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O Estado Social e a pandemia

A individualização, a globalização, as mudanças na estrutura das relações familiares e a atual recessão económica podem, a par do envelhecimento demográfico, pôr em perigo a reciprocidade subjacente à solidariedade intergeracional e abrir caminho a conflitos intergeracionais.

Para que serve o Estado-Providência?
Com a pandemia da Covid-19, e os profundos impactos sociais que esta provocou desde o início de 2020 até aos dias que correm, responder a esta pergunta tornou-se mais urgente do que nunca.

Desde logo, o Estado-Providência serve para ajudar a criar laços de solidariedade entre os mais jovens e os mais velhos – a chamada solidariedade entre gerações (ou intergeracional). É importante aqui distinguir entre duas definições de geração.
Uma tem a ver com a família. Avós, filhos e netos constituem três gerações de uma mesma família. Com efeito, uma família em que avós, filhos e netos partilham a mesma casa é, desde logo, uma das formas mais antigas de se criar esta solidariedade intergeracional. Por um lado, os mais velhos, entre muitas outras coisas, transmitem experiência de vida e apoio emocional aos mais novos. Por outro lado, cabe aos filhos cuidar dos pais e, por vezes, dos avós.

À medida que as nossas sociedades se modernizaram, porém, as coisas tornaram-se mais complexas. Uma nova ciência social, a demografia, introduziu uma segunda definição de geração: a de grupo de indivíduos com uma característica comum, o ano de nascimento.

Tipicamente usam-se intervalos de dez anos para agrupar estes indivíduos, um agrupamento algo arbitrário que, ainda assim, permite fazer comparações úteis entre diferentes grupos etários. É daqui que surge a noção popular de geração associada a um evento histórico marcante: por exemplo, a “geração do 25 de Abril” ou a “geração C”, socializada imediatamente após a pandemia da Covid-19.

No cruzamento entre estas duas definições encontramos “efeitos geracionais”. Por exemplo, no caso da Geração C, o seu processo de desenvolvimento sociopsicológico está a ser indelevelmente marcado pelos efeitos provocados pela pandemia da Covid-19: este evento provocou um efeito significativo na infância e juventude de todos quantos vão crescer na ressaca da pandemia.

A questão que se coloca, então, é a seguinte: como deve o nosso Estado Social proteger os interesses desta geração sem descurar os direitos e obrigações das anteriores? E, acrescento, como fazê-lo de modo a não apenas diminuir a conflitualidade, mas sobretudo promover a solidariedade entre elas?

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