Skip to main content

Pedro Santa Clara: “A IA vai ser uma grande alavanca [na produtividade], vai dar-nos superpoderes”

O professor catedrático de Finanças, fundador da 42 Lisboa explicou, esta segunda feira, as vantagens de utilizar ferramentas de inteligência artificial para melhorar a produtividade nas empresas. Marta Cunha, da Sonae, acrescentou às ferramentas, a necessidade de ter uma cultura empresarial nesse sentido. Eduardo Martinez, antigo aluno da 42 Lisboa, fundador da Carbon, aconselhou prontidão para a mudança.

Pedro Santa Clara, fundador da Escola 42 Lisboa e da TUMO, alertou esta segunda-feira, 17, para um desafio ciclópico: “Provavelmente, nos próximos cinco anos temos que dar formação a 1,5 milhões de pessoas empregadas, incluindo utilização de ferramentas de inteligência artificial (IA) e nenhuma instituição de educação está pronta para esse desafio”.

Vamos precisar de novos modelos de formação, adiantou. Mais. “Precisamos de mudar a infraestrutura de educação e para isso é preciso desregulamentar … Temos instituições do século XIX a tentar preparar as pessoas do século XXI e não está a correr bem”, afirmou, exemplificando com a quebra da procura que se registou este ano na entrada no Ensino Superior.

Formação e trabalho são incógnitas de uma mesma equação, num horizonte assaltado por uma terceira variável: “A IA vai ser uma grande alavanca, vai dar-nos super poderes a todos nós que a usarmos. Desde logo é preciso vencer essa batalha: temos de usar, mas depois vai mudar profundamente a forma de trabalharmos, vai torná-la muito mais criativa e colaborativa”, afirmou o professor catedrático de Finanças no encontro “Zona de Impacto Global – Pensar o ESG”, iniciativa d’O Jornal Económico e do Novobanco, esta segunda-feira, 17.

Pedro Santa Clara defendeu, num artigo recente publicado no JE, que temos todos de aprender a lidar com a IA e rapidamente. Esta manhã, na 42 Lisboa, tendo como tema O Futuro do Talento e do Trabalho, mostrou a razão. Resultados de um estudo da BCG em que, para uma mesma tarefa, 100 consultores foram divididos em dois grupos, um a utilizar ferramentas de IA e o outro não, revelaram aumentos de produtividade entre 30% a 50% no grupo que usou IA. Mais. A qualidade do trabalho subiu na mesma ordem de grandeza.

“O gap entre quem usa e quem não usa é muito grande”, salienta Santa Clara, insistindo: “hoje em dia quem não está a utilizar ferramentas de inteligência artificial tem uma produtividade muito inferior”. Deu como exemplo, a Escola que fundou e dirige, que apostou em livrar-se do chamado “trabalho chato e repetitivo”, “sem medo”, porque se “no final do processo acabasse o trabalho, arranjariam outro”. Resultado?

“Desde então crescemos de duas escolas para cinco e passamos de 500 alunos para 5000, com poucas mais pessoas. De facto, o ganho de produtividade é gigantesco”, afirma.

Regressando ao estudo da BCG. Se a primeira conclusão aponta a um aumento inequívoco da produtividade, a segunda refere que “o ganho era proporcionalmente muito maior nos consultores mais fracos”. Isto é a prova, segundo o professor, de que “a utilização de ferramentas de IA é equalizadora. O gap entre os melhores e os piores reduz-se”.

“Temos todos que usar e quanto mais fracos, quanto menores capacidades tivermos, menores conhecimentos tivermos, mais devemos usar”, conclui Pedro Santa Clara.

Marta Cunha, head of Transformation da Sonae, concorda no essencial, discordando ligeiramente no final: “As distâncias entre o melhor e o pior vão-se manter, mas tudo vai subir, tudo vai ser melhor”, afirma.

A responsável da Sonae lembra que aos títulos académicos davam confiança, mas à luz da realidade de hoje, é preciso inovar. “Importa nós conseguirmos decantar dos títulos aquilo que são as competências das pessoas e entender tão só aquilo que elas nos trazem”. Mas, e se calhar até mais importante, é entender o potencial, porque a …”própria definição de uma profissão vai mudando”.

Neste cenário, afirma, o que conta é “a minha capacidade de reinventar, de aprender, de perceber outras nuances e de ser uma pessoa diferente. Eu não preciso de ter a mesma carreira, aliás, convém que eu não dependa disso, que eu seja capaz de ir à procura de algo diferente”.

Ou seja, sintetiza: a pessoa tem de ter “a vontade” de se recentrar em cada momento consigo e de “olhar para a diferença e perceber o que pode acrescentar de novo. “Tem de ser, como dizemos na Sonae, dono da sua jornada – no final tem que haver a vontade de se desafiar e fazer o seu caminho”.

No que respeita às competências necessárias no futuro, há algumas que são relativamente óbvias, como a capacidade para resolver problemas e a empatia, acrescentou.

Marta Cunha lembra a importância atribuída pela Sonae no âmbito da sua responsabilidade social, ao reskilling e upskilling e exemplifica com o envolvimento em duas iniciativas: o  programa de requalificação profissional PRO_MOV e o New Career Network onde coloca todos os cursos com empregabilidade acima de 70%. “

“É muito importante ter todas as ferramentas, mas é igualmente importante termos uma cultura de raiz, que faz com que a pessoa acredite no auto desenvolvimento ou no desenvolvimento apoiado, mas que queira estar a desafiar-se em contínuo”, concluiu.

Eduardo Martinez, antigo aluno da 42 Lisboa, fundador da Carbon, também trabalhou para outras empresas. Esta manhã considerou que a capacidade de o individuo se reinventar é o único passaporte para o futuro e na 42 ganha-se “nos desafios e na colaboração com os colegas e com os professores”. Explicou que ser dono do próprio caminho pressupõe “ser curioso, estar disponível para melhorar as competências que já tem e ter disponibilidade para aprender outras e para sair da sua zona de conforto”.

O que é preciso ter para ter sucesso? – perguntou o moderador da mesa redonda, Ricardo Santos Ferreira, subdiretor do Jornal Económico.

“Acho que  em primeiro lugar é preciso ter vontade de ter esse sucesso, a seguir, desenvolver capacidade e isso significa estar disposto a estudar, estudar todas as áreas de acordo com o objetivo” e, last but not least, “conseguir ser muito bom no leque de competências que são necessárias para conseguir atingir esses objetivos”.

Aos jovens e menos jovens, deixou um conselho: “Esteja pronto para a mudança!”