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Portugal Exportador quer "catequizar" PMEs para a sustentabilidade

Fátima Vila Maior, diretora de relações internacionais da fundação AIP, que organiza o evento em parceria com a AICEP, alerta para a necessidade das PME's serem certificadas, cumprindo as normas definidas pela UE para 2027. "As empresas têm que ter consciência que não há volta a dar", refere.

O tema da sustentabilidade veio para ficar e as PME portuguesas vão ter de assumir o compromisso da certificação ambiental para assim cumprirem os requisitos estabelecidos pela União Europeia em relação aos critérios ESG para 2027.

A mensagem é transmitida por Fátima Vila Maior, diretora de relações internacionais da fundação AIP, que organiza em parceria com a AICEP o evento 'Portugal Exportador' que este ano vai decorrer no dia 19 de outubro no Centro de Congressos de Lisboa.

Em entrevista ao Jornal Económico (JE), a responsável deixa, no entanto, o alerta de que é necessário criar uma normativa que estabeleça os parâmetros em relação ao fator da responsabilidade social e da boa governança. Fátima Vila Maior traça também um dos desígnios da edição deste ano do Portugal Exportador. "Informar. É fundamental todos os seminários, toda esta catequização que vai ser feita", refere.

Quais são os principais objetivos para a edição deste ano?

O nosso objetivo é chamar a atenção das empresas para um conjunto de situações e dizer quais são os parceiros, fornecedores, dinamizadores, que podem ajudar as empresas na concretização dessas vontades. O objetivo final é aumentar a performance das empresas exportadoras, ajudando-as a exportar mais e melhor e despistando empresas que têm produtos ou serviços já no mercado e que ainda não exportam, tentar ajudá-las a exportarem de uma forma mais sustentável.

Este ano, a menina dos nossos olhos é o Green Trade Lab, porque também existe uma diretiva comunitária, primeiro para a área financeira, depois para a área das grandes empresas, e que há de chegar, em 2027, a todas empresas que têm a ver com as práticas do ESG.

Precisamos chamar a atenção das empresas para esse objetivo que vai desde logo permitir acesso a financiamentos, quer sejam financiamentos no âmbito do Portugal2030 e dos financiamentos comunitários, quer até os financiamentos bancários.

E desde logo uma coisa que é muito importante, que é poderem, em termos de consumidor, posicionar melhor os produtos e darem resposta aos consumidores que são mais exigentes. Não existe hoje por hoje uma certificação ou uma interpretação da certificação às PME.

É importante ajudarmos e termos a capacidade de explicar às empresas a necessidade que elas têm desta transição para esta nova realidade, uma realidade que é no âmbito de uma política europeia, mas que tem impacto nos seus produtos e no valor dos seus produtos junto do consumidor final.

Achamos que não é só porque somos obrigados, mas é porque assim conseguimos vender melhor os nossos produtos. Obviamente que nesta primeira fase, o que está mais estruturado e aquilo que as empresas poderão recorrer com maior facilidade é a parte da sustentabilidade ambiental, que é aquilo que já existe de normativas no âmbito da União Europeia e depois versadas um bocadinho pelas entidades públicas portuguesas. Em relação à responsabilidade social e em relação à boa governance, cada entidade terá a sua interpretação. Não existe um modelo.

E em relação ao Green Trade Lab?

Na prática, o Green Trade Lab vai ter duas áreas: uma onde com os nossos parceiros vamos debater estas temáticas, vamos chamar speakers nacionais e internacionais, nomeadamente case study de grandes empresas que já tenham percorrido esse percurso, no sentido de já responderem de uma forma positiva a esse desafio e, por outro lado, trazer parceiros fornecedores que ajudem as pequenas e médias empresas a percorrer esse caminho.

Na maior parte dos casos, sobretudo na parte da sustentabilidade ambiental, estamos a falar de empresas de consultoria mais pequenas e que podem trabalhar com as PME’s. Esta necessidade das empresas é uma necessidade, em termos de exportação, fundamental. De alguma forma, terem este processo de sustentabilidade ou boa governança. Hoje em dia, aquilo que nós podemos dizer às empresas é que principalmente os bens transacionáveis e bens de consumo, ao terem a chancela de que o produto é amigo do ambiente, podem vendê-lo mais caro.

O objetivo é ter uma área em que temos, por exemplo, as empresas de consultoria de sustentabilidade, a parte de empresas que tenham propostas de formação e consciencialização sobre estas áreas, não só para os empresários, mas também para as equipas, porque basicamente é assim. Isto é um processo que não é um processo por lei. Toda a gente, todos os funcionários, todos os parceiros.

Quanto tempo demora e qual o custo de um processo de licenciamento?

É exatamente isso que as PME têm que saber. Quanto é que isso custa? Merece a pena? Claro que são obrigadas, mas numa primeira fase as pessoas dizem sempre se vale a pena fazer já e se compensa.

Claro que, obviamente, quando perceberem que para o acesso a fundos comunitários precisam de ter esse licenciamento…. agora, o grande problema que nós estamos a ter em relação à sustentabilidade, é que não existe de uma forma estruturada, a possibilidade de, em relação ao fator da responsabilidade social e da boa governança, de uma normativa, até agora, que diga os parâmetros.

Nós, enquanto Portugal Exportador, o que queremos é sensibilizar e dar informação às empresas. Como é que podem sensibilizá-las, desde logo, do que é que elas poderão fazer agora.

Como tem sido este ano e meio de guerra para as exportações nacionais?

A única coisa que nós podemos falar é que os preços das matérias-primas estão bastante caros, que a inflação impactou toda a produção, nomeadamente a parte dos custos, não só das matérias-primas, mas o custo de transportes, mas o que é um problema para uns pode ser uma oportunidade, para outros. Portugal tem cavalgado bem essas oportunidades. Os Estados Unidos é um país onde tem crescido imenso as nossas exportações.

As empresas portuguesas e os empresários demonstraram uma capacidade de resiliência muito grande durante alguns anos e que penso que agora tem permitido que as exportações portuguesas tenham tido uma performance fantástica nestes últimos anos.

Sentiu-se mais impacto nas exportações com a guerra ou durante o período da pandemia?

Não existem instrumentos que possam medir. A única coisa que nós podemos fazer é a medida temporal e perceber o acréscimo das exportações de 2019 para 2020, em 2020, para 2021 e de 2021 para 2022. Percebendo que há sempre uma décalage temporal em termos de causa efeito. Mas é óbvio que a pandemia teve um impacto enorme nos transportes, a guerra, um impacto enorme na inflação, os transportes. também contribuíram para que as matérias-primas também não chegasse a um valor mais alto.

Também com o aumento das taxas de juros. Estamos a falar em condições bastante adversas, mas que mesmo assim as empresas portuguesas encontraram oportunidades, provavelmente de lugares deixados por outros que foram mais impactados por estas realidades. Estas dinâmicas da classe empresarial e das empresas portuguesas têm acompanhado bastante esta evolução.

O que podemos esperar para o sector empresarial, nomeadamente a exportação?

Com o Portugal Exportador o nosso objetivo é continuar a contribuir para uma boa performance das empresas portuguesas que se tem registado nos últimos anos. Há aqui um dado interessante é que 31% das empresas que estiveram no Portugal Exportador em 2022, concretizaram negócios no evento.

Houve uma grande interação entre fornecedores e empresas. Depois, outra coisa que acho que é um bom indicador é a taxa de fidelização, quer das empresas fornecedoras, quer das próprias empresas que vêm cá ao Portugal exportador.

Nós queremos ser o evento que contribui para a resolução do problema de gestão das empresas exportadoras, quer a nível da própria gestão das empresas de informação sobre mercados de formatos de exportação e, portanto, o facto de haver um conjunto de empresas que repetem a sua visita no evento.

Têm ideia de quantas pessoas esperam este ano e o número de expositores?

Vamos ter um crescimento seguramente na ordem dos 15% de fornecedores de serviços, que é mais ou menos se considerarmos o timeline do ano passado. Queremos ter alguns expositores novos, nomeadamente nesta área da certificação.

A nossa grande expectativa é poder ter entidades públicas e entidades privadas que possam fornecer às empresas, por um lado, informação e, por outro lado, serviços que ajudem as empresas a terem estas certificações e a cumprirem as suas metas relativamente a este desígnio europeu que tem de ser cumprido.

As empresas têm que ter consciência que não há volta a dar. Ou seja, elas não podem adiar muito mais tempo esta questão. Isso é uma coisa que as empresas portuguesas têm de perceber. A história da sustentabilidade veio para ficar.

Acha que as PMEs portuguesas estão negação em relação à sustentabilidade ou querem ser certificadas, mas não sabem como?

Elas não estão em negação. Elas percebem exatamente a importância disso. Se calhar estarão mais sensíveis se conseguimos passar a mensagem que isto não é um custo associado, é uma possibilidade de venderem melhor. E sobretudo acham que isto é uma coisa só para as grandes empresas. Acho que o problema é um bocadinho por aí.

No Portugal Exportador, o grande desígnio nesta altura é informar. É fundamental todos os seminários, toda esta catequização que vai ser feita.

Isto é um tema muito importante para as empresas exportadoras. O Portugal Exportador organizado pela Fundação AIP em parceria com a AICEP acha que o tema do ESG, nomeadamente preocupações ambientais, sociais e do governance será o tema da edição do Portugal Exportador 2023.