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Moldes portugueses ainda faturam com a Rússia ao fim de 550 dias de guerra

A Ideal Molde, da região de Leiria, é neste momento a única de Portugal que consta da célebre lista internacional, criada pela Universidade de Yale, com os grupos económicos mais resistentes à saída. Vendas a dois clientes antigos valem cerca de 50% do negócio da empresa.

A invasão da Ucrânia pela Rússia ocorreu há precisamente 550 dias e nesta data ainda há empresas portuguesas que fazem vendas para o mercado russo. A Ideal Molde, da região de Leiria, é neste momento a única de Portugal que consta da célebre lista internacional, criada pela Universidade de Yale, com os grupos económicos mais resistentes à saída – por várias razões.

Olhemos para o caso da Ideal Molde, que no ano passado teve receitas na ordem dos 2,5 milhões de euros e, até 2021, perto de 1,25 milhões de euros vinham da Rússia. O CEO esclareceu ao Jornal Económico (JE) que as exportações são atualmente para dois clientes de moldes de injeção de plástico.

“O produto que nós vendemos não está sancionado pelas autoridades, portanto mantemos. Desde 1984 que estamos a trabalhar com alguns clientes lá. Obviamente, que reduzimos bastante e temos, neste momento, apenas dois clientes, os mais antigos. Os outros fomos deixando”, explicou, ao JE, o CEO da Ideal Molde.

“O volume de negócios com a Rússia depende dos anos. Este ano foi menos do que o normal, mas noutros chegou a representar cerca de 50%. Não percebo bem porque é que desde que começou a questão da guerra continuam a apontar a nossa empresa. Não somos únicos”, ressalva Pedro Cardeira.

A Carmim, do sector dos vinhos, a J. Neves & Filhos, das ferragens, e a Morcapor, ligada ao comércio e indústria de mármores, eram outras das empresas listadas pelo menos até fevereiro deste ano. Neste momento, nenhuma das três se encontra referenciada pela lista citada pelo “Financial Times”. Questionado sobre o assunto, o diretor financeiro da Morcapor responde: “Não fomos nós que fechámos o mercado. Foi o mercado que fechou para nós”.

“Havia dificuldades de logística. Deixámos de conseguir receber encomendas ou mesmo de receber dinheiro. Era um país que estava no nosso Top 5 de exportações. Não sei como é que ainda há empresas que ainda conseguem fazer negócios lá…”, afirmou Jorge Rodrigues ao JE.

Até ao primeiro ano do conflito, a 24 de fevereiro de 2023, a Bosch Termotecnologia (Aveiro) era a maior exportadora lusa para a Rússia, de acordo com os dados do INE. No entanto, essa geografia valia apenas 5% para o seu negócio, o que significa um peso muito inferior quando comparado com os tais 50% da empresa da indústria de moldes mencionada.

Heineken, o mais recente grupo internacional de saída

Na sexta-feira, a cervejeira neerlandesa Heineken completou a saída da Rússia, que representava cerca de 2% das vendas, ao vender todas as suas operações no país ao grupo russo Arnest por um módico valor de um euro. “A venda segue-se à obtenção das autorizações necessárias e completa o processo iniciado pela Heineken em março de 2022 para se retirar da Rússia", esclareceu a empresa, em comunicado público.

A saída - que envolveu uma perda total de 300 milhões de euros, de acordo com as previsões da Heineken - aconteceu duas décadas após a entrada da cervejeira neste país e segue-se ao pedido de falência apresentado pela cadeia de pizzarias Domino's, através da DP Eurasia, que detinha o franchising da marca na Rússia, Turquia, Azerbaijão e Geórgia. No total, foram encerrados mais de 140 restaurantes.