Lançaram uma nova plataforma, a Kabaz. Em que consiste?
O Kabaz já nasceu em 2016, do Kuanto Kusta Supermercados. Achámos que fazia sentido aumentar a proposta de valor do Kuanto Kusta naquele momento. Fomos um bocado ambiciosos e era um bocadinho cedo, porque constatámos que o mercado não estava pronto e as pessoas não tinham o hábito de comprar online e havia pouca oferta. Nesta altura, apenas quatro supermercados tinham preços online.
Como havia pouca oferta digital, não fazia sentido continuar a investir no marketing e programação. Parámos a projeto em 2020, antes da pandemia. Acho que antecipámos este projeto um bocado cedo demais [risos].
Foi um desajuste de timings?
Na pandemia não conseguimos retomar o projeto porque estávamos com muito trabalho no Kuanto Kusta, porque as pessoas compravam muito online e tivemos de nos focar no projeto principal.
Depois, quando a pandemia e o e-commerce abrandaram, em 2022, achámos que fazia sentido relançar este projeto. Fizemo-lo em setembro de 2022, só que depois achámos o nome confuso e decidimos mudar para Kabaz, adotando o 'k'.
Existe alguma diferença do produto que criaram inicialmente para este?
A ideia é como vamos permitir que as famílias saibam qual o supermercado que tem o seu cabaz mais barato. Não é o cabaz do vizinho ou de uma família genérica, mas o seu.
As pessoas querem saber os preços perto de sua casa. Se estão em Coimbra não lhes interessa os preços praticados em Lisboa ou no Porto. Esta funcionalidade também partiu da nossa experiência, tal como a solução mobile, e agora estamos também a trabalhar numa app.
Tivemos de perceber qual o desejo das pessoas e também o que funcionava. Melhorámos tudo o que tínhamos para melhorar e lançámos novamente para o mercado. Demorámos um ano e meio a relançar este projeto, pensando no design e na programação, mas também por causa do investimento. Investimos bastante na plataforma, e se tivéssemos investido mais tínhamos lançado mais rápido. Mas nunca fizemos rondas de investimento no Kuanto Kusta, é o que conseguimos criar de valor que metemos no desenvolvimento.
Têm aqui três momentos diferentes. Em 2016, quando lançam o Kuanto Kusta Supermercados, quando param em 2020 e quando voltam a pegar. Quanto investimento é que este projeto recolheu?
Nunca fiz as contas, mas certamente que será, pelo menos, 500 mil euros. Teríamos de detalhar as pessoas que trabalharam no projeto, os salários e tudo o que isso englobou. Mas a Supermercados é a base.
Então conseguiram aproveitar a base do projeto? Não houve necessidade de começar do zero.
Conseguimos aproveitar algumas coisas, nomeadamente a parte do matching, em que a plataforma sabe que tem de comparar os mesmos produtos. Ainda assim, tivemos de fazer uma atualização a esta funcionalidade, porque a tecnologia que existia em 2016 não era tão avançada quanto esta, mesmo em termos de velocidade e robustez.
Qual a importância deste Kabaz para os consumidores portugueses?
Penso que existe uma tripla importância. A primeira é que as pessoas acreditam em todas as promoções que vêm, mas nem tudo o que brilha é ouro. Queremos mostrar às pessoas que as promoções dos supermercados nem sempre são as mais vantajosas.
A segunda é pretender eliminar as compras por impulso, em que vamos ao supermercado para comprar três artigos e acabamos por sair com 15. Às vezes porque se lembram que precisam de algo, outras porque estão a gastar mais do que queriam.
E o online acaba por ter a vantagem de procurar e comprar apenas o que necessito. Não sou influenciado por ver determinado artigo. Então a ideia passa também por educar as pessoas a comprar o que precisam.
Outra vantagem é saber informações muito concretas e específicas para mim, que é quando alguns artigos estão em promoção. Não preciso de folhetos de 50 páginas para ver um artigo em promoção. Com a plataforma, consigo saber onde é que determinado produto está mais barato e se a promoção é verdadeira.
Atenção, quando digo verdadeira não quer dizer que seja falsa... Às vezes há aquelas promoções de 30% que acredito que sejam boas, mas há lojas sem promoção onde o artigo está mais barato. Queremos dizer às pessoas que o que importa não é a promoção, mas sim o preço final.
Por exemplo, há lojas que fazem o preço final sem IVA e que as pessoas vão a correr, porque é assim que o marketing funciona. Há lojas com o preço normal e que são 10% a 15% mais baratas. Estas lojas vendem porque conseguem convencer as pessoas. Ninguém oferece nada, não há almoços grátis.
Como funciona?
Atualizamos os preços todos os dias, várias vezes ao dia. E isto também é importante, porque as pessoas querem estar atualizadas em relação aos preços praticados, e onde conseguem pagar menos.
Temos ainda outra ferramenta: Troco e pouco. Esta ferramenta funcionou muito bem em 2016 e estamos agora a melhorar o algoritmo. Por exemplo, adiciono arroz, ovos, leite, uma bebida de marca e água. Quando fizer as contas, o sistema vai dizer-me que há produtos da mesma categoria onde é possível poupar. Mas isto é apenas uma sugestão, em que a pessoa pode decidir trocar e poupar algum dinheiro ou manter a sua lista original.
Que outras vantagens tem esta ferramenta?
Permite que as pessoas acompanhem efetivamente os preços em tempo real. E isto depois desencadeia algo que temos visto ao longo dos anos, em que os retalhistas, como estão mais expostos, têm tendência a ter cuidado com os preços.
Por exemplo, vimos o efeito contrário no azeite. Acompanhámos o preço do azeite, e alguém deve ter encontrado ouro, porque os preços triplicaram num ano, e não há justificação para tal. Este é o efeito de mercado, em que uns começaram a subir e os outros acompanharam.
A situação económica atual não está favorável para os consumidores. Esta é uma forma de ajudar os portugueses?
Também, e por isso este foi o bom momento para lançar o Kabaz. A situação está complicada, a inflação está simpática, os créditos e arrendamentos estão puxados e as pessoas têm de fazer escolhas. Se ajudarmos as pessoas a fazer boas escolhas sem sacrificarem o conforto da alimentação, acho que estamos a fazer a nossa parte. Mas este é um trabalho de todos, esta é só uma ferramenta adicional, e as pessoas têm de ter a consciência que a podem utilizar para conseguir poupar.
O próprio Kuanto Kusta demorou muitos anos a ter uma atração muito forte porque as pessoas pensavam que era para os ricos, que eram quem tinha conhecimentos de informática. Hoje não é o caso e a área que mais vende é Saúde e Beleza, que é cinco ou seis vezes superior às restantes em termos de vendas de unidades.
Quais as principais diferenças em relação às ferramentas que já existem no mercado? Quais as principais vantagens?
Estamos sempre atentos ao que os concorrentes fazem, e achámos que faltava mesmo algo no mercado. Quando lançamos um produto temos de ter dois propósitos: resolver um problema e trazer algo de novo. Se já existe alguém que faz tudo, não vamos trazer nada de novo. Não vamos lançar um comparador de hotéis, já existem tanto e tão bons, não vou inventar a roda.
Nas plataformas de supermercados, achámos sempre que podíamos trazer qualquer coisa adicional. Acho que a vantagem é a oferta existente, em que já temos sete supermercados atualizados ao minuto. Temos ainda a grande vantagem de ter um nome no mercado que os retalhistas conhecem, o que nos facilita no processo de trazer supermercados à plataforma.
Algumas ferramentas não existem na concorrência, como o troco e poupo, e acreditamos que será realmente muito útil, e também a capacidade de se fazer um cabaz personalizado à medida de cada um, e ainda a localização, que vai buscar os retalhistas mais perto possível.