A produção industrial da zona euro retomou em janeiro a trajetória de queda registada em grande parte do ano passado depois de um salto surpreendente em dezembro, salto esse entretanto revisto em baixa. O crescimento no bloco da moeda única arrisca manter-se nulo no primeiro trimestre, escrevem os analistas, perante uma atividade que continua a dar sinais negativos.
O indicador recuou 3,2% em cadeia depois de ter avançado 1,6% em dezembro, uma leitura revista significativamente em baixa depois da estimativa inicial de 2,6%. Em termos homólogos, a queda foi de 6,7%, invertendo a subida de 0,2% em dezembro (a estimativa rápida apontava para um avanço de 1,2% no último mês de 2023).
Estas revisões assinaláveis foram causadas pela volatilidade dos números irlandeses, onde o outsourcing representa uma porção considerável da atividade. Para janeiro, o sector industrial irlandês registou uma queda de 29% em cadeia, revertendo na totalidade o salto de 19% no mês anterior e castigando a zona euro. Ainda assim, “não foi só a produção irlandesa que caiu”, denota a análise da Pantheon Macro.
“Na realidade, a produção industrial caiu em todas as economias da zona euro, exceto oito”, incluindo Portugal, onde o indicador avançou 1,4% em cadeia (o que se traduz num recuo de 1,5% numa análise homóloga). De assinalar que os dados para Itália, uma das principais economias europeias, ainda não são conhecidos.
“Por outras palavras, distorções de parte, ainda não estamos a ver a recuperação nos dados subjacentes da indústria apesar da melhoria recente nos inquéritos privados”, lê-se na nota do think-tank britânico.
Já o banco ING destaca que “os números de janeiro ficam em linha com a tendência de queda verificada até outubro do ano passado”, o que, “no curto prazo, significa que a indústria deve contribuir negativamente para o PIB no primeiro trimestre, a não ser que as leituras de fevereiro e março superem as expectativas significativamente”.
Contudo, dada a performance até agora, a projeção da Pantheon passa por uma queda de 2% no primeiro trimestre, isto mantendo-se o carryover do primeiro mês.
Mais para a frente no ano, os sinais são mais otimistas. Há sinais positivos como o pico no ciclo de inventários e a recuperação do poder de compra das famílias com a subida dos salários e a descida da inflação, mas “os problemas estruturais da zona euro parecem ter piorado”, sobretudo olhando para os sectores intensivos em energia ou para a situação geopolítica global.