A equação é simples: os hospitais têm turnos por preencher + os enfermeiros têm furos no calendário e vontade de ganhar um dinheiro extra = Mycareforce. Pelo menos, assim acreditam os cofundadores e CEOs desta startup que se dedica a centralizar os horários dos profissionais de saúde numa plataforma digital – deste há dias, também disponível em app para sistemas iOS e Android.
O negócio consiste em “casar” as vagas das unidades de saúde com as disponibilidades dos recursos humanos que se inscrevem, garantindo que recebem em três dias pelas horas de trabalho. Atualmente, são cerca de 12.500 enfermeiros, mil técnicos auxiliares de saúde e mais de 150 empresas do sector da saúde registadas na Mycareforce. Só no Brasil, onde estão a consolidar a operação, já são dois mil enfermeiros.
Ao Jornal Económico (JE), os cofundadores e co-CEOs revelam que os objetivos a 24 meses passam por abrir a plataforma para outros profissionais de saúde, inclusive médicos, fechar uma ronda de investimento série A e captar mais unidades de saúde além dos cinco hospitais públicos e dos grupos de saúde privados (hospitais, residências sérias, unidades de cuidados continuados) com os quais trabalham à data de hoje, entre os quais José de Mello Saúde, Trofa Saúde, SAMS e Orpea.
A curto prazo preveem-se mexidas no produto e, como tem vindo a ser mencionado pela dupla de empreendedores, o recrutamento para aumentar a equipa de 18 colaboradores. “Estamos à procura de pessoas para a equipa comercial, operações, marketing em Portugal e no Brasil, dois softwares developers, um data scientist e um product manager até ao final do ano”, diz João Hugo Silva.
“Vamos também trabalhar muito na digitalização da integração dos profissionais nas unidades, na simplificação do onboarding. Eles têm de chegar às unidades e saber de antemão quais são as rotinas de trabalho, os softwares utilizados... Há três tipos de integração: a funcional, a digital e a física. Queremos trabalhar principalmente a funcional e a digital para se otimizar o tempo em que um profissional é integrado numa unidade”, acrescenta o co-CEO, encarregue pela operação da tecnológica no Brasil.
Questionados sobre o processo de contratação para uma startup, reconhecem que voltou a ficar complexo. “Está outra vez difícil. As pessoas sabem que agora é muito mais arriscado, principalmente com a quantidade de lay-offs que tem havido a nível mundial nas startups, e voltaram a querer posicionar-se na sua zona de conforto em vez de dar o salto de confiança para uma empresa mais pequena e depois, se calhar daqui a um ano ou dois anos, estar numa situação mais sensível”, comenta João Hugo Silva.
Está outra vez difícil contratar para uma startup, com a quantidade de despedimentos a nível mundial nas startups, as pessoas querem manter-se numa zona de conforto - João Hugo Silva
“É um desafio adicional, porque é preciso um perfil específico, o de alguém disposto a dar o extra mile. É verdade que, por mais que tentemos, por vezes não conseguimos competir com as condições de empresas estabelecidas, mas posicionamo-nos sempre com uma empresa que tem uma missão muito forte. Acho que é algo que joga a nosso favor. Prometemos também crescimento rápido, em termos de ownership, que queremos que tenham”, retorquiu Pedro Cruz Morais, que normalmente dá a cara pela startup em terras lusas.
O que joga a nosso favor é que nos posicionamos sempre como uma empresa com uma missão muito forte, prometemos crescimento rápido e ownership - Pedro Cruz Morais
Por detrás desta expansão está a última ronda de financiamento de 1,2 milhões de euros, que foi anunciada em junho e, poucas semanas depois, teve um reforço de 800 mil euros, atingindo assim os dois milhões de euros.
A lista de investidores é agora composta pela Caixa Capital, Demium Capital, Shilling, Portugal Ventures, business angels como Humberto Aires Pereira (Axel), fundador da Rows, Rui Sousa Marques, CEO da GoContact, João Camarate fundador da mesma empresa, Jorge Machado, diretor geral da sociedade de advogados CCA, e Vasco Lopes da Silva, diretor de Growth da empresa Conexus MedStaff.
O que é que 800 mil euros mudam? “Bastante”, afiança Pedro Cruz Morais. “Muda em termos de contratação da equipa e também em runway [cash runway, o número de meses que a empresa pode continuar a operar antes de ficar sem capital], porque mais tempo de vida, neste contexto [macroeconómico], permite-nos alavancar as nossas métricas para uma próxima ronda. O objetivo é levantar uma série A daqui a uns tempos”, explica ao JE.
“No âmbito desta ronda vamos ainda fazer uma mudança tecnológica, menos visível para o utilizador, que consiste na melhoria da experiência e da rapidez. Queremos melhorar a comunicação que temos com os nossos enfermeiros (feedback, candidaturas que fazem, se foram ou não selecionados, os motivos… ) para otimizar o processo rating e de avaliação”, realça Pedro Cruz Morais.