A primeira vice-presidente e ministra dos Assuntos Económicos de Espanha, Nadia Calviño, obteve o apoio necessário de 18 Estados-membros (e de um mínimo de 68% do capital) para se tornar a presidente, nos próximos seis anos, do Banco Europeu de Investimentos (BEI), onde vai substituir o atual presidente, Werner Hoyer, já a partir deste mês.
O ministro das Finanças belga, Vincent Van Petehem, que preside ao Conselho de Governadores do BEI e liderou o processo de substituição, confirmou que Nadia Calviño foi aprovada como a próxima presidente do BEI. “Com Nadia, temos uma presidente forte para o BEI”, disse Van Petehem, citado pela comunicação social.
É a primeira vez que Espanha vai liderar o BEI e o chefe do Governo, o socialista Pedro Sánchez, não quis recorrer às segundas linhas para um lugar que pode ter uma importância extrema em termos de recuperação da economia. A Europa está seguramente a viver os últimos meses de uma alta histórica das taxas de juro e quando estas começarem a descer (provavelmente ainda no primeiro semestre) será tempo de ‘dar rédea solta’ aos investimentos. A presença de uma espanhola à frente do BEI não será seguramente um entrave aos investimentos em Espanha, nomeadamente os externos.
Sánchez foi por isso buscar uma ‘peso pesado’ ao seu nem sempre bem provido segmento dos especialistas em economia. Nadia Calviño iniciou a sua carreira em diferentes cargos no Ministério da Economia e em 2006 assumiu um lugar na Comissão Europeia – sempre nessa área específica. Trabalhou em várias direções-gerais e em 2014, foi nomeada diretora-geral do Orçamento, cargo que ocupou até junho de 2018. Foi nessa altura que, pela mão de Pedro Sánchez, assumiu a pasta da Economia e Negócios. Em 2020, foi promovida a vice-primeira-ministra – o que sem qualquer dúvida atesta o apresso com que o líder socialista observou a sua prestação. No executivo mais recente – que resultou das traumáticas eleições de julho passado – a ministra manteve as duas funções mas passou a ser a primeira vice-presidente, o que a colocou no segundo lugar da hierarquia do executivo, logo a seguir a Sánchez.
Sem que se vislumbre qualquer ameaça ao excelente entendimento entre os dois – o que destrói à partida qualquer veleidade de crescimento a uma tese surgida a medo em alguma comunicação social espanhola segundo a qual o chefe do governo estaria a pretender livrar-se de concorrência interno ao escolher a sua vice para a liderança do BEI – Sánchez e Calviño são apontados como a dupla que produziu o ‘milagre’ da geringonça espanhola (juntamente com a ministra do Interior, Yolanda Díaz.
A própria disse, citada pela imprensa, que a sua nomeação confirma o “apreço, respeito e liderança de Espanha na arena internacional que conseguimos com o intenso trabalho dos últimos anos”.
Em Espanha, e como não podia deixar de ser, a escolha de Nadia Calviño para liderar o braço de investimentos da União Europeia abriu dúvidas sobre se o governo de Sánchez, em início de legislatura e num quadro de forte crispação política, aguentaria uma primeira remodelação e logo ao mais alto nível. Foi nesse contexto que Pedro Sánchez se apressou a nomear um substituto.
A escolha recaiu sobre Carlos Cuerpo, um ‘homem da casa’, com um histórico comprovado dentro do próprio Ministério da Economia, e que nos últimos anos conseguiu manter o sucesso na colocação da dívida espanhola graças aos road shows realizados em diferentes países e às relações internacionais que conseguiu tecer. Até agora, Cuerpo ocupou o cargo de secretário de Estado do Tesouro, de onde elaborou uma estratégia bem-sucedida que permitiu reduzir o volume de financiamento líquido da dívida, abrindo espaço a que o executivo não tivesse de desviar-se da trajetória orçamental comprometida com Bruxelas. Um fator-chave, revela a imprensa espanhola especializada, foi o conhecimento e a prudência de Carlos Cuerpo sobre as estimativas de crescimento económico, que permitiram ajustar o nível de emissões de dívida ao longo do ano. Antes de assumir a responsabilidade à frente do Tesouro, Cuerpo geriu as previsões oficiais do Governo em que se basearam o Orçamento Geral do Estado, o Plano Orçamental e o Programa de Estabilidade.
A corrida à liderança do BEI começou em junho passado, embora Nadia Calviño só tenha declarado a sua candidatura em agosto, após as eleições de 23 de julho. Passou de imediato a ocupar um lugar entre os favoritos cargo, em concorrência direta com a ex-vice-presidente da Comissão Europeia Margrethe Vestager – que tinha um perfil mais político. O antigo ministro italiano da Economia Daniele Franco, a atual vice-presidente do BEI, a polaca Teresa Czerwinska, e o antigo ministro das Finanças, Educação e Comércio do governo sueco no início dos anos 2000, Thomas Ostros, também figuravam como candidatos ao lugar.
O antigo secretário de Estado das Finanças português Mourinho Félix, que integrava uma vice-presidência do BEI desde 2020, depois de deixar um governo de António Costa, está de saída da instituição estando previsto o seu regresso ao Banco de Portugal. Segundo a imprensa europeia, Portugal apoio a candidatura de Nadia Calviño.