Concebido por três artistas-curadoras, o projeto “Greenhouse”, que representa Portugal na 60ª edição da Bienal de Veneza, é, no fundo, um jardim crioulo vai habitar o Palazzo Franchetti, entre 20 de abril e 24 de novembro de 2024, com o objetivo transformar este mesmo jardim num espaço de criação contínua entre artistas e público.
E embora na sua génese não estivesse qualquer intenção de ajustamento a uma efeméride – as comemorações do cinquentenário da Revolução de Abril – o projeto associa-se à celebração deste momento histórico, i.e., a instauração do regime democrático em Portugal, e também ao centenário do nascimento do líder da resistência guineense e fundador do PAIGC - Partido Africano para a independência da Guiné e Cabo Verde, Amílcar Cabral, assassinado em 1973.
Portugal leva a Veneza um espaço expositivo assente em quatro eixos: Jardim (Instalação, Espaço e Tempo); arquivo vivo (Movimento, Som e Performance); Escola (Educação, História e Revolução) e Assembleias (Público e Comunidades).
Objetivo? Levar os visitantes a refletir sobre as relações entre natureza, ecologia e política e, naturalmente, as suas possíveis implicações. Esta pluralidade de leituras tem por base o perfil de cada autora: Mónica de Miranda é artista visual; Vânia Gala é coreógrafa e Sónia Vaz Borges define-se como historiadora interdisciplinar militante.
O que une estas três mulheres? O trabalho de investigação constante em torno de temas como a construção de memórias e ainda o facto de todas serem afrodescendentes em Portugal.
Já a performance que vai dialogar e habitar o jardim intitula-se “Passa Folhas” e corresponde, digamos, a um arquivo vivo coreográfico. É uma criação de Vânia Gala, que parte da ideia do Jardim Crioulo “como prática de contra-plantação de distribuição mútua, bem como posicionamentos e coreografias alternativos”. Gio Lourenço, Luiza Vilaça, Emília Ferreira, Mavá José são os intérpretes desta performance que vai ser apresentada na abertura do Pavilhão ao público, no dia 20 de abril, e ainda no encerramento, a 23 e 24 de novembro.
O Jardim, por sua vez, será também transformado numa Escola com um programa criativo de workshops e investigação da responsabilidade da historiadora militante Sónia Vaz Borges. Estão previstos, neste âmbito, uma leitura-performance intitulada “Walking Archives”, que terá lugar no dia 20 de abril; “Silent Speaking”, um workshop-discussão que vai ocorrer a 3 de julho em língua gestual, com materiais distribuídos em escrita braile e tradução para outros públicos em inglês e italiano; assim como o seminário “Futuristic Schools”, nos dias 4 e 5 de julho, orquestrado por Sónia Vaz Borges e Virgílio Varela, em torno da educação do futuro e tendo como ponto de partida os três pilares da educação militante – formação técnica, formação política e transformação dos comportamentos individuais e coletivos.
O projeto “Greenhouse” convoca igualmente vários coletivos, associações, artistas, curadores e investigadores de Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil, Benim, Nigéria, Berlim, França e Itália, entre outros, para a criação de oito Assembleias.
Destacamos as duas primeiras, logo no arranque desta 60ª Bienal de Veneza. Rizomas, no dia 21 de abril, irá refletir sobre a forma como os artistas e curadores contemporâneos abordam os desafios do presente no seu trabalho; e POLEN - Ecologies of Care, uma conversa que se realiza a 22 de abril e que pretende “expandir as narrativas em torno das ecologias do cuidado no mundo da arte, o papel da arte e da prática curatorial como modos de partilha e expressão criativa num contexto local e global”, e que será moderado por Paula Nascimento (Leão de Ouro na Bienal de Veneza 2023).
A Representação Oficial Portuguesa é comissariada pela Direção-Geral das Artes (DGARTES).