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Preços das casas sobem em Portugal e descem no Reino Unido. Resposta está na oferta, dizem especialistas

Nos últimos 12 meses o preço das casas subiu 6,2% em Portugal, enquanto o Reino Unido registou a maior quebra desde 2009. "Em Inglaterra existe uma oferta superior em segmentos mais baixos e isso faz com que o mercado e os preços evoluam de outra forma", diz Ricardo Sousa, da Century21 Portugal. Economista defende que até fevereiro os preços "não vão aliviar".

O atual contexto económico, provocado em boa parte pela inflação e aumento das taxas de juro, tem vindo a impactar a vida dos portugueses nos últimos meses. No que às taxas de juro diz respeito, esse efeito tem-se refletido no mercado imobiliário, onde os preços das casas continuam num crescendo.

Os dados apresentados pelo índice de preços do 'idealista' revelam que nos últimos 12 meses os preços das casas em Portugal registaram um aumento de 6,2%, com o valor médio nacional a fixar-se nos 2.531 euros/m2 no mês de julho.

No entanto, a conjuntura da subida das taxas de juro tem verificado uma tendência inversa no mercado imobiliário no Reino Unido, onde os últimos dados da entidade financeira Nationwide, apontam para uma quebra de 3,8% nos preços das casas nos últimos 12 meses, naquela que é a maior descida desde 2009 em território britânico.

A resposta para este cenário contrastante entre os dois países resume-se à lei mais básica do mercado: a oferta sobre a procura. "No Reino Unido, a procura explica uma grande parte da quebra dos preços. Em Portugal explica-se com a oferta que no primeiro trimestre caiu 17%", refere o economista Pedro Brinca em declarações ao Jornal Económico (JE).

No caso de Portugal, o também investigador na NovaSBE e no Centro de Economia e Finanças da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, explica que ao problema da falta de oferta é preciso acrescentar o aumento dos preços dos materiais de construção.

"Ou seja, existe um efeito de arrastamento em que os preços das casas à venda podem refletir o aumento das matérias-primas na altura em que foram construídas e por outro lado, uma quebra da oferta dessas mesmas casas", afirma.

Ouvido pelo JE, Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal destaca desde logo que os dois países vivem realidades completamente diferentes. "O Reino Unido vive já há algum tempo circunstâncias bastantes específicas a nível interno desde o Brexit, depois a situação de instabilidade política e um banco central que foi muito mais agressivo nas subidas das taxas de juro", realça, dando também como exemplo de comparação, o que se passa no mercado imobiliário em Espanha.

"A grande questão que se põe em Portugal e se compararmos até com Espanha, na zona de Barcelona, temos uma evolução do valor médio de transação do ano passado para este, com uma queda de 16% do valor médio de transação. Em Portugal a oferta de imóveis nos segmentos médio e médio baixo é muito superior em Espanha do que em Portugal. Em Inglaterra verificamos também que existe uma oferta superior em segmentos mais baixos e isso faz com que obviamente o mercado e os preços evoluam de outra forma. A resposta central está na oferta", explica o CEO.

Com o Banco Central Europeu (BCE) a dar sinais de que a subida das taxas de juro é para manter, o futuro próximo não se afigura muito diferente do que se vive atualmente no mercado de habitação em Portugal.

"Acho que as taxas de juros não irão descer até fevereiro. As questões da oferta, por mais que o [programa] ‘Mais Habitação’ possa ter algum impacto, isso não se resolve em meses. Portanto, durante pelo menos mais seis meses, os preços não vão conhecer um alívio", sublinha Pedro Brinca.

Um sentimento que é partilhado por Ricardo Sousa, da Century21 Portugal. "A mensagem do Banco Central Europeu é que vai manter a taxa alta mais tempo e depois temos o facto do Banco de Portugal, que é dos únicos, se não o único banco central que está a obrigar o stress adicional dos 3%. Aqui ao lado, o Banco de Espanha não tem esta obrigação", salienta.