A noite eleitoral da Região Autónoma da Madeira cantou vitória para o PSD/CDS-PP, sem maioria absoluta, ficando a um deputado dessa meta, lançado um balde de água fria para a coligação que vinha governando o arquipélago. Contudo no discurso final de Miguel Albuquerque, candidato da coligação, veio o golpe face, visto Albuquerque ter dito que tem uma solução de governo de maioria absoluta, que deverá ser apresentada esta semana. Para além disso assegurou também que vai cumprir com a sua promessa de se demitir caso não consiga a maioria, tal como tinha dito na campanha eleitoral.
Para além da vitória do PSD/CDS-PP assinala-se a quebra do PS, a estreia da Iniciativa Liberal e do Chega, e o regresso do Bloco de Esquerda (BE) e do PAN ao parlamento regional.
A coligação PSD/CDS-PP atingiu 43,1%, elegendo 23 deputados. Seguiu-se o PS com 21,3% votos, e 11 deputados, o JPP, com 11% dos votos, e cinco deputados, o Chega, com 8,8%, e quatro deputados, a CDU com 2,7% dos votos, e um deputado, a Iniciativa Liberal (IL), com 2,6% dos votos, e um deputado, o PAN com 2,2%, e um deputado, o BE com 2,2%, e um deputado.
Face às últimas eleições regionais, e tendo em conta os partidos que tinham assento parlamentar, o PS passou de 19 para 11 deputados, a CDU manteve o deputado, e o JPP passou de três para cinco deputados. Apesar de coligados o PSD baixou de 21 para 20 deputados enquanto que o CDS-PP manteve os três deputados.
Ao nível percentual o PS perdeu 14 pontos percentuais (p.p.), a CDU subiu 0.9 p.p., o JPP subiu 5.6 p.p, o Chega subiu 8.4 p.p., a IL subiu 2.1 p.p., o PAN subiu 0.8 p.p., e o BE subiu 0.5 p.p..
Nas últimas eleições regionais, em 2019, venceu o PSD, sem maioria absoluta, com 39,4% dos votos e a eleição de 21 deputados. Para assegurar a maioria absoluta PSD e CDS-PP chegaram a um acordo. Os centristas obtiveram 5,7% dos votos e elegeram três deputados.
Nas eleições regionais de 2019 o PS teve 35,7% e 19 deputados, o JPP chegou aos 5,4% e três deputados, e a CDU (coligação entre PCP e os Verdes) obteve 1,7% dos votos e elegeu um deputado.
Partidos pedem demissão de Albuquerque
O apelo de maioria absoluta durante a campanha eleitoral por parte do atual presidente do executivo madeirense e candidato do PSD/CDS-PP, Miguel Albuquerque, acabou por não surtir efeito no eleitorado da região.
Face a isto vários partidos pediram a demissão de Miguel Albuquerque, depois de PSD/CDS-PP não terem chegado à maioria absoluta, dando cumprimento à promessa que fez durante a campanha eleitoral.
O líder do Chega, André Ventura, confirmou, que contactou o líder do Chega Madeira, Miguel Castro, e que a força partidária iria rejeitar qualquer entendimento com Albuquerque.
O presidente e candidato do PS Madeira, Sérgio Gonçalves, apesar da quebra face às últimas eleições regionais, também pediu a demissão de Albuquerque, reforçando que o PS é a alternativa para governar a Região Autónoma, e pediu que Albuquerque cumpra com aquilo que disse na campanha eleitoral.
Já o líder do PSD, Luís Montenegro, que esteve na Região na noite eleitoral, acabou por ficar em silêncio, quando questionado sobre se Miguel Albuquerque se deveria demitir depois de não ter conseguido atingir a maioria absoluta.
No final da noite eleitoral o atual presidente do Governo da Madeira "achou anedótico" que o PS tenha pedido a sua demissão, e acrescentou que já foram tomadas as diligências para assegurar um governo de maioria absoluta, e que dessa solução está excluído o Chega.
IL e PAN deixam aberta porta a entendimentos
Sobre a possibilidade de entendimentos com o PSD/CDS-PP a candidata do PAN, Mónica Freitas, não confirmou se isso seria possível contudo disse que as portas estão "todas abertas".
Já o candidato da Iniciativa Liberal , Nuno Morna, confirmou que o partido não vai para o Governo mas que está disponível para falar seja com quem for.
Nuno Morna sublinhou que a coligação do partido é com os "madeirenses e sempre será" mas que não rejeita o papel de adulto na sala, "e não rejeita falar seja com quem for".
Chega critica campanha vergonhosa contra partido
O candidato do Chega, Miguel Castro, no seu discurso final, depois de eleitos quatro deputados, sublinhou todos os esforços que foram feitos de "forma aberta" para que o partido não participasse nas eleições regionais da Madeira.
Miguel Castro criticou a "campanha vergonhosa" contra o Chega, e reforçou o "incómodo e receio" que forças partidárias mostram perante o partido.
Ficaram também críticas aqueles que se deixaram cercar pelos "grupos de interesse e amigos do regime".
Noite do contentamento da CDU
Esta foi também a noite do contentamento da CDU e do seu respetivo líder, Edgar Silva. Depois de sondagens que davam a hipótese da força partidária sair do parlamento regional a noite eleitoral contudo foi no sentido contrário.
Durante o seu discurso, Edgar Silva sublinhou a importância da continuidade da força partidária na Assembleia Legislativa da Madeira, tendo em conta a "intensa instrumentalização" visando alimentar "preconceitos anti-comunistas".
Edgar Silva disse que a dispersão de candidaturas favoreceu a perpetuação da política de direita.
O líder da CDU abordou também os resultados das eleições regionais de 2019, referindo que se tratou de uma "falsa disputa bipolarizada" entre PSD e PS, e acrescentou que o PS acabou por "abandonar o apoio" então confiado pelo eleitorado da Região.
Edgar Silva considerou que a CDU é a solução mais coerente, sublinhando o compromisso do partido para com os trabalhadores e o povo, para o desenvolvimento económico e progresso social da Região.
Já o candidato do BE, Roberto Almada, rejeitou acordos com a direita referindo que esta está recauchutada.