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PSD: autocríticas, farpas aos "cristãos novos", promessas de campanha e uma surpresa chamada Cavaco Silva

Não estava prevista a presença de antigos líderes no 41º Congresso do PSD mas Cavaco Silva, que não aparecia num evento destes desde 1995, resolveu reafirmar o seu cunho pessoal a Luís Montenegro. Entre autocríticas e farpas ao PS, o líder deixou ainda promessas numa área sensível para o partido.

Uma surpresa chamada Aníbal Cavaco Silva, uma promessa de aumento do rendimento mínimo para 820 euros, autocríticas e muitas "farpas" ao Partido Socialista (PS) e ao mais que provável oponente de Luís Montenegro nas eleições legislativas antecipadas do próximo dia 10 de março.

O 41º Congresso do Partido Social Democrata (PSD), que teve lugar em Almada este fim-de-semana, teve um pouco de tudo mas perante a ausência de anteriores líderes do partido, poucos esperariam que o único a aparecer fosse o antigo primeiro-ministro e Presidente da República, que desde 1995 não aparecia num congresso do partido que o levou a conquistar duas maiorias absolutas

Perto das 20h00, Cavaco Silva entrou no Complexo Municipal dos Desportos da Cidade de Almada ao som do hino do PSD e surpreendeu os congressistas que o receberam com uma ovação. "O grande estadista do século XX", como apelidou o presidente da mesa, Miguel Albuquerque, entrou ladeado pelo presidente do partido, sem prestar declarações à comunicação social.

Em declarações citadas pelo "Novo", Cavaco Silva desabafou que “Portugal precisa de uma mudança, que traga uma nova esperança” e que “sem essa mudança, por aquilo que tenho estudado, será impossível melhorar as condições de vida das populações e impedir que os jovens mais qualificados fujam para o estrangeiro”. “Não vim dar lições a ninguém e não quero interferir. Vim aqui para ouvir o presidente”, concluiu.

Pensões: Montenegro promete que não cortar "um cêntimo"

Com os olhos postos nas eleições, o líder do PSD não perdeu a oportunidade de anunciar que quer aumentar para 820 euros o rendimento mínimo garantido dos pensionistas até 2028, assegurando que o seu partido não vai cortar “um cêntimo a nenhuma pensão”.

“Vamos aumentar, de acordo com a lei, as pensões de uma forma geral, mas vamos também, de forma gradual e até ao final da legislatura, colocar a referência do complemento solidário para idosos nos 820 euros. Isto traduz-se no seguinte: até 2028, o rendimento mínimo garantido dos pensionistas portugueses será de 820 euros”, defendeu no congresso.

Luís Montenegro garantiu que os sociais-democratas querem aumentar “as pensões mais baixas” e deixou uma garantia. “O nosso objetivo é claro: não vamos cortar um cêntimo a nenhuma pensão”, assegurou. Seguro desta intenção, o líder da oposição deu a certeza de que “este objetivo é realizável” e “não coloca em causa o equilíbrio das contas públicas”.

“E para futuro, eu vejo como intercalar, para que numa legislatura seguinte, o rendimento mínimo garantido de um pensionista possa ser equivalente ao salário mínimo nacional atualizado. É um objetivo para cumprir em duas legislaturas”, concluiu.

A proposta do líder do PSD mereceu críticas de Pedro Nuno Santos. O candidato à liderança do PS considerou que “o problema das promessas do PSD, nomeadamente em matéria de pensões, é que têm um problema de falta de credibilidade”, acusou hoje o candidato a líder do PS, à chegada ao Pavilhão Municipal da Senhora da Hora, em que participa num almoço com apoiantes.

No sábado, o presidente do PSD, Luís Montenegro, afirmou que quer aumentar para 820 euros o rendimento mínimo garantido dos pensionistas até 2028, assegurando que o seu partido não vai cortar “um cêntimo a nenhuma pensão”.

Para Pedro Nuno Santos, o PSD foi “o partido que mais maltratou esse grupo de cidadãos portugueses, os pensionistas” e considerou que “é importante que nós não nos esqueçamos que Pedro Passos Coelho [ex-primeiro-ministro] tinha dito exatamente o mesmo que Luís Montenegro: que tinha feito as contas, e que em 2015 não seria necessário cortar pensões. Mas aquilo que fizeram logo a seguir às eleições foi cortar pensões”.

Socialistas, os "cristãos novos do equilíbrio das contas públicas"

Ainda na temática das contas públicas, Luís Montenegro aproveitou o Orçamento do Estado 2024 para apelidar os socialistas de "cristãos novos do equilíbrio das contas públicas", equilíbrio esse que, no entender do presidente do PSD, foi feito à custa de mais impostos e de "engavetar investimento" nos serviços públicos.

Antecipando que o PS iria acusar o PSD como o partido que queria ir além da 'troika', o presidente social-democrata usou o termo "cristãos novos" para criticar os socialistas: “Quando esses cristãos novos nos vierem dizer isso, convém dizer que as contas equilibrados para o PSD são um pressuposto, uma condição da política pública, não o fim das políticas públicas”, frisou.

Mantendo o tom nessa figura de estilo, Montenegro referiu que “como normalmente acontece aos que não professam determinada fé até uma fase tardia, depois são mais fanáticos”. “Foi isso que o PS foi. As contas públicas portuguesas estão equilibradas sobretudo à custa de mais impostos e de engavetar os investimentos que eram necessários nos principais serviços públicos em Portugal”, criticou, dizendo que, nesta matéria, os sociais-democratas “não são cristãos novos, mas cristãos por convicção”.

Luís Montenegro não vê diferenças entre António Costa e os dois candidatos à liderança do PS apelidando-os de "farinha do mesmo saco" e de pertencem ao que designou de "núcleo duro disto tudo nos últimos oito anos". Apesar de não nomear José Luís Carneiro, o líder do PSD afirmou que tanto o primeiro-ministro como o antigo ministro das Infraestruturas “podem vir agora uns com falinhas mais mansas, outros com megafone em punho, mas como diz o adágio popular são tudo farinha do mesmo saco”, acusou.

Imigração, lobbying e autocríticas

Sobre outros temas, o antigo líder da bancada parlamentar do PSD falou de imigração para se afastar do Chega: "Não podemos ter nem a porta escancarada, nem a porta fechada à chave", disse, realçando que o "bom caminho" passa por atrair jovens estudantes estrangeiros e famílias completas.

Montenegro colocou ainda a tónica na intenção do PSD em regular a atividade lobbying em Portugal e de criminalizar o enriquecimento ilícito de forma a combater a corrupção: "Temos sobretudo de ser nós a dar o exemplo de exigência ética no exercício de cargos públicos”, afirmou.

No discurso, o líder do PSD até fez uma autocrítica e admitiu que os portugueses esperam mais de si do que aquilo que foi capaz de mostrar até agora e para isso, até prometeu estar à altura do legado de Cavaco Silva: “Também sei que as pessoas esperam mais de mim do que aquilo que eu fui capaz de mostrar até agora. Quero dizer-vos, olhos nos olhos, eu tenho noção disso”, afirmou.

com Lusa