A Bandora oferece um software que tem por base a Inteligência Artificial (IA) para otimizar a gestão energética de edifícios, no que diz respeito aos sistemas de ar condicionado. Na prática, “é como se nós tivéssemos um controlo remoto na mão e estivéssemos a alterar as configurações a cada cinco minutos”, descreve, ao Jornal Económico (JE), a CEO e fundadora, Márcia Pereira.
Com o escritório situado no UPTEC (pólo tecnológico na cidade do Porto), a Bandora é uma spin-off da Universidade do Porto, da FEUP, da Faculdade, da Engenharia. Conta com uma equipa de 12 trabalhadores a full time, mas a responsável estima terminar o ano com 23 pessoas.
A tecnologia possibilita aquecer ou arrefecer o ar de forma eficiente e, “em média”, 15% dos edifícios já estão preparados para a receber. Está em causa “uma das maiores taxas de penetração do mundo”, destaca a empresária.
Neste contexto, o software da empresa gera rendimentos que superam os custos associados, indica, acrescentando que o cliente sai sempre a ganhar ao utilizar aquela tecnologia. De qualquer forma, a CEO da Bandora lembra a importância que os apoios associados ao PRR e ao Portugal 2020 têm no crescimento da empresa e sublinha que estes são catalisadores de uma aposta das empresas neste tipo de sistemas.
O software da Bandora já está presente em espaços de coworking do grupo FIL. O objetivo passa por chegar a um total de 300 edifícios até final do ano, assim como multiplicar por 10 a faturação registada em 2023. Para tal, a responsável lembra ao JE que são fulcrais as “parcerias estratégicas” que estão a ser estipuladas no plano internacional.
A empresa olha já para outros mercados, como é o caso dos Estados Unidos, onde Márcia Pereira destaca os apoios à renovação do parque de edifícios existente. Uma situação que, de acordo com a própria, resulta numa oportunidade de entrada significativa para a Bandora trabalhar em prol da renovação dos edifícios existentes.
O que é que a tecnologia da Bandora permite fazer? Quais as principais vantagens?
Alteramos a temperatura, alteramos o modo como se faz o aquecimento ou o arrefecimento, a velocidade de ventilação e vamos sempre procurar a melhor configuração para termos a maior eficiência energética possível, mas sem descurar o conforto dos ocupantes.
Mas claro que quando falamos em grande escala, em edifícios de serviços, edifícios comerciais, obviamente ninguém tem este controlo remoto. Existem sistemas de automação centralizados de automação e controlo. A solução da Bandora atua sobre esses mesmos sistemas que atualmente ainda têm uma forte dependência humana. É isso que nós queremos retirar aqui da equação, essa dependência humana e, portanto, a nossa solução não tem qualquer supervisão, mas consegue obter mais performance e melhores resultados que um facility manager humano.
O mercado português é indicado, na vossa perspetiva, para desenvolver esta atividade?
O mercado português é um mercado muito interessante. Aliás, o mercado europeu, porque é um mercado bastante maduro no que respeita à adoção de soluções centralizadas de automação e gestão de edifícios, aquilo a que chamamos smart buildings. Ou seja, tem uma das maiores taxas de penetração do mundo.
Estamos a falar em média. Em média existem cerca de 15% dos edifícios que já são smart, ou seja, já estão prontos para ser 'Bandorizados'.
A Bandora conta com investimento público, mas que valores lhe estão associados? Está ligado ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e ao Portugal 2020?
Sim, embora sendo uma spin off da Universidade do Porto, a nossa génese não vem de um departamento de investigação. Ou seja, tivemos que ir à procura de recursos de financiamento externo para poder financiar a nossa investigação e, portanto, começámos em 2020 com um programa estrutural, o Portugal 2020.
Atualmente estamos inseridos numa agenda mobilizadora naqueles super consórcios. Também temos um investimento que ascende a 1,7 milhões [provenientes do PRR]. Tudo isto para a componente de investigação e desenvolvimento da Bandora.
Que expetativas tem para 2024? Até onde pode chegar a Bandora no segundo semestre?
Começámos as nossas vendas oficialmente no ano passado e temos uma perspetiva de fechar até ao final do ano cerca de 300 edifícios e aumentar, em termos de volume de faturação, pelo menos 10 vezes mais do que no ano passado.
Claro que isto não é só mercado nacional, mas também alavancado com algumas parcerias estratégicas que estamos a fazer internacionalmente.
Esses 300 edifícios até ao final do ano são referentes ao mercado europeu?
É mercado europeu e no Brasil, onde temos um acordo de distribuição com um parceiro brasileiro. Também temos um outro acordo de distribuição com um parceiro no mercado dos Emirados Árabes Unidos, onde estamos já iniciar as primeiras provas de conceito.
Querem chegar a mais mercados internacionais ou, por agora, ainda não é um objetivo?
Sem dúvida. Aliás, quando desenvolvemos a solução da Bandora, ela foi desenhada desde o início para ser uma solução o mais abrangente possível. Nós podemos escalar facilmente para qualquer geografia. Claro que a Europa é um mercado natural, porque realmente é um continente onde é maior, percentualmente, a adoção de sistemas centralizados de automação e controlo. Ou seja, os chamados smart buildings.
Mas, naturalmente, estamos a olhar para outros mercados, nomeadamente os Estados Unidos. É um mercado muito interessante, até por causa de novos apoios à renovação do parque de edifícios existente. De facto, é uma grande oportunidade de entrada da Bandora para ajudar a fazer este retrofit dos edifícios existentes.
E em Portugal existem apoios à instalação destas tecnologias?
Existe, por exemplo, na área da agenda climática do PRR. Há uma linha de apoio precisamente para a renovação dos edifícios, não só edifícios do setor privado, mas também edifícios da administração pública, que são linhas muito interessantes em que frisam precisamente a instalação de softwares e de sistemas de controlo de gestão energética dos edifícios. Portanto, há uma grande oportunidade para a Bandora.
Esses apoios são suficientes ou deviam ser mais abrangentes ou mais fortes, por exemplo?
Na minha opinião este tipo de apoios são sempre muito bem vindos, porque facilitam, são catalisadores de uma rápida adoção deste tipo de sistemas.
No entanto, o nosso software paga-se a si próprio, ou seja, nós temos uma modalidade de negócio em que de toda a poupança que conseguimos gerar, nós faturamos metade dessa poupança e, portanto, o cliente está sempre a ganhar ao utilizar o software da Bandora.
Claro que ter apoios é sempre bom e interessante, até porque há edifícios que precisam de algumas medidas em termos de infraestruturas, como vidros, como isolamentos, como a sensorização, que às vezes não é suficiente. Mas, com o nosso software, estão sempre a ganhar.
Olhando para o contexto macroeconómico, com a desaceleração da inflação e um corte recente nos juros do BCE, o contexto é favorável para desenvolver o vosso negócio?
Para ser honesta, eu acho que que as soluções de eficiência energética convivem muito bem com momentos de maior crise económica. Até porque é nesses momentos que faz mais sentido a existência de soluções e de softwares como a Bandora.
Ou seja, em momentos em que a tarifa energética é muito elevada, isso é que provoca a aceleração da adoção e despoleta o contacto junto das nossas equipas comerciais. Os nossos melhores momentos são nos momentos de crise, em que fazemos realmente muita falta.
No entanto, nos outros [momentos] também. Ao adotar a Bandora, estão a otimizar as suas operações, estão a tornar-se bastante mais competitivos em termos operacionais e, portanto, podem utilizar o custo evitado da tarifa energética ou da fatura energética para fazer investimento de outra natureza nos seus edifícios.
Onde estão presentes, até à data, as tecnologias da Bandora?
Estamos em espaços de coworking do grupo FIL, nomeadamente os espaços Coworking Vertical na região do Porto. Estamos também em fase de concluir a nossa implementação no que é o edifício do Factory do Hub Creativo do Beato, onde tem atualmente a Unicorns Factory.
Também estamos em duas grandes cadeias de fast food internacional, em que já utilizam a nossa tecnologia e com potencial de adoção para mais restaurantes, até porque a capilaridade é bastante grande.