Entrou, falou e marcou. É com esta três palavras que se pode resumir a aparição de Pedro Passos Coelho na campanha da AD, em Faro, onde discursou num comício com uma intervenção dura contra o PS e de “apoio” à “vitória” da AD, cujas palavras ainda esta terça-feira estão a ecoar. Ninguém conseguiu passar despercebido à intervenção do ex-primeiro-ministro do PSD, que tem sido usado pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, como arma de arremesso para colar a AD ao regresso da austeridade.
Luís Montenegro e Pedro Passos Coelho não terão escolhido por acaso o distrito de Faro para a passagem do ex-líder pela campanha da AD. É neste distrito que o Chega se encontra em subida e a aproximar-se da coligação e Passos foi o próprio a dizer que tinha rumado ao Algarve para “ajudar” o PSD. E além de acusar o PS de ter deixado um “enorme vazio” no país e de dizer que está convencido que o “natural” é a vitória da AD, tentou captar eleitorado ao Chega quando disse que “precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado porque temos de ter também um país seguro”.
A declaração deixou indignados os partidos à esquerda, que de imediato a aproveitaram para colar a AD ao Chega. E o dia desta terça-feira tem sido precisamente marcado pelo rescaldo desta participação de Passos na campanha (que muitos desejavam) e pela declaração proferida pelo ex-chefe de governo. Logo de manhã, em Elvas, Luís Montenegro veio alinhar-se com a posição do ex-líder social-democrata, clarificando a mesma: tem de haver boas políticas de integração. A insegurança que sente não é pelo aumento da criminalidade, mas por não serem bem recebidos em Portugal.
Uma resposta direta à coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, que acusou Passos e a AD de estarem a ter um discurso aproximado ao do Chega, comparando a imigração com a insegurança. “É uma mentira associar a imigração a insegurança”, reagiu Mortágua, acusando a AD de ir “flertando” as ideias de André Ventura. Mas não foi a única a aproveitar a participação de Passos na campanha para colar a AD ao Chega. Também Rui Tavares, do Livre, acusou Pedro Passos Coelho de estar a “branquear projetos políticos de extrema-direita” e Pedro Nuno Santos, que estar terça-feira esteve em campanha nos Açores de partida para a Madeira, disse que Passos Coelho e Luís Montenegro “são duas faces da mesma moeda” e representam “o regresso a um passado” de austeridade. O líder do PS mostrou-se convicto de que vai ganhar as eleições e sublinhou que o espírito que vai andar na campanha da AD não é o de Sá Carneiro, mas sim o de Pedro Passos Coelho.
Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, reconheceu que no passado votou em Passos Coelho, mas garantiu que “não teme” que a entrada do ex-primeiro-ministro do PSD “tire” eleitorado aos liberais, porque, disse, a “mudança” no país está na IL e não na AD. Quem “aplaudiu” a presença e o discurso do “amigo” Pedro Passos Coelho foi o próprio André Ventura. Durante um comício, o líder do Chega disse que Passos foi a Faro não para dar apoio a Montenegro, mas sim para “dar estalo e uma lição” ao atual líder do PSD. Uma lição de estabilidade governativa. Isto porque Passos disse que Luís Montenegro ia ser governo, mas tinha de “reunir algumas” condições para esse governo e Ventura tirou daí uma leitura: negociar com todos os partidos à sua direita.
Para Paulo Raimundo, da CDU, a intervenção de Passos Coelho só veio tornar clara a estratégia da direita de voltar ao poder.