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“Modelo de mobilidade de hoje não é sustentável”, diz secretário de Estado

A quantidade de carros em circulação nas estradas portuguesas é, no entender do governante, uma das questões que levanta mais preocupações para a tutela. "A utilização da viatura individual é excessiva. A média indica que andam 1,2 pessoas por carro. Não pode ser porque não interessa a ninguém. Não interessa ao ambiente, pela poluição que gera", explicou naquele evento cujas intervenções foram frequentemente pausadas pela chegada das sucessivas carruagens na estação da Alameda.

O secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, insistiu que é “urgente e completamente fundamental” uma transformação no modo como as pessoas se deslocam nas cidades e, em entrevista ao Jornal Económico, deixou uma apologia dos transportes públicos.  

As declarações foram proferidas à margem da apresentação do projeto de tecnologia contactless do Metropolitano de Lisboa em parceria com a Visa, Indra, Cybersource, Littlepay e Unicre, que decorreu na quarta-feira em plena estação de metro. 

“O modelo de mobilidade de hoje não é sustentável”, insiste, referindo-se a um modelo de deslocação que, não obstante a preferência cada vez maior por modos de transporte mais amigos do ambiente, ainda não sofreu a transição necessária.   

A quantidade de carros em circulação nas estradas portuguesas é, no entender do governante, uma das questões que levanta mais preocupações para a tutela. "A utilização da viatura individual é excessiva. A média indica que andam 1,2 pessoas por carro. Não pode ser porque não interessa a ninguém. Não interessa ao ambiente, pela poluição que gera", explicou naquele evento cujas intervenções foram frequentemente pausadas pela chegada das sucessivas carruagens na estação de metro da Alameda. 

A troca pela frota elétrica não é, nas palavras do secretário de Estado, a solução desejável. "Mas mesmo que fossem elétricos, não interessa também, porque do ponto de vista económico é ineficiente. Andar com um veículo que consome tanta energia, só uma pessoa lá dentro, não faz sentido. O tempo que se perde nas filas, por trás tem um valor económico muito grande e, portanto, também não faz sentido", continuou. 

"Um sistema que seja fiável, regular, que tenha uma oferta que responda à necessidade das pessoas", descreve Jorge Delgado, apontando para o transporte público como a alternativa, "a espinha dorsal" dessa mudança.

"Desde 2016 para cá, tivemos muitos anos sem investimentos", afirma, apontando o investimento nas redes que tem vindo a ser feito depois de um período estagnado.

"Estamos a fechar as obras da linha amarela (linha circular), estamos com a linha rubi já a concurso...", recordou insistindo na fórmula "melhor rede, mais oferta", sem descurar os preços. "A redução dos preços. Hoje circula-se em qualquer meio de transporte de Lisboa por 30 euros por mês. Para uma família, pode ser por 80 euros. A fatura do preço dos transportes públicos já não é assim tão grande. Se não tivermos um bom preço nem oferta, as pessoas não vão aderir. E depois é a facilidade de utilização. Precisamos de ter sistemas que sejam simples de utilizar, que tenham informação fácil para o público. Isto faz toda a diferença no sentido de captar mais pessoas para o sistema e de retirar mais utilização de carro individual à superfície", analisou. 

Questionado sobre o Cartão de Mobilidade para trabalhadores, que visa facilitar o uso de transporte sustentável e que concede benefícios fiscais às empresas que aderirem ao mesmo, Jorge Delgado esclarece que, apesar não ainda não ter novas informações para fornecer, está agendada uma reunião para o próximo mês entre as pastas transversais ao projeto.

"Temos um desenho de uma proposta, que trabalhámos internamente no Ministério do Ambiente, temos de articular isto com os nossos colegas do Governo que têm de alguma maneira interferência na nova proposta. Temos uma reunião já agendada, penso eu, para julho, para termos esse primeiro debate com os nossos colegas", esclareceu. 

O antigo presidente executivo do Metro do Porto explica que o “cartão permite ter um porta-moedas no bolso com um volume de dinheiro para ser usado em mobilidade. Seja para compra de um passe de transporte público, no aluguer de uma bicicleta, táxi (que está categorizado como transporte público). Queremos que seja uma medida que permita, por exemplo, um quadro de uma empresa que normalmente recebe valor para um renting de carro para o seu serviço, possa trocar esse valor por um valor para andar nos meios de transporte que quiser". 

Por fim, convidado a comentar o alinhamento nas metas e objetivos de sustentabilidade entre a tutela da ação climática e a Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Delgado não hesita na resposta: "Sim, completamente. Estamos a fazer, em conjunto, um trabalho com todas as obras do metro, que são devidamente articuladas com a Câmara de Lisboa". Quanto às decisões sobre a gestão dos espaços públicos, nomeadamente no que diz respeito às opções tomadas sobre a manutenção de ciclovias em Lisboa, o secretário de Estado afirma que o Governo "confia plenamente na boa gestão dos municípios".