A dar os "primeiros passos" no mercado do super prime imobiliário. É desta forma que Alex Koch, partner da consultora imobiliária de luxo Knigth Frank classifica o atual momento de Portugal neste segmento de negócio. Em entrevista ao Jornal Económico (JE) o responsável adianta que a região do Algarve é o principal ponto de atração dos investidores e revela que este ano um português comprou uma residência na Quinta do Lago por valores entre os 20 e os 25 milhões de euros. "Acredito firmemente que não demorará muito até ao nosso primeiro negócio ultra-prime" [mercados onde tenham ocorrido pelo menos três transações superiores a 25 milhões de dólares].
Como analisa este segmento do mercado imobiliário em Portugal?
Embora o mercado super-prime português ainda esteja a dar os primeiros passos, estamos agora a assistir a um fluxo constante de transações no mercado da Quinta do Lago, Quinta da Marina, eixo Melides / Comporta ou Douro com preços superiores a 10 milhões de euros. Este facto é impulsionado por um número crescente de compradores que optam por passar uma maior parte do seu tempo nestas propriedades. Esta tendência de residência ‘co-primária’, observada em mercados semelhantes, juntamente com a melhoria da qualidade da construção na última década, está a contribuir para que este mercado continue a ser um destino super-prime. O Algarve tem liderado a oferta de novas construções apresentadas ao mercado em condições imaculadas, por isso, acredito firmemente que não demorará muito até ao nosso primeiro negócio ultra-prime.
A última semana em Portugal ficou marcada por uma crise política. Que impacto poderá ter no sector imobiliário para o investidor internacional?
No Reino Unido também estamos prestes a passar por um processo eleitoral em outubro do próximo ano e a discussão é realmente sobre se haverá uma preocupação dos investidores em comprar no mercado do Reino Unido, ou se vão esperar para ver o resultado das eleições. A incerteza nunca é uma coisa boa e neste mercado é sempre uma preocupação para os investidores que estão a entrar.
Há um ano falávamos sobre se o fim dos Vistos Gold teria algum impacto no nosso mercado e na verdade, não teve nenhum impacto. Os nossos clientes estavam a comprar porque queriam viver no local, tirar proveito da qualidade de vida, do custo de vida em Portugal, do custo do imóvel em comparação com outros países europeus é bastante inferior. Sobre o fim dos Residentes Não Habituais no momento não vejo nenhuma razão para o mercado parar de repente. Acho que ainda veremos muitas pessoas a procurarem mudar-se. Uma das coisas que mais me impressionou em Portugal é o nível de investimento em infraestruturas que tem sido enorme na última década. E isso deu a muitas pessoas muito mais confiança.
Eu vivi no Algarve até os 16 anos entre a década de 70 e 80. Não havia escolas de língua inglesa no Algarve nessa altura, então os meus pais meteram-me num avião para estudar em Inglaterra. Hoje em dia há listas de espera em todas as escolas privadas de língua estrangeira no Algarve e isso mostra que os investidores não estão a vir para investir apenas durante algumas semanas do ano. Isto são pessoas que se mudam e fazem as suas vidas em Portugal porque agora podemos trabalhar a partir de qualquer lugar.
Mas zonas como a Quinta do Lago, Vilamoura ou Comporta podem ser de alguma forma impactadas por esta crise política?
O mercado com tickets acima de 10 milhões é considerado um nicho de mercado em Portugal, mas com uma procura consistente e cada vez mais apurada, nomeadamente para propriedades de exceção ou de coleção, como gostamos de lhes chamar, e em zonas como a Comporta e a Quinta do Lago, mas também em Lisboa, onde a Quinta da Marinha é um excelente exemplo de consolidação e interesse por parte de clientes internacionais. A que se somam regiões como o Porto e o Douro, com procura de produto, como quintas vinhateiras, a ser procuradas por americanos, ingleses ou clientes do Norte da Europa.
Acho que nestes valores o mercado pode ver alguma desaceleração enquanto percebemos os detalhes de toda a situação política, mas no super prime acho que vai continuar bastante ativo. No ano passado, vimos um par de transações acima de 20 milhões de euros na Quinta do Lago. Os compradores dessas propriedades são pessoas que já têm ativos em Portugal, não são pessoas que saem diretamente de um avião.
Essas transações acima de 20 milhões de euros. Falamos de que nacionalidades?
Bem, o último foi um português. As pessoas que estão interessadas em lugares como a Comporta são muito mais do norte da Europa e norte-americanos. Estamos a ver alguns investidores do Médio Oriente, da Ásia, assim como expatriados da Ásia, mas o mercado norte-americano é muito forte, com muito interesse em Lisboa. Para o Algarve, especialmente Quinta de Lago, é mais o Reino Unido, Irlanda e alguns do norte da Europa.
Podemos esperar mais negócios no mercado do super prime em Portugal no próximo ano?
Acho que a única coisa que se vai notar na Quinta do Lago e Vale do Lobo em particular são as pessoas. Esta é uma tendência que ainda não vimos em Cascais, na verdade as pessoas estão a comprar casas e a construir casas puramente para serem vendidas para arrendamento e investimento. Estão a comprar um terreno e a criar uma residência super prime. Este tipo de propriedades são atraentes para esse mercado são casas que precisam de ser trabalhadas do zero porque são novas. Acho que pelo menos vamos ver uma ou duas dessas propriedades vendidas ao longo dos próximos 12 meses, estou certo disso.
A falta de ligações diretas de avião dos Estados Unidos para o Algarve é um entrave ao investimento?
Não. Vou com a minha família quase todos os anos ao Algarve, voamos para Lisboa e depois é duas horas e meia de carro numa autoestrada vazia até ao Algarve. Para quem vem dos Estados Unidos, duas horas e meia não é nada, eu demoro cerca de duas horas e meia para atravessar Londres. Se fosse uma autoestrada movimentada, com muito tráfego, então sim, talvez isso fosse um problema.
Além desta crise política que outros desafios o mercado imobiliário português terá pela frente em 2024?
O custo de vida e dos empréstimos são um problema em qualquer lado, mas isso não afeta realmente o super prime. Portanto, não vejo isso como um problema. É difícil afastar a sua situação política porque é uma parte muito importante para alguém que não conhece o mercado tão bem, para decidir se querem investir 25 milhões de euros no país. Os investidores têm que se sentir bastante confiantes de que há uma boa oportunidade.
Há duas guerras a acontecer que causam preocupação lá fora no mercado. Felizmente para Portugal está longe de tudo, acho que isso é um ponto positivo. Além da situação política, que poderia ter um impacto, as mudanças na tributação novamente poderiam ter um impacto, vamos ver como evolui essa situação.