dois elementos fazem com que estejamos a ter esses atrasos.

Pode divulgar quais são os seus planos de investimento para Portugal nos próximos anos?
O que posso dizer é que a ideia é continuar os nossos investimentos e talvez crescer mais do que diminuir. Pelo menos é assim que eu quero que seja. Nós estamos a realizar cerca de 25 ensaios clínicos aqui em Portugal, o que é muito. Se for ao site do Infarmed, normalmente verá cerca de 150 ensaios clínicos em andamento. Então, o que estamos a fazer representa um tamanho e quantidade bastante significativos.

Por que razão Portugal é mais apropriado para esses ensaios clínicos?
Acho que há vários aspectos. Para ser honesto, em Portugal leva mais tempo do que a média para que esses ensaios clínicos sejam aprovados, um pouco semelhante aos atrasos nos medicamentos. Mas depois temos bons centros, faz-se um bom recrutamento. Construímos aqui uma boa infraestrutura, temos pessoas ótimas a conduzir esses ensaios clínicos. Também construímos uma boa reputação internamente, dentro da Bayer.