A economia da zona euro voltou a escapar à recessão com mais um trimestre de crescimento positivo, vendo o PIB avançar 0,3% em cadeia entre abril e junho deste ano, o que se traduz num crescimento homólogo de 0,6%. Portugal liderou na comparação com igual período do ano passado, registando o segundo crescimento mais elevado nesta ótica entre os países da moeda única, mas estagnou em cadeia depois de um trimestre extraordinário a abrir 2023.
A estimativa rápida do Eurostat divulgada esta quarta-feira coloca Portugal como o segundo país que mais cresceu na zona euro em termos homólogos, ao avançar 2,3%, atrás apenas da Irlanda, com 2,8% (olhando para a UE como um todo, a Roménia também ultrapassa Portugal com 2,7%). No entanto, o cenário em cadeia é bem distinto, com a economia nacional a estagnar em relação ao primeiro trimestre do ano.
Para Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, há dois efeitos opostos em jogo: na análise homóloga, há efeitos base que inflacionam os dados agora conhecidos (por exemplo, ao comparar com um período anterior à época alta do turismo do ano passado, quando o impacto positivo no crescimento foi mais notório); por outro, o primeiro trimestre foi muito forte, pelo que se torna difícil “melhorar em relação a algo ótimo”.
Recorde-se que o primeiro trimestre do ano registou um crescimento de 1,6% em comparação com o último período de 2022, ao passo que a leitura homóloga havia revelado um avanço de 2,5%. Ou seja, em ambos os casos as estimativas divulgadas esta quarta-feira são uma queda em relação ao registo anterior.
A divulgação desta quarta-feira é, portanto, “moderadamente positiva”, ao pintar um cenário misto para Portugal e a zona euro, que tem mostrado uma resistência acima do esperado ao ambiente desfavorável de inflação elevada e aperto monetário. No capítulo dos juros, Braz Teixeira aproveita para ressalvar que “os efeitos das subidas ainda não se sentem na totalidade”, pelo que “as perspetivas não são as melhores”.
Os analistas da Pantheon Macro têm uma visão semelhante, antecipando uma desaceleração no próximo trimestre, apontando mesmo a uma queda no PIB de 0,1%. A culpa é da perda de poder de compra das famílias devido à inflação, menor propensão a investir à boleia de taxas mais altas e inquéritos de confiança em terreno de contração.
Há, no entanto, uma nota positiva: o mercado laboral continua a dar sinais de vitalidade, com “o abrandamento no PIB a mostrar pouco impacto” no emprego, destaca a nota. O emprego cresceu 0,2% em cadeia, ou seja, 1,5% em termos homólogos – o que superou marginalmente as expectativas dos analistas, de 1,4%.
“São excelentes notícias para a economia, mas um desafio para o Banco Central Europeu (BCE)”, argumenta a Pantheon, recordando a preocupação manifestada pela presidente Christine Lagarde quanto aos custos unitários do trabalho e ao seu impacto na dinâmica de inflação.