A Revolut tem detetado um aumento exponencial de fraudes financeiras com vagas de emprego e nas redes sociais. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), o responsável de FinCrime deste banco digital, alerta que os embustes relacionados com recrutamento cresceram mais de 11 vezes nos últimos meses de 2023. Só em Portugal cada vítima está a perder mais de três mil euros. Woody Malouf lança ainda um apelo a Bruxelas e a cada um dos Estados-membros: “Ajudem as Big Tech a detetar e eliminar ativamente os conteúdos fraudulentos na fonte com as ferramentas e os mecanismos adequados”.
Quantas notificações de fraude receberam na Europa, particularmente em Portugal, nos primeiros meses deste ano?
Os nossos dados mostram que, no segundo semestre de 2023, 77% de todos os casos de fraude comunicados à Revolut na Europa tiveram início em plataformas de redes sociais. Das fraudes que começam através de uma plataforma de redes sociais, 61% têm origem especificamente em plataformas Meta (Facebook, Instagram, Whatsapp, Messenger), representando 40% do total dos montantes roubados. Os tipos de fraude mais comuns são os esquemas de compra (70%) e os esquemas de investimento (12%). No que respeita a Portugal, a tendência mantém-se. No mesmo período, 79% das fraudes registadas tiveram origem nas redes sociais, com as plataformas Meta a representarem 59% deste valor e 27% do dinheiro perdido.
Observámos também um novo esquema que está a crescer exponencialmente: os falsos esquemas de emprego. Neste caso, os burlões publicam falsas ofertas de emprego em linha ou contactam os clientes através de serviços de mensagens instantâneas, anunciando salários elevados e bónus. Como parte da candidatura, pedem dinheiro adiantado ou informações financeiras pessoais para defraudar as vítimas.
As táticas mais comuns incluem pedir às pessoas que paguem antecipadamente formação paga, taxas de administração e de instalação, ou que comprem o equipamento necessário, como um computador portátil ou um telemóvel. Vemos que estão a aumentar exponencialmente: mais 1200% nos casos reportados até 2023. Só em Portugal, a Revolut estima que o prejuízo médio por utilizador foi de 3.762 euros e que a faixa etária mais visada seja entre os 20 e os 35 anos – precisamente aqueles que estão nos primeiros anos de emprego.
79% das fraudes registadas em Portugal tiveram origem nas redes sociais, com as plataformas Meta – Facebook, Instagram, Whatsapp e Messenger – a representarem 59% deste valor e 27% do dinheiro perdido
O que motiva esta subida?
Embora não disponhamos de dados sobre a causa exata do aumento do número de burlas, acreditamos que está ligada a diferentes fatores: as redes sociais oferecem um número crescente de oportunidades para atingir potenciais vítimas através de novos tipos de burlas, com incentivos limitados para estas plataformas combaterem a fraude na origem e há um aumento do papel de tecnologias, como a inteligência artificial, por parte destes grupos criminosos para industrializar a sua atividade criminosa. Depois, à medida que o custo de vida aumenta, estão a aproveitar-se daqueles que procuram uma forma legítima de melhorar as suas vidas. Também a cooperação internacional limitada para combater as organizações criminosas multinacionais que estão a conduzir este crime, permitindo-lhes continuar sem receio de repercussões.
À medida que o custo de vida aumenta, os criminosos estão a aproveitar-se daqueles que procuram uma forma legítima de melhorar as suas vidas
Para clarificar: quando a Revolut analisa o fenómeno da fraude financeira, como é o que faz?
A fraude financeira contra os nossos clientes divide-se em duas categorias: não autorizada e autorizada. A primeira consiste em os criminosos acederem aos fundos da vítima sem a sua permissão ou autorização (ou seja, fraude com cartões, roubo físico ou mesmo pirataria informática na conta da vítima). A segunda refere-se a práticas enganosas que convencem a vítima a autorizar um pagamento, ou seja, as burlas. Os exemplos mais comuns de burlas incluem as burlas de compra e as burlas de investimento que, de acordo com os nossos dados, têm origem sobretudo nas redes sociais.
Nas burlas de compra, as pessoas são enganadas para comprarem artigos que não existem ou que não são os anunciados. Este é o tipo de fraude mais comum, e a maioria dos casos tem origem em mercados com controlos ou incentivos limitados para proteger os seus clientes. Por outro lado, existem as fraudes de investimento, nas quais são prometidas aos indivíduos oportunidades que muitas vezes são demasiado boas para serem verdadeiras em troca do “investimento” de grandes somas de dinheiro. Este tipo de fraude é responsável pela maior parte do dinheiro perdido.
A Revolut está a apelar aos governos europeus, entre os quais o português, e à União Europeia (UE) para ajudar a combater este problema. Consideram que a UE e Portugal não têm feito o suficiente nesse sentido?
Na Revolut apoiamos a proposta da Comissão Europeia para implementar o Regulamento dos Serviços de Pagamento (PSR), que visa introduzir medidas para os bancos combaterem a fraude que envolve a representação de funcionários bancários. No entanto, sabemos que este tipo de fraude representa apenas 4% de todos os casos de fraude em 2023. Quando se trata de fraudes com origem nas redes sociais, o número aumenta para 77%. Por conseguinte, apelamos a que sejam tomadas medidas para combater a fraude na fonte, ou seja, nas redes sociais, em vez de concentrar os esforços apenas em esquemas que se fazem passar por funcionários bancários.
Apelamos a que sejam tomadas medidas para combater a fraude na fonte, ou seja, nas redes sociais, em vez de concentrar os esforços apenas em esquemas que se fazem passar por funcionários bancários.
Qual é o vosso plano de ação?
Os nossos sofisticados controlos de prevenção da fraude analisam mais de 500 milhões de transações todos os meses e tomam medidas para alertar os nossos clientes se acreditarmos que a sua transação pode ser fraudulenta. No entanto, os bancos não podem ser a única linha de defesa contra a fraude nas aplicações. Se quisermos combater a fraude e as burlas de forma abrangente, temos de atuar em toda a cadeia de fraude. Apelamos à UE e aos Estados-membros para que ajudem as BigTechs a detetar e eliminar ativamente os conteúdos fraudulentos na fonte com as ferramentas e os mecanismos adequados. O nosso objetivo é continuar a colaborar estreitamente com as autoridades europeias e locais – entidades reguladoras, governos, parceiros do sector e agências de aplicação da lei – para identificar e mitigar este tipo de riscos na sua origem.